Voltar
Blog da HashInvest

Quanto Bitcoin é comprado e vendido todos os dias?

Postado em 17/06/2019

Nome do Autor luis

Na Newsletter passada comentamos na área de notícias que a BitWise (gestora de investimentos em Criptomoedas americana) apresentou à SEC (Equivalente ao que é a nossa CVM – Comissão de Valores Mobiliários) um relatório detalhado no qual ela explica que aproximadamente 95% do volume reportado de negociação em Criptoativos é fraudulento, e que no final do dia, essa descoberta é uma coisa boa.

Um de nossos primeiros clientes aqui na HashInvest (e consequentemente um bom amigo) ficou intrigado com essa questão e pediu para detalhar essa história. Além de atender ao pedido, a apresentação da BitWise é tão rica que vale a pena um artigo sobre esse tema.

O tal ETF de Bitcoin

Para contextualizar, já fazem pouco mais de 2 anos que muitos agentes do mercado americano (gestoras de recursos, assim como a HashInvest) estão buscando viabilizar um ETF de Bitcoin. Um ETF (Exchange Traded Fund) vem a ser um fundo de investimento negociado em Bolsa de Valores.

Um ETF de Bitcoin seria mais ou menos (para simplificar e facilitar a explicação) como se o Bitcoin passasse a ser listado em bolsa como se fosse uma ação de uma empresa, ou seja, o Bitcoin (e demais Criptomoedas) estariam disponíveis na plataformas de home-broker, websites de bancos e das próprias bolsas, disponível em todo lugar para livre negociação.

Assim como tudo na vida, existe quem argumente que isso não teria impacto sobre o mercado e tem gente que diz que isso será um divisor de águas e o catalisador do próximo ciclo de “bull-run”. Como o futuro é imprevisível, não tem como saber quem está certo, mas o fato é que nos Estados Unidos, 54% dos adultos negociam ações em bolsa ao passo que é estimado que menos de 4% possuam alguma exposição aos Criptoativos.

A lógica por trás de quem diz que o ETF será um divisor de águas é que, do dia para a noite, serão adicionados ao mercado dezenas de milhões de novos potenciais compradores, gente que não tem familiaridade com as exchanges de Criptomoedas, com a tecnologia, com o próprio ativo em si e que passariam a poder comprar e vender Bitcoin dentro de sua zona de conforto, junto com seus papéis de GE, Facebook, Caterpillar, ETF de SP500 e etc, como já fazem todos os dias.

Seja qual for a realidade, a SEC tem travado o ETF de Bitcoin argumentando, principalmente, que o mercado é demasiadamente manipulado e que a descoberta de preços (usando o jargão da SEC) é quase impossível.

Dentro desse cenário, a BitWise conduziu um estudo muito interessante que buscou endereçar as preocupações da SEC quanto à manipulação de mercado, custódia, liquidez, preço e demais preocupações do agente regulador.

Os volumes são Fake-News

Dentro desse estudo o fato que mais chocou o mercado foi que os volumes de negociação de Criptomoedas estão superdimensionados de forma fraudulenta em estimados 95%.

Para chegar a essa conclusão as corretoras de Criptomoedas foram estudadas em detalhes e para encurtar a história, a BitWise conseguiu separar o joio do trigo, ou seja, através de métricas claras e bem definidas, conseguiu separar as exchanges que fraudam as negociações das exchanges honestas no reporte das compras e vendas.

Métricas claras, não necessariamente fáceis…

O estudo é bastante detalhado e várias métricas foram adotadas, mas para exemplificar o método, vou citar alguns exemplos para o leitor entender o caminho que a BitWise seguiu.

Perfil de compra e venda

Honesto: É aleatório. Compras e vendas acontecem sem um padrão previsível, por exemplo, às vezes 10 compras pequenas seguidas de uma venda grande. O timestamp (horário da negociação) é também aleatório.

Fraude: Compras e vendas se alternam na grande parte do tempo. Uma compra, uma venda, uma compra, uma venda. O timestamp é casado, uma compra e uma venda acontecem no exato segundo.

Tamanho das Ordens

Honesto: No mundo real, são lançadas ordens de compras e vendas de tamanhos diferentes e não se sabe quanto tempo vai levar para uma ordem fechar. Por exemplo, eu lancei uma venda de 1 Bitcoin e foram necessárias 10 ordens de compra de 0,1 Bitcoin em tempos desconhecidos para liquidar minha venda.

Fraude: Toda ordem de venda casa imediatamente com uma ordem de compra e vice versa. Seja qual for o tamanho da ordem, ela sempre casa e o negócio é fechado no mesmo segundo. Sempre existe liquidez.

Spreads (diferença de preço entre compra e venda disponível no mercado)

Honesto: O Spread é muito apertado, sempre inferior ao custo pago de comissão pela negociação na corretora. No momento em que escrevo esse artigo, o Bitcoin está cotado a USD 5.139,94 para compra e USD 5.142,00 para venda na Bitstamp, uma corretora honesta. Uma diferença de USD 2,06, ou seja, não é possível arbitrar e lucrar dentro da própria corretora.

Fraude: Nesse exato momento, uma corretora desonesta está cotando o a compra a USD 5.109,00 e a venda a USD 5.124,00. Uma margem de USD 15,00, o que é suficiente para obter lucro comprando e vendendo na própria exchange.

Métricas sociais também contam…

Exchange 1: 10 mil seguidores no Twitter; 1,25 milhões de buscas mensais no Google; Site ranqueado em 90.701 entre os mais acessados do mundo, com 42 funcionários.

Exchange 2: 1 milhão de seguidores no Twitter; 26 milhões de buscas mensais no Google; Site ranqueado em 1.917 entre os mais acessados do mundo, com 852 funcionários.

Não é razoável que a Exchange 1 reporte um volume de negociação 18 vezes maior que a exchange número 2… Podemos parar por aqui.

Mas porque diabos as exchanges fazem isso?

A BitWise colheu além desses dados exemplificados aqui, muitos outros padrões em um total de 81 corretoras de Criptoativos do mercado e chegou a conclusão do que todo mundo sabia mas não conseguia até então provar, que os volumes de negociação são artificialmente manipulados.

O pessoal da BitWise foi elegante ao apontar apenas uma das motivações, se destacar no mercado. Na euforia das ICOs (já escrevi bastante sobre elas, aqui um link para quem quiser relembrar o que são) as exchanges cobravam taxas milionárias (de USD 1 a 3 milhões) para que os emissores de novas moedas pudessem listar suas shitcoins.

Se você vai gastar milhões em taxas para ter sua moeda listada, é bom que esteja listada em uma exchange com alto volume, liquidez e muitos clientes não? Ironicamente, nenhuma corretora honesta jamais cobrou para listar uma Criptomoeda…

O outro motivo a BitWise não falou… As corretoras colocam seus robôs de negociação automática casadinhos (compra e venda) e levam os preços para cima e para baixo (numa banda estreita) e consequentemente aumentam os spreads. Os clientes reais, ou seja, as pessoas que realmente usam aquela exchange, tendem a colocar suas ordens ligeiramente fora dos spreads definidos pelo robô, fazendo com que ele consiga arbitrar dentro de casa e lucrar mais em cima dos próprios clientes.

Isso é sujo, criminoso e infelizmente muito comum, inclusive em exchanges aqui no Brasil… Males de um mercado não regulamentado.

Salvaram-se poucos

São mais de 1.000 corretoras no mercado, das quais 81 correspondem a mais ou menos 20% do volume reportado. Creio que nenhuma exchange brasileira tenha sido amostrada dentro das 81. Dessas, apenas 10 foram consideradas honestas pelo estudo.

É importante lembrar que, muito provavelmente existam outras corretoras honestas, porém com volumes de negociação não representativos. A lista das corretoras tidas como confiáveis é composta por: Binance, Bitfinex, Kraken, Bitstamp, Coinbase, BitFlyer, Gemini, ItBit, Bittrex e Poloniex.

Do volume amostrado, foram reportados USD 6 Bilhões em negociação, sendo que o volume real foi estimado em USD 273 Milhões.

Conclusões

A surpresa positiva desse estudo é de que o mercado de Bitcoin é mais saudável do que se supunha.

O volume reportado dava a entender que absurdos 9% do mercado de Bitcoin trocavam de mãos todos os dias, o que não é razoável. O ouro, por exemplo, tem um giro diário de 0,55%. O estudo estima que o giro real do Bitcoin seja de 0,39% ao dia, bem mais razoável.

Outro dado assustador é que pelo volume reportado, os EUA (maior economia do mundo) eram responsáveis por meros 1% do volume de compra e venda de Criptomoedas. Pelos dados reais, os americanos são responsáveis por 30% do volume. Muito mais razoável.

Descobriu-se também que o preço do Bitcoin é altamente eficiente, e que nas 10 corretoras honestas o Bitcoin é negociado pelo mesmo preço (diferenças menores que 0,25% entre todas elas).

O relatório é extenso e endereça outras questões para a SEC, mas escolhi o tema dos volumes porque ele trouxe uma inovação no mercado. Esse relatório divide os olhares em antes e depois.

O site CoinMarketCap (principal referência de preços no mercado de Criptomoedas) continua a ser líder e continua a ser referência de preços, mas seus dados de volume passaram a ser solenemente ignorados.

A turma da Messari Cripto, uma startup que quer ser a “Bloomberg” dos Criptoativos se adiantou e criou o índice de volume chamado “Real-10”, que consolida apenas as exchanges consideradas honestas pelo relatório da BitWise.

O CoinMarketCap que se cuide, pois o trabalho da Messari é muito bem feito e seu painel para acompanhamento do preço das Criptomoedas é impressionante e eles caminham a passos largos para a liderança. Nesse link você pode dar uma olhada no site OnchainFx da Messari.

A BitWise prestou um excelente serviço e pavimenta o caminho para a aprovação do ETF de Bitcoin, o deve acontecer provavelmente em 2020 (com muita sorte ainda em 2019).

Ainda falta muito para dizer que o Bitcoin é um mercado maduro, muita coisa precisa ser consertada, criada e desenvolvida, mas lembre-se que é nesse fato que reside o absurdo potencial de valorização do mercado. Mercados maduros, prontos e desenvolvidos não têm o potencial de valorização que as Criptomoedas têm.

Mas o processo começou, foi-se o tempo da terra de ninguém e hoje, o que o mercado busca, é seriedade, dados sólidos e principalmente confiança para que o dinheiro de verdade entre nos Criptoativos. O Bitcoin deixou sua primeira infância e entrou na adolescência.

Orgulhosamente digo a todos vocês que, uma vez que transformados os Reais em Bitcoin (precisamos fazer isso em alguma exchange local, não tem jeito), todos os negócios realizados na HashInvest sempre foram feitos em exchanges pertencentes a lista das 10 honestas.

Você pode conferir o relatório completo da BitWise clicando aqui.

Veja outros artigos

Blockchain como Infraestrutura o Mercado de Capitais

Blockchain como Infraestrutura o Mercado de C

A maneira como os blockchains e as criptomoedas são percebidos pelos gestores financeiros está evoluindo rapidamente.  Este ramo, que até pouco tempo era renegado e ligado fortemente a hackers e fraudes, teve uma mudança de perspectiva importante no começo deste ano com o lançamento dos ETFs na bolsa americana e, mesmo com esse grande avanço, muito mais está por vir.

Em março a Black Rock, maior gestora de ativos do planeta, lançou o BUILD (BlackRock USD Institutional Digital Liquidity Fund), o seu primeiro fundo tokenizado.

Um token é um “certificado de propriedade” que representa ativos do mundo real (como imóveis, ações, títulos ou commodities) em um blockchain. Ou seja, a infraestrutura de redes como Bitcoin, Ethereum e Solana é usada para representar coisas/estruturas que vão além de moedas.

Em um fundo tokenizado, como o BUILD da Black Rock, a gestora utiliza tokens para representar os ativos do fundo, neste caso específico, Títulos do Tesouro Americano e Dólares Americanos.

O que deixa esta história interessante, é que a Black Rock não é a única interessada em tokenização, notando-se movimentos similares em diversos setores.

Por exemplo, o Tether Limited Inc., empresa que emite a moeda com preço atrelada ao Dólar, lançou recentemente o Tether Gold. Neste caso, cada token emitido representa uma quantidade de ouro armazenada em bancos da Suíça.

A Consultoria McKinsey projeta em seu cenário base que o mercado de ativos tokenizados atingirá um tamanho de quase USD $2 trilhões até 2030.

Dentre as vantagens que levam a esse interesse na tokenização, podemos citar liquidações instantâneas 24/7, maior transparência e eficiência, aliada a redução no custo. Para quem opera cripto, nada demais, mas para o mercado financeiro tradicional, isto traz oportunidades significativas.

Em resumo, a gestão de ativos cripto pode evoluir do simples acúmulo de criptomoedas para a criação de produtos multi-ativos com sua gestão e distribuição ocorrendo através dos blockchains. Blockchains estes que até pouco tempo, eram coisa de bandido.

30 ANOS DO PLANO REAL

30 ANOS DO PLANO REAL

Em 01/07/2024 o Real completará 30 anos de circulação. Na verdade, o plano real, pois tudo começou através de medidas provisórias na qual a moeda era chama de URV, posteriormente convertido para o Real na cotação de 1 para 1.

Temos motivos para celebrar ou não? Aprendemos algo com o passado?

Ao final do regime militar no Brasil e período de redemocratização (na medida do possível em uma frágil democracia, mas ao menos o fim de uma ditadura escancarada) o país passou por diversas crises econômicas desencadeando o pior dos impostos de maneira exacerbada: inflação (no caso hiperinflação). Os governos sempre tiveram o hábito de exaltarem seu governo e culparem algo externo a eles na totalidade. Parece que alguns hábitos nunca se perdem…

A inflação ao final dos anos 1980 e início dos anos 1990 vinha escalonando de forma abrupta e a cada plano que tentava controlar artificialmente a inflação ela voltava com ainda mais intensidade. Logo antes do plano real o Brasil chegou a bater um IPCA (oficial) de 2.500% ao ano. Os mais antigos devem se lembrar de coisas como overnight, remarcação de preços no supermercado diversas vezes ao dia (existia uma profissão que era etiquetador de preços) e a corrida ao supermercado nos dias de pagamento.

Vamos voltar um pouquinho mais…

Durante o governo Sarney foram 3 as tentativas de conter a inflação. Em 1986 foi a vez do plano cruzado, onde a moeda sofreu um corte de 3 zeros e houve congelamento de preços e da taxa de câmbio oficial. Em 1987 foi a vez do Plano Bresser que tentou a já ineficaz estratégia de congelamento de preços. Em 1989 como última cartada do governo Sarney tivemos o Plano Verão em 1989 com um novo corte de 3 zeros na moeda renomeando a moeda para Cruzado Novo, e novos congelamentos de preços e taxas de câmbio.

Já no governo Collor, em 1990 foi o Plano Collor 1 que ficou famoso pelo confisco da poupança popular e criação de novos impostos como o IOF (imposto sobre operações financeiras). Em 1992 veio o Plano Collor 2 com novos congelamentos de preços e agora também o congelamento de salários. E já não bastasse o confisco do plano anterior na poupança popular, a equipe econômica decidiu proibir os depósitos overnight.

Uma coisa comum a todos esses planos foi uma queda artificial (e muito dolorosa para a população) com um repique muito mais acentuado da inflação na sequência.

Em 1994, durante o Governo Itamar Franco, foi implantado o Plano Real. Primeiramente com a URV (CR$2.750 = US$ 1,00 = R$ 1,00). O início da circulação da URV (posteriormente batizada de real) foi em 01/07/1994. O plano real teve suas crises, mas é fato que devolveu a estabilidade mantendo a inflação oficial em patamares inferiores a dois dígitos anuais. Em retrospectiva foi um sucesso!

E agora, 30 anos depois?

Um pequeno exercício da um pouquinho da dimensão do que é a inflação. Nesses trinta anos de “estabilidade”, o não tão poderoso real também perdeu seu poder de compra, às vezes mais rápido, às vezes mais devagar. R$1,00 em 1994 podia comprar uma série de coisas… em 2024 a cédula de R$1,00 não existe mais!

Em 1994 um pãozinho de sal custava R$0,10. Hoje é difícil comprar um pãozinho por menos de R$1,00. Um litro de gasolina custava R$0,55 em 1994 e hoje é difícil abastecer por menos de R$5,50 o litro. E isso vale pro leite, pro ovo e pra banana também…

Um ponto importante e que não pode ser esquecido, é que o descontrole para o monstro da inflação pode ser fatal. É fácil voltarmos ao período de hiperinflação, mas é cada vez mais difícil sairmos dele (olhe nossos vizinhos Hermanos) uma vez que o nosso sistema e ferramentas tradicionais estão desgastadas e perto de um colapso (crescimento da dívida, aumento de carga tributária, PIB praticamente estagnado por décadas e irresponsabilidade fiscal). Ninguém torce por isso, mas sempre que palavras como intervenção, confisco, congelamento voltam a circular o medo do monstro da hiperinflação volta a rondar.

Qual ativo hoje existente e acessível, que não existia em 1994, é imune em seus fundamentos às palavras (confisco, intervenção etc.) e ações de governos que podem acordar o monstro da hiperinflação?

Uma dica: Não é o Bitcoin do banco Itaú!

10 anos de minha primeira iniciativa com Bitcoin

10 anos de minha primeira iniciativa com Bitc

Essa semana me dei conta que em julho faz 10 anos de minha primeira iniciativa para que amigos próximos entendessem e entrassem no Bitcoin, e desde então venho fracassando consistentemente nessa missão.

O ano era 2014 e eu estava apaixonado pela moedinha laranja. Era o chato do Bitcoin, só via Bitcoin, tudo era Bitcoin. Havia recém voltado de Amsterdam de minha primeira conferência de Bitcoin.

Na ocasião, meu sócio que se senta a minha frente foi persuadido a programar um bolão da copa do mundo em Bitcoin, na qual as apostas para participar e os prêmios eram em Bitcoin.

O bolão em si era o de menos, a tentativa era ser lúdico e mostrar o futuro às pessoas queridas, que através de um uso prático, criassem carteiras, transacionassem, enfim, uma brincadeira para quebrar a barreira inicial.

Deu errado.

– “Muito complicado”

– “Faz pra mim, depois te pago”

-“Legal, mas não tenho tempo”

-“Você é maluco”

-“Você precisa arrumar um emprego”

O preço na ocasião? Na casa dos USD 300 (Trezentos dólares), morro abaixo, logo depois de ter ultrapassados os USD 1.000 pela primeira vez durante o stress bancário na Grécia.

Deveria ter parado por aí, mas não… Vem o ano de 2017, lá por julho, e a ideia de montar a HashInvest. Se lá em 2014 a turma ignorou e não veio, então, vamos criar uma ferramenta que permita as pessoas a embarcarem sem sofrer, com baixíssima complexidade, e então começamos.

 Abrimos as portas em novembro e logo em seguida o Bitcoin ultrapassa a marca de USD 10 mil pela primeira vez na história.

Dessa vez logrei algum êxito e o sucesso foi ligeiramente maior que no bolão de 2014. Empolgados pela euforia do mercado e com o noticiário naquele ano, dessa vez alguns bem-sucedidos amigos próximos finalmente entraram no Bitcoin.

Qual era a minha esperança? Que começassem a ler os conteúdos por aqui e que começassem a voar por conta própria. Não foi o que aconteceu.

A única recomendação que dou explicitamente é a de fazer preço médio, o que que ninguém faz é o preço médio. A turma comprou em 2017 e a grande maioria simplesmente deixou lá, sem novos aportes, sem estudar por conta própria e ficaram demasiados insatisfeitos quando o pico de USD 20 mil derreteu pelos anos a seguir, e o pior, agora a culpa era minha.

Em 2019 e 2020 resolvemos que era hora de fazer marketing digital. Investimos em Instagram, conteúdo, linkedin, podcast e os cambau…

Nada efetivo, pouco resultado. Acabou que nos dias atuais temos o mínimo, mas bem diferente do que já foi no passado. As pessoas simplesmente não vieram, logo, vamos ficar por aqui somente para reafirmar que estamos por aqui e estamos vivos.

O preço na época era em torno dos USD 6 mil dólares por Bitcoin, com direito a uma excursão na casa dos USD 3 mil alto no fatídico Corona Day.

Veio mais um bull market, dessa vez em 2021. Vimos o Bitcoin saltar para USD 69 mil dólares e quando a farra se aproximava do fim é que os clientes começaram a chegar…

A gente fala que bitcoin se compra todo dia, no preço médio, mas a pessoa quer comprar depois que a euforia tomou conta da internet… Caímos para a casa dos USD 15 mil e por lá ficamos até meados de 2023.

Com a chegada dos ETFs e dos institucionais, o Bitcoin começou a tracionar mais uma vez um novo All time High na casa de USD 73 mil foi visto há poucos meses nesse ano de 2024, mas diferentemente dos outros Bull Markets, dessa vez o varejo não veio, pelo contrário, quem levou prejuízo entrando no topo de 2021 acabou por “aproveitar a chance” e ir embora de vez.

Hoje, especificamente dia 24 de junho de 2024 enquanto eu escrevo esse texto o Bitcoin “derrete e agoniza” em USD 60 mil.

Dos tais amigos próximos, ainda sou taxado de louco. Recorrentemente o que escuto é que

-“Você teve sorte”

-“Deveria ter te escutado lá atrás, mas hoje está muito caro”.

-“Você ainda tá naquele negócio de Bitcoin?”

-“Ainda tenho aquela grana lá de 2017, ta bom né… Qualquer dia ponho um gole a mais”

Hoje ainda sou o chato do Bitcoin, mas diferentemente do passado, somente quando sou perguntado. Quando não questionado, converso de cervejas, de viagens, do clima, de amenidades em geral, mas só falo de Bitcoin com quem me pergunta.

Mesmo quem me pergunta se recusa a aceitar a realidade. Por mais dados que sejam entregues, demonstrados, a alocação de recursos vai majoritariamente… Para a renda fixa em Reais. É ultrajante e embaraçosa a sensação de incompetência que me acomete.

Vejam os marcos de preço desse texto…

USD 1000, USD 300, USD 10.000, USD 20.000, USD 6.000, USD 3.000, USD 69.000, USD 15.000, USD 73.000, USD 60.000…

Quando estava em USD 1 mil, estava caro demais, e quando estava em USD 300, ainda bem que não entrei nessa fria.

Quando estava em USD 69 mil, estava caro demais, e quando estava em USD 15 mil, ainda bem que não entrei nessa fria.

Quando estava em USD 73 mil estava caro demais…

Todos os anos escrevo ao menos uma newsletter com cálculos detalhados de preço médio, geralmente com aporte mensal e começando em épocas muito ruins (primeiro aporte num all time high por exemplo) e todos os anos demonstro com dados que se você fizer DCA de modo disciplinado a sua probabilidade de multiplicar o patrimônio é significativamente alta e seu risco é relativamente baixo. Fazendo isso você bate TODOS os CDBs, CDIs, Tesouros e índices de bolsa que pode encontrar por aí.

No fim do dia… São 5 os clientes que praticam o preço médio…

Quanto a mim? Começando a pensar com mais carinho na ideia de aposentadoria.  A Hashinvest não é exatamente uma necessidade nessa altura da vida, afinal, dizem por aí que “dei sorte!”.

Gostaria de ter convertido muito mais gente do que de fato converti e passados 10 anos, sinto que está se aproximando a hora de admitir que é bastante provável que eu não seja a pessoa certa para esse trabalho.