Texto originalmente publicado na newsletter HashInvest de 30/09/2020

Quando surge uma nova tecnologia, seus inventores nem desconfiam do impacto e nem a quantidade de novos produtos e serviços que virão de carona com a invenção. Por exemplo, duvido que o Departamento de Defesa dos EUA pudesse imaginar, há quase 40 anos, que o GPS seria imprescindível para o funcionamento de aplicativos de carona.

Com o blockchain é a mesma coisa, a diferença é que esta tecnologia só tem 10 anos.

Por exemplo, algumas das aplicações de blockchain são óbvias, como a compra e venda com criptomoedas. Outras, acabam ficando escondidas do usuário final, mas ajudam a compor o ecossistema. Um exemplo deste último caso são os chamados oráculos.

Apesar do nome estranho, os oráculos têm como função trazer informações verdadeiras do mundo real para os blockchains, ou seja, são como os olhos dos blockchains para o mundo e são remunerados por isso.

Este é um serviço extremamente importante porque os dados fornecidos, como preço do ouro ou dólar, serão usados por smart-contracts para remunerar investidores. Como os smart-contracts são auto-executáveis e irreversíveis, os oráculos não podem errar.

Um dos maiores desafios para sua implementação é evitar a centralização, tanto na origem da informação quanto na importação dos dados para o blockchain. Isto quer dizer que, mesmo que existam vários servidores trazendo os dados para dentro do blockchain, se todos usarem a revista Tititi como fonte para o preço do dólar, a informação não será confiável tanto pela qualidade quanto pela facilidade de ataque por hackers.

Existem diferentes tipos de oráculos, mas eles possuem estratégias parecidas para tentar garantir a qualidade dos dados que disponibilizam. Dentre elas, normalmente permite-se que qualquer pessoa possa se conectar ao sistema como fonte de informações (por isso descentralizado). No entanto, exige-se o depósito de uma quantia como garantia. Assim, se for verificado que o provedor da informação foi desonesto/impreciso, ele será penalizado. Além disso, outras métricas como reputação também são empregadas.

Até o momento, o oráculo campeão se chama Chainlink e roda na rede do Ethereum. Esse sistema tem conseguido parcerias de peso (Google anunciou recentemente que passará a fornecer dados) e pegou carona na febre das DEFI’s, serviços financeiros descentralizadas baseados em blockchain, que precisam justamente de dados do mundo real para poderem operar.

A dificuldade de se obter informações verídicas não é só um problema dos blockchains, vide a batalha perdida de governos e instituições contra fake news. Até o momento os oráculos em blockchain tem dado conta do recado, mas ainda ficam restritos em sua maior parte a informações financeiras. Quem sabe no futuro eles possam se expandir para outras áreas, aumentando assim a qualidade da informação circulada e dando vida a novos produtos e serviços que não eram imagináveis na criação do blockchain dez anos atrás.