2020 foi um excelente ano para as Criptomoedas. Vemos o crescente interesse de grandes empresas, a explosão das Finanças Descentralizadas (DeFis) e um aumento significativo nos preços dos ativos (Bitcoin, por exemplo, valorizando 270%). Outro fenômeno que vai marcar este ano, mesmo que ainda não tão difundido, são as moedas digitais emitidas por bancos centrais ou CBDCs (Central Bank Digital Currencies).
Quais países estão estudando as moedas digitais (CBDC)?
Estranho pensar que até poucos anos atrás este era um assunto quase proibido, afinal as Criptomoedas eram inimigas e serviam só para lavagem de dinheiro. Mesmo assim as CBDCs já começavam a aparecer em alguns países de menor expressão na economia global, como Senegal, Venezuela e Equador.
A história começou a mudar quando a China anunciou o projeto para o Yuan digital há poucos anos. Hoje, o país asiático é a potência com o projeto de CBDC mais avançado e já faz testes com uso real de sua moeda digital. Estes testes estão acontecendo na região de Shenzen, com o governo fortemente incentivando uso e chegando até mesmo a distribuir os Yuans digitais.
Paralelamente, a União Europeia anunciou recentemente um grupo de trabalho para analisar a emissão do Euro Digital. Nos Estados Unidos, o Dólar Digital já é assunto de discussão no Congresso.
O que fez os governos mudarem tão rápido de opinião e abraçarem a ideia da moeda digital que até então desprezavam?
Um relatório emitido pelo Banco Central Europeu e o artigo “Central bank digital currencies: foundational principles and core features”, emitido em conjunto por 6 Bancos Centrais, dão algumas dicas do que está por trás destes projetos.
Primeiro, fica claro que esta rápida mudança de opinião não foi gratuita. Ambos os documentos indicam que o COVID-19 teve um papel fundamental neste processo. Seja pelo aumento do e-commerce ou simplesmente pelo fato das pessoas estarem evitando dinheiro físico, o número de transações financeiras digitais disparou até mesmo países que historicamente preferiam cash, como a Alemanha.
Junto desta diminuição no uso de dinheiro físico, veio o aumento das alternativas às moedas nacionais, seja na forma de Criptomoedas (Bitcoin, Ether), seja no interesse de empresas em emitir moedas privadas (como o Facebook e sua Libra), ou mesmo na forma das stable coins.
Ponto é, mesmo que ainda meio distante, já é possível imaginar a perda de controle dos governos sobre o dinheiro em circulação e, consequentemente, enfraquecimento das políticas monetárias.
Por exemplo, a tradicional injeção de dinheiro como forma de sustentar o crescimento econômico pode ficar limitada caso a população utilize uma moeda que o governo não controla diretamente.
Outro ponto interessante destacar, é que estes documentos também frisam a ameaça que alternativas (leia se aqui Criptomoedas) representam para o sistema financeiro atual. Este medo vem da possibilidade de as pessoas não precisarem mais de intermediários para a guarda e transferência de recursos, ou seja, ninguém precisaria mais depositar seu dinheiro nos bancos. O possível efeito disso seria uma crise de liquidez, afinal um banco só pode emprestar uma porcentagem do que tem depositado.
Por tudo isso, para os governos, os CBDCs são vistos como uma tentativa de manter o controle sobre as inevitáveis mudanças nos sistemas financeiro e monetário, o que podemos traduzir como mudar para deixar tudo igual como é hoje. Isto pode afetar Criptomoedas que tenham como objetivo substituir o dinheiro no dia a dia ou mesmo as stable coins, que perderiam sua função.
No entanto, para projetos como Bitcoin, que justamente tem seu valor na independência de governos e na liberdade do indivíduo, os CBDCs passam longe de serem concorrência.