Ontem (11/05/2020) aconteceu o terceiro Halving do Bitcoin, ou seja, fez-se cumprir a política de emissão de novas moedas estabelecida pelo protocolo do Bitcoin, determinado desde sua gênese.

Como melhor explicado nesse texto aqui, específico sobre o Halving, uma certa quantidade de Bitcoin é emitida a aproximadamente cada 10 minutos, e essa quantidade cai pela metade a cada 4 anos. Ontem foi o dia de cair de 12,50 para 6,25 BTC a cada bloco minerado.

O texto de hoje é sobre os pontos curiosos da política de emissão de novos Bitcoin.

Pela primeira vez na história a inflação anual do Bitcoin será menor que a inflação do ouro e muito próxima da inflação desejada (meta) dos Bancos Centrais de países desenvolvidos.

A mineração de Bitcoin é uma atividade que consome muitos recursos financeiros, e os mineradores precisam colocar no mercado (vender) seus Bitcoin minerados para pagar pelos seus custos de energia, pessoal, novos equipamentos e etc. Depois do Halving, a quantidade de Bitcoin que estará chegando ao mercado cai pela metade, de efeito prático, cada Halving reduz o impacto dos mineradores sobre a indústria como um todo.

Muito mineradores serão obrigados a fechar as portas caso os preços da Criptomoeda não subam de modo a compensar uma queda de 50% na produção de novos BTC. Isso não quer dizer em absoluto que o preço do Bitcoin vai dobrar, isso apenas quer dizer que os negócios na indústria da mineração ficaram muito mais difíceis e vencerão aqueles com menor custo de energia e maior eficiência (Darwin trabalhando é lindo!).

Em contra partida, menos emissão de Bitcoin significa redução de oferta. Caso a busca pela Criptomoeda se mantenha ou suba é de se esperar que isso seja refletido nos preços. É a famosa curva de oferta e demanda.

Curiosamente, por força de um tremendo acaso, o terceiro Halving do Bitcoin acontece justo no meio da maior expansão monetária desde o final da Segunda Guerra Mundial, em que o governo dos Estados Unidos expandiu a oferta de dinheiro na base monetária em 18% em meros 45 dias, Banco Central Europeu segue o mesmo caminho e até o Brasil discute fazer QE (quantitative easing).

Nunca o discurso do Bitcoin e o dinheiro fiduciário estiveram em posições tão opostas. Um anda ao sabor dos burocratas, tentam proteger os amigos do rei em um capitalismo distorcido em que 1% dos mais ricos possui 40% das ações listadas em bolsa e governos atuam despudoradamente para proteger essa condição. O outro tem uma regra clara e definida, previsibilidade e certeza quanto à expansão, inflação e distribuição de moedas.

Mais curioso ainda é que aquele que possui uma regra certa, clara e definida é tido pela sociedade como um grande risco, e aquele que tem a regra alterada ao sabor do lobby dos endinheirados é considerado um porto seguro.

Enfim, o fato é que desde ontem, pelos próximos 4 anos, chegará ao mercado 50% menos mercadoria do que chegaram nos últimos 4 anos.

Não existe garantia que a demanda pelo produto escasso será crescente, mas em um mundo de juros negativos, fundos de pensão deficitários e Bancos Centrais emitindo dinheiro descontroladamente existem mais motivos para acreditar num aumento exponencial da busca pelos Criptoativos do que para achar que eles vão desaparecer da face da terra.

Bancos Centrais e governos estão fazendo a parte deles, e fazem o melhor departamento de marketing que Satoshi Nakamoto poderia contratar. Agora, resta você fazer a sua parte ou lhe sobrará, de novo, chamar de “sorte”, “bolha” e se lamentar que “não deu tempo” de embarcar nessa. A janela de oportunidade está aberta, escancarada na sua frente e não vai durar para sempre.