Texto originalmente publicado na Newsletter HashInvest em 01/09/2020
Uma comunidade de criptomoedas foi capaz de juntar vários dos problemas que ainda existem nesse novo setor nos últimos dias. Vamos aos fatos…
O SushiSwap, projeto que apesar do nome não tem nada com comida, é um dos diversos “provedores automáticos de mercado” (em inglês AMM – Automated Market Maker) existentes na rede Ethereum. Um AMM funciona quase como exchange, no entanto, a diferença para o modelo clássico é como os preços são determinados.
Em uma exchange, são os usuários que indicam o preço pelo qual estão dispostos a comprar/vender os ativos, criando assim um livro de ofertas. No modelo do SushiSwap, existem reservas para diversos tokens (moedas) e um robô determina os preços para compra e venda de modo a manter os volumes constantes. Por exemplo, se a quantidade disponível de um token cair, o robô aumentará o preço que os traders pagarão para comprá-lo e reduzirá o valor para venda.
Este é um modelo de negócios que vêm ganhando relevância com a ascensão das DEFI’s, serviços financeiros baseados em blockchain que apresentam um crescimento exponencial em 2020. Dentre as vantagens existentes no modelo AAM, temos a melhor liquidez, garantia de operação 24/7 e ainda recebimento de juros para quem ajudar a compor as reservas financeiras (cobra-se uma taxa de 0,3% por transação, que é então dividida entre os provedores de liquidez).
As polêmicas começaram quando se decidiu que o SushiSwap seria uma plataforma independente, sendo que até então ela rodava dentro de outro projeto de AMM chamado de UNISWAP. Para isso foi feito um fork da UNISWAP, ou seja, uma copiou-se todo o código-fonte e criou-se um concorrente. Forks não são novidades no mundo das criptomoedas e já ocorreram diversas vezes com o Bitcoin. No entanto, a possibilidade alguém simplesmente usar o trabalho de outras pessoas para ganhar evidência e, quando não precisar mais, copiar tudo e virar concorrente é no mínimo discutível.
Mais controvérsias apareceram no dia 5 de setembro.
O criador do SushiSwap possui uma identidade anônima “Chef Nomi”. Até então isso nunca tinha sido um problema, afinal não é exceção na comunidade das criptomoedas que as pessoas prefiram o anonimato. Por exemplo, ninguém sabe quem é realmente Satoshi Nakamoto, idealizador do Bitcoin. Entretanto, Chef Nomi decidiu de uma hora para outra liquidar os milhões que tinha investido no projeto e entregar o controle do SushiSwap para outra pessoa, Sam Bankman-Fried, CEO da plataforma de trading FTX. Isto tudo enquanto o fork da UNISWAP era preparado.
Esta súbita venda de posições, transferência do controle para alguém com interesses financeiros e ainda por cima em um momento crítico, levanta várias suspeitas e jamais seria permitido em um mercado mais maduro. Para as criptomoedas, no entanto, isto acaba ficando impune pelo anonimato das partes e pela ausência de regulação/governança nos projetos.
Uma semana depois e após ser muito pressionado, Chef Nomi se disse arrependido e acabou devolvendo o dinheiro. Contudo, os problemas existentes no ambiente das criptomoedas que permitem este tipo de atitude continuam presentes e vão continuar causando prejuízos. Por isso, a garantia de (algum) direito de propriedade intelectual, melhores práticas de governança e regulamentação são importantes para garantir o desenvolvimento futuro deste setor e proporcionar proteção dos investidores, usuários e desenvolvedores.