fbpx
Voltar
Blog da HashInvest

Por que as Criptomoedas estão caindo? – Entenda os motivos do crash do mercado

Postado em 06/07/2022

Nome do Autor luis

Nas últimas semanas o conto de fadas virou uma história de horror, o mercado derreteu e os corpos começaram a boiar.

Nessa altura do campeonato já podemos compreender um pouco da mecânica do atual derretimento e o objetivo do texto de hoje é tentar simplificar o entendimento para o leitor que não está dentro do mercado.

Como diz o ditado, é necessário ter cuidado com os nossos desejos. Um desejo muito presente dos últimos anos era a migração das práticas das financeiras tradicionais para dentro do mundo das Criptomoedas, e basicamente, estamos colhendo os frutos da materialização desse desejo.

Se por um lado o mercado sendo livre, 24 horas e majoritariamente sem regulação é um atrativo, por outro ele atrai pessoas indesejadas… Some amadorismo, picaretagem e ganância e está criado o contexto do atual crash.

A rentabilização das Criptomoedas

De três anos para cá um mundo de possibilidades para gerar juros sobre Criptomoedas surgiu. Desde o Staking (participação na validação de blocos com a tecnologia PoS), passando pelos revolucionários protocolos de DeFi e seus contratos inteligentes e o chamado CeFi (Centralized Finance) com agentes buscando trabalhar a rentabilização de Criptomoedas de seus clientes (no caso a HashInvest se enquadra aqui) utilizando-se das duas primeiras opções e também práticas do mercado financeiro tradicional.

Todas as modalidades de gerar rendimentos em cima das Criptomoedas tem seus pontos positivos e negativos. No lado positivo temos a geração de valor a partir de ativos que geralmente ficaram parados, aumentando a atratividade e o interesse dos investidores.

No lado negativo temos contratos inteligentes mal escritos por programadores ruins e sem auditoria de código, temos staking sem liquidez e criação de tokens, NFTs e criptomoedas a partir do completo nada com valores artificiais.

O fim da festa

Desde novembro de 2021 estamos morro abaixo. Até aí, natural do mercado de Criptomoedas, que é cíclico e todo mundo que trabalha aqui deveria saber disso, mas temos um pequeno problema…

O pequeno problema é que as empresas de CeFi somente mapearam o mercado morro acima, que a coisa somente iria crescer e que nunca voltaríamos atrás.

Todo mundo tem um plano, até a realidade te dar um soco na cara… E quando a maré baixa, fica evidente quem está nadando pelado.

O que estamos presenciando é uma crise de liquidez sem precedentes no mercado das Criptomoedas. A financeirização do mercado travestida de profissionalização construiu um grande castelo de cartas.

O componente amadorismo pode ser observado em equipes sem experiência em gerenciamento de riscos, análise de crédito e mapeamento de cenários, pois basicamente, presumiu-se que o mercado subiria para sempre.

O fator picaretagem reside em operações opacas, pouco transparentes com pouca ou nenhuma auditoria e na prática de parecer lucrativa (ao invés de ser lucrativo).

A boa e velha ganância é a ponta do cliente. Pessoas caindo na velha lorota de promessa de rendimentos (lembre-se que a exceção de renda fixa, simplesmente NÃO EXISTE COMO PROMETER RENDIMENTO)… Mas basta meia dúzia de influencers em redes sociais e figurões milionários endossando práticas impossíveis para que elas seja engolidas como possíveis. A boa e velha… Ganância imbecil.

O colapso da Luna

O colapso da Criptomoeda Luna foi o gatilho que transformou um mercado morro abaixo numa tragédia. Foram evaporados mais de 60 Bilhões (aproximadamente uma Vale do Rio Doce inteira) em 5 dias.

Tentando resumir em poucos parágrafos (esse texto não é sobre a Luna, mas sim sobre o mercado em geral), a ideia da Luna era ser contraparte de uma moeda estável pareada em Dólar chamada UST. Basicamente, a emissão de Luna/UST era controlada por um algoritmo, que monitorava o valor de mercado da Luna objetivando manter estável em 1 USD o valor da moeda UST.

Tudo ia bem quando o mercado era morro acima. Luna valorizava, mais UST poderia ser emitido para um mesmo volume de Luna e o mercado era relativamente estável. Sobrou até dinheiro para a fundação por trás da Luna comprar mais de 80 mil Bitcoin para servir de lastro adicional ao UST.

A ideia de uma stablecoin algorítmica não é ruim, a ideia de criar uma moeda do nada para servir de reserva é que, em perspectiva, parece estar no núcleo do erro. Eles mesmos pareciam saber disso quando começaram a comprar BTC para fortalecer a base.

Tudo isso operando em um blockchain proprietário e remunerando até 10% ao ano para quem mantinha grandes quantidade de Luna e UST nas plataformas de DeFi associadas a ela.

Eis que… O mercado virou. Em uma crise de confiança, uma corrida para resgate de UST fez com que o algoritmo de emissão de Luna fosse obrigado a criar novos LUNA para manter o valor do UST, diluindo o valor da LUNA, causando mais pânico no mercado…

Terminamos essa história com TRILHÕES  de novos Luna emitidos, UST valendo centavos. O LUNA colapsando de mais de USD 100 em seus dias de glória para frações de centavos e mais de USD 1 Bilhão de Bitcoin vendidos a mercado, iniciando o colapso do mercado.

Empréstimos calçados em Criptomoedas

O modelo de negócio inicial era bastante seguro. O mercado somente vai para cima. Eu tenho Bitcoin e preciso de dólares, mas como o mercado só sobe, por óbvio eu não quero vender meu Bitcoin.

Eis que surgem as startups de empréstimo sobrecolateralizado.  Você coloca um Bitcoin lá, eu te empresto, por exemplo, meio Bitcoin em dólares equivalente para você fazer o que quiser. Você me repaga mensalmente a juros atrativos e todo mundo ganha.

Se o mercado caiu, eu te peço BTC adicional ou liquido sua posição a mercado. Tudo bem?

Tudo bem até que a ganância fala mais alto… Porque diabos eu vou deixar o seu Bitcoin parado? Eu vou é rentabilizar os seus BTC… Ao invés de deixar a reserva do cliente parada, eu vou na empresa do vizinho com o seu BTC, pego USD equivalente e travo ele num protocolo DeFi para ganhar dinheiro… Por exemplo… Num tal de Luna, ganhando 10% a.a. em cima da stable UST.

Parece muito inteligente, eu estou ganhando os juros do cliente que não queria vender os seus BTC e estou ganhando juros com a sua margem depositada. Juros sobre o dinheiro alheio, lindo…  Genial, se o mercado fosse apenas para cima.

O mercado ficou complexo. As opções de rentabilização são tantas e tão extensas que o meu exemplo com Bitcoin e USD é apenas lúdico para o seu entendimento.

Se no início de 2020 era fácil conseguir 10% ou 15% ao ano ao final de 2021 essa era uma tarefa que exigia operações muito complexas e criativas, principalmente na captação de reservas.

As plataformas estavam prometendo rentabilizar qualquer coisa desde que você passasse a custódia de suas moedas para lá. Em teoria o seu dinheiro seria emprestado para clientes que não queriam vender outros ativos com garantias sobrando, mas na prática…

Boa parte do dinheiro dos clientes foi emprestada para investidores de risco financiarem empresas de joguinhos de NFT, boa parte foi parar no staking de Ethereum 2.0 que só terá liquidez quando e se o Ethereum migrar para o 2.0, boa parte estava em… Luna.

Em resumo, é como se a aqui na HashInvest ao invés de deixar o seu dinheiro em cold-wallets devidamente auditadas ou em contratos líquidos e não custodiantes (como é o caso do Hash5-Defi) eu usasse o seu dinheiro para investir no mercado com a certeza de que você não sacaria.

Tudo lindo e maravilhoso, num mercado que só vai para cima.

O Colapso do mercado de Criptomoedas em cascata

Com o grande dano causado ao mercado pela grande liquidação de BTCs do LUNA, todos os Criptoativos derreteram em valor. O que acontece quando o mercado cai abaixo de determinados níveis?

Via de regra as pessoas não querem ser liquidadas pelas plataformas, elas querem as suas moedas de volta, principalmente aquele que deixou seus ativos lá para serem emprestados a troca de juros.

O que aconteceu? Esses ativos foram perdidos ou estão presos em protocolos ilíquidos.

Grandes players do mercado com a Celsius, que prometia rentabilizar qualquer coisa que você deixasse com eles suspendeu os saques. São mais de USD 11 Bi de dinheiro de cliente que a Celcius congelou.

Antes de tomar essa atitude, ela queimou no mercado o que tinha de liquido nas mãos, sobrando somente ativos ilíquidos…

Rumores dizem que a BlockFi segue o mesmo caminho, que a empresa que remunerava até 5% a.a. em BTC emprestou esses BTC de clientes para a 3AC, que é um fundo que investia em Startups-promissoras do mercado, entre eles o de NFTs, que colapsou retumbantemente.

A 3AC teve chamadas de margem, não honrou os depósitos e teve posições milionárias liquidadas no mercado. Diz-se por aí que a 3AC não tem BTC para devolver para a BlockFi que não tem BTC para devolver para quem pedir saques.

A Celsius está desesperada atrás de margem para que seu mais conhecido contrato (um dos poucos públicos) não seja liquidado a mercado, vendendo mais de 50 mil BTC caso isso ocorra. A suspensão de saques foi uma medida para evitar chegar a esse ponto.

É um efeito em cascata. Hoje, enquanto escrevo esse texto, a Babel Finance com sede em Hong Kong também suspendeu saques, motivos? Sem liquidez para honrar os saques. O dinheiro dos clientes está enfiado sabe Deus onde, se é que ainda existe.

É um efeito cascata de chamada de margem e cima de chamada de margem e honestamente, ninguém sabe dizer onde vai parar.

Ninguém viu?

É igual o mercado convencional. Todo mundo vê, mas enquanto todo mundo ganha dinheiro, todo mundo acha até bonito.

Otário somos nós que sentamos em cima do dinheiro do cliente. Posso até ser otário, mas durmo tranquilo sabendo que tenho 100% de reservas auditadas aqui comigo.

Os autodenominados maximalistas de Bitcoin são tão fechados dentro de sua ideologia que não foram capazes de entender que fatores externos poderiam (e de fato causaram) danos ao mercado. É como aquele petista que só se informa lendo a Carta-Capital o mínion que se informa através o jornal da Record. Quem só lê o que está alinhado com sua fé está condenado a ser uma pessoa alienada, não foram capazes de entender o que estava em volta, ficam apenas papagaiando para “ficarem longe de shitcoins” quando o problema real não tem nada a ver com shitcoins, mas com a financeirização do mercado.

O que vai acontecer com as Criptomoedas?

Certamente quem sobreviver no mercado ficará mais forte. O gerenciamento de risco do dinheiro de terceiros certamente será levado mais a sério e menos picaretas gananciosos estarão com tantos holofotes.

A gestão de dinheiro será fortalecida por gestores profissionais e promessas irreais de lucros fáceis irão atrais menos gente, porque você pode ter perdido com a desvalorização das moedas, mas quem colocou a reserva da vida em Celsius provavelmente não vai ver nada de volta.

Olhe a volatidade de preços de curto prazo como as folhas da árvore do Bitcoin. Um inverno é capaz de amarelar suas folhas e fazê-las cair, mas sua raiz está firme, sólida e crescendo. Seu caule é robusto forte e vistoso.

Basta esperar a primavera chegar.

Veja outros artigos

Blockchain como Infraestrutura o Mercado de Capitais

Blockchain como Infraestrutura o Mercado de C

A maneira como os blockchains e as criptomoedas são percebidos pelos gestores financeiros está evoluindo rapidamente.  Este ramo, que até pouco tempo era renegado e ligado fortemente a hackers e fraudes, teve uma mudança de perspectiva importante no começo deste ano com o lançamento dos ETFs na bolsa americana e, mesmo com esse grande avanço, muito mais está por vir.

Em março a Black Rock, maior gestora de ativos do planeta, lançou o BUILD (BlackRock USD Institutional Digital Liquidity Fund), o seu primeiro fundo tokenizado.

Um token é um “certificado de propriedade” que representa ativos do mundo real (como imóveis, ações, títulos ou commodities) em um blockchain. Ou seja, a infraestrutura de redes como Bitcoin, Ethereum e Solana é usada para representar coisas/estruturas que vão além de moedas.

Em um fundo tokenizado, como o BUILD da Black Rock, a gestora utiliza tokens para representar os ativos do fundo, neste caso específico, Títulos do Tesouro Americano e Dólares Americanos.

O que deixa esta história interessante, é que a Black Rock não é a única interessada em tokenização, notando-se movimentos similares em diversos setores.

Por exemplo, o Tether Limited Inc., empresa que emite a moeda com preço atrelada ao Dólar, lançou recentemente o Tether Gold. Neste caso, cada token emitido representa uma quantidade de ouro armazenada em bancos da Suíça.

A Consultoria McKinsey projeta em seu cenário base que o mercado de ativos tokenizados atingirá um tamanho de quase USD $2 trilhões até 2030.

Dentre as vantagens que levam a esse interesse na tokenização, podemos citar liquidações instantâneas 24/7, maior transparência e eficiência, aliada a redução no custo. Para quem opera cripto, nada demais, mas para o mercado financeiro tradicional, isto traz oportunidades significativas.

Em resumo, a gestão de ativos cripto pode evoluir do simples acúmulo de criptomoedas para a criação de produtos multi-ativos com sua gestão e distribuição ocorrendo através dos blockchains. Blockchains estes que até pouco tempo, eram coisa de bandido.

30 ANOS DO PLANO REAL

30 ANOS DO PLANO REAL

Em 01/07/2024 o Real completará 30 anos de circulação. Na verdade, o plano real, pois tudo começou através de medidas provisórias na qual a moeda era chama de URV, posteriormente convertido para o Real na cotação de 1 para 1.

Temos motivos para celebrar ou não? Aprendemos algo com o passado?

Ao final do regime militar no Brasil e período de redemocratização (na medida do possível em uma frágil democracia, mas ao menos o fim de uma ditadura escancarada) o país passou por diversas crises econômicas desencadeando o pior dos impostos de maneira exacerbada: inflação (no caso hiperinflação). Os governos sempre tiveram o hábito de exaltarem seu governo e culparem algo externo a eles na totalidade. Parece que alguns hábitos nunca se perdem…

A inflação ao final dos anos 1980 e início dos anos 1990 vinha escalonando de forma abrupta e a cada plano que tentava controlar artificialmente a inflação ela voltava com ainda mais intensidade. Logo antes do plano real o Brasil chegou a bater um IPCA (oficial) de 2.500% ao ano. Os mais antigos devem se lembrar de coisas como overnight, remarcação de preços no supermercado diversas vezes ao dia (existia uma profissão que era etiquetador de preços) e a corrida ao supermercado nos dias de pagamento.

Vamos voltar um pouquinho mais…

Durante o governo Sarney foram 3 as tentativas de conter a inflação. Em 1986 foi a vez do plano cruzado, onde a moeda sofreu um corte de 3 zeros e houve congelamento de preços e da taxa de câmbio oficial. Em 1987 foi a vez do Plano Bresser que tentou a já ineficaz estratégia de congelamento de preços. Em 1989 como última cartada do governo Sarney tivemos o Plano Verão em 1989 com um novo corte de 3 zeros na moeda renomeando a moeda para Cruzado Novo, e novos congelamentos de preços e taxas de câmbio.

Já no governo Collor, em 1990 foi o Plano Collor 1 que ficou famoso pelo confisco da poupança popular e criação de novos impostos como o IOF (imposto sobre operações financeiras). Em 1992 veio o Plano Collor 2 com novos congelamentos de preços e agora também o congelamento de salários. E já não bastasse o confisco do plano anterior na poupança popular, a equipe econômica decidiu proibir os depósitos overnight.

Uma coisa comum a todos esses planos foi uma queda artificial (e muito dolorosa para a população) com um repique muito mais acentuado da inflação na sequência.

Em 1994, durante o Governo Itamar Franco, foi implantado o Plano Real. Primeiramente com a URV (CR$2.750 = US$ 1,00 = R$ 1,00). O início da circulação da URV (posteriormente batizada de real) foi em 01/07/1994. O plano real teve suas crises, mas é fato que devolveu a estabilidade mantendo a inflação oficial em patamares inferiores a dois dígitos anuais. Em retrospectiva foi um sucesso!

E agora, 30 anos depois?

Um pequeno exercício da um pouquinho da dimensão do que é a inflação. Nesses trinta anos de “estabilidade”, o não tão poderoso real também perdeu seu poder de compra, às vezes mais rápido, às vezes mais devagar. R$1,00 em 1994 podia comprar uma série de coisas… em 2024 a cédula de R$1,00 não existe mais!

Em 1994 um pãozinho de sal custava R$0,10. Hoje é difícil comprar um pãozinho por menos de R$1,00. Um litro de gasolina custava R$0,55 em 1994 e hoje é difícil abastecer por menos de R$5,50 o litro. E isso vale pro leite, pro ovo e pra banana também…

Um ponto importante e que não pode ser esquecido, é que o descontrole para o monstro da inflação pode ser fatal. É fácil voltarmos ao período de hiperinflação, mas é cada vez mais difícil sairmos dele (olhe nossos vizinhos Hermanos) uma vez que o nosso sistema e ferramentas tradicionais estão desgastadas e perto de um colapso (crescimento da dívida, aumento de carga tributária, PIB praticamente estagnado por décadas e irresponsabilidade fiscal). Ninguém torce por isso, mas sempre que palavras como intervenção, confisco, congelamento voltam a circular o medo do monstro da hiperinflação volta a rondar.

Qual ativo hoje existente e acessível, que não existia em 1994, é imune em seus fundamentos às palavras (confisco, intervenção etc.) e ações de governos que podem acordar o monstro da hiperinflação?

Uma dica: Não é o Bitcoin do banco Itaú!

10 anos de minha primeira iniciativa com Bitcoin

10 anos de minha primeira iniciativa com Bitc

Essa semana me dei conta que em julho faz 10 anos de minha primeira iniciativa para que amigos próximos entendessem e entrassem no Bitcoin, e desde então venho fracassando consistentemente nessa missão.

O ano era 2014 e eu estava apaixonado pela moedinha laranja. Era o chato do Bitcoin, só via Bitcoin, tudo era Bitcoin. Havia recém voltado de Amsterdam de minha primeira conferência de Bitcoin.

Na ocasião, meu sócio que se senta a minha frente foi persuadido a programar um bolão da copa do mundo em Bitcoin, na qual as apostas para participar e os prêmios eram em Bitcoin.

O bolão em si era o de menos, a tentativa era ser lúdico e mostrar o futuro às pessoas queridas, que através de um uso prático, criassem carteiras, transacionassem, enfim, uma brincadeira para quebrar a barreira inicial.

Deu errado.

– “Muito complicado”

– “Faz pra mim, depois te pago”

-“Legal, mas não tenho tempo”

-“Você é maluco”

-“Você precisa arrumar um emprego”

O preço na ocasião? Na casa dos USD 300 (Trezentos dólares), morro abaixo, logo depois de ter ultrapassados os USD 1.000 pela primeira vez durante o stress bancário na Grécia.

Deveria ter parado por aí, mas não… Vem o ano de 2017, lá por julho, e a ideia de montar a HashInvest. Se lá em 2014 a turma ignorou e não veio, então, vamos criar uma ferramenta que permita as pessoas a embarcarem sem sofrer, com baixíssima complexidade, e então começamos.

 Abrimos as portas em novembro e logo em seguida o Bitcoin ultrapassa a marca de USD 10 mil pela primeira vez na história.

Dessa vez logrei algum êxito e o sucesso foi ligeiramente maior que no bolão de 2014. Empolgados pela euforia do mercado e com o noticiário naquele ano, dessa vez alguns bem-sucedidos amigos próximos finalmente entraram no Bitcoin.

Qual era a minha esperança? Que começassem a ler os conteúdos por aqui e que começassem a voar por conta própria. Não foi o que aconteceu.

A única recomendação que dou explicitamente é a de fazer preço médio, o que que ninguém faz é o preço médio. A turma comprou em 2017 e a grande maioria simplesmente deixou lá, sem novos aportes, sem estudar por conta própria e ficaram demasiados insatisfeitos quando o pico de USD 20 mil derreteu pelos anos a seguir, e o pior, agora a culpa era minha.

Em 2019 e 2020 resolvemos que era hora de fazer marketing digital. Investimos em Instagram, conteúdo, linkedin, podcast e os cambau…

Nada efetivo, pouco resultado. Acabou que nos dias atuais temos o mínimo, mas bem diferente do que já foi no passado. As pessoas simplesmente não vieram, logo, vamos ficar por aqui somente para reafirmar que estamos por aqui e estamos vivos.

O preço na época era em torno dos USD 6 mil dólares por Bitcoin, com direito a uma excursão na casa dos USD 3 mil alto no fatídico Corona Day.

Veio mais um bull market, dessa vez em 2021. Vimos o Bitcoin saltar para USD 69 mil dólares e quando a farra se aproximava do fim é que os clientes começaram a chegar…

A gente fala que bitcoin se compra todo dia, no preço médio, mas a pessoa quer comprar depois que a euforia tomou conta da internet… Caímos para a casa dos USD 15 mil e por lá ficamos até meados de 2023.

Com a chegada dos ETFs e dos institucionais, o Bitcoin começou a tracionar mais uma vez um novo All time High na casa de USD 73 mil foi visto há poucos meses nesse ano de 2024, mas diferentemente dos outros Bull Markets, dessa vez o varejo não veio, pelo contrário, quem levou prejuízo entrando no topo de 2021 acabou por “aproveitar a chance” e ir embora de vez.

Hoje, especificamente dia 24 de junho de 2024 enquanto eu escrevo esse texto o Bitcoin “derrete e agoniza” em USD 60 mil.

Dos tais amigos próximos, ainda sou taxado de louco. Recorrentemente o que escuto é que

-“Você teve sorte”

-“Deveria ter te escutado lá atrás, mas hoje está muito caro”.

-“Você ainda tá naquele negócio de Bitcoin?”

-“Ainda tenho aquela grana lá de 2017, ta bom né… Qualquer dia ponho um gole a mais”

Hoje ainda sou o chato do Bitcoin, mas diferentemente do passado, somente quando sou perguntado. Quando não questionado, converso de cervejas, de viagens, do clima, de amenidades em geral, mas só falo de Bitcoin com quem me pergunta.

Mesmo quem me pergunta se recusa a aceitar a realidade. Por mais dados que sejam entregues, demonstrados, a alocação de recursos vai majoritariamente… Para a renda fixa em Reais. É ultrajante e embaraçosa a sensação de incompetência que me acomete.

Vejam os marcos de preço desse texto…

USD 1000, USD 300, USD 10.000, USD 20.000, USD 6.000, USD 3.000, USD 69.000, USD 15.000, USD 73.000, USD 60.000…

Quando estava em USD 1 mil, estava caro demais, e quando estava em USD 300, ainda bem que não entrei nessa fria.

Quando estava em USD 69 mil, estava caro demais, e quando estava em USD 15 mil, ainda bem que não entrei nessa fria.

Quando estava em USD 73 mil estava caro demais…

Todos os anos escrevo ao menos uma newsletter com cálculos detalhados de preço médio, geralmente com aporte mensal e começando em épocas muito ruins (primeiro aporte num all time high por exemplo) e todos os anos demonstro com dados que se você fizer DCA de modo disciplinado a sua probabilidade de multiplicar o patrimônio é significativamente alta e seu risco é relativamente baixo. Fazendo isso você bate TODOS os CDBs, CDIs, Tesouros e índices de bolsa que pode encontrar por aí.

No fim do dia… São 5 os clientes que praticam o preço médio…

Quanto a mim? Começando a pensar com mais carinho na ideia de aposentadoria.  A Hashinvest não é exatamente uma necessidade nessa altura da vida, afinal, dizem por aí que “dei sorte!”.

Gostaria de ter convertido muito mais gente do que de fato converti e passados 10 anos, sinto que está se aproximando a hora de admitir que é bastante provável que eu não seja a pessoa certa para esse trabalho.