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Em 5 de Fevereiro agora, foi publicado no Blog do FMI (Fundo Monetário Internacional) um artigo intitulado “Como explorar as oportunidades das taxas de juros negativas”. Sugiro a leitura, o texto está em português.

Pode parecer estranho para nós brasileiros, acostumados com juros reais altos e nominais altíssimos. Nossa SELIC (taxa básica de juros) está em 6,50% ao ano e isso é um luxo que poucas economias têm. A Suíça, por exemplo, mantém uma taxa de juros negativa de 0,75% ao ano, ou seja, os bancos te cobram pelo privilégio que você tem de deixar seu dinheiro com eles.

O primeiro parágrafo do artigo do FMI diz:

“Durante a crise financeira mundial, muitos bancos centrais reduziram suas taxas básicas de juros para zero para estimular o crescimento. Dez anos depois, os juros permanecem baixos na maioria dos países. Embora a economia mundial esteja a se recuperar, novas fases de retração são inevitáveis. Historicamente, recessões graves exigem cortes de 3 a 6 pontos percentuais nos juros básicos. Se houver outra crise, poucos países teriam essa margem de manobra para uma reação da política monetária.”

Mas o Brasil tem margem de manobra… Ainda tem!

Se as reformas forem feitas (e espero que sejam!), previdência, política e tributária, baixar os juros não apenas será possível como mandatório para que a nossa economia finalmente deslanche. Não precisamos voltar muito no tempo, em 2016 qualquer aplicação de renda fixa dava o famoso 1% ao mês (ai que saudade…), mas o fato é que nossas taxas tem tudo para cair ainda mais no longo prazo.

Os Estados Unidos que estavam em marcha para subir (e normalizar) os juros recuaram e já se fala em um novo QE (quantitative easing, o famigerado dinheiro de helicóptero) e os juros devem ficar na casa dos 2% por um bom tempo…

E daí? E daí que estamos muito provavelmente cozinhando uma belíssima crise mundial e único remédio conhecido que é baixar juros está no limite… Mas não se apressem porque o FMI tem proposta mágica para dar sobrevida ao remédio de baixar taxas de juros.

Da forma como as coisas são hoje, o dinheiro físico limita o juro a zero. Se o banco central determina uma taxa de juros negativa você vai guardar dinheiro embaixo do colchão, certo? Então, em tese, o dinheiro físico limita a habilidade dos Bancos Centrais a trabalharem com juros negativos e por isso os juros negativos têm sido “ligeiramente” negativos.

Então, qual o coelho na cartola?

A proposta do FMI é que os países dividam sua base monetária em duas moedas distintas. O dinheiro eletrônico (depósitos bancários) e o dinheiro em espécie (papel). A moeda eletrônica estaria sujeita à taxa básica de juros e a moeda em espécie estaria sujeita a uma taxa de câmbio em relação à moeda eletrônica.

Vamos fazer um breve exercício com a proposta do FMI. Suponha que no primeiro dia do ano você sacou R$ 1.000,00 em dinheiro vivo e sobraram R$ 1.000,00 em sua conta bancária e que os juros nominais sejam negativos em 5%. Ao final do ano você vai até o seu banco e deposita o valor de R$ 1.000,00 em espécie de volta na sua conta corrente. Vamos ver o que acontece.

Da forma como as coisas são hoje, ao final do período você teria um valor de R$ 1.950,00 no banco, sendo R$ 1.000,00 do seu depósito no último dia do ano e R$ 950,00 como resultado de um juro negativo sobre sua conta corrente ao longo do ano.

Da forma como o FMI está sugerindo fazer, haveria uma taxa de câmbio de 0,95 para seu dinheiro em espécie virar dinheiro eletrônico. Ou seja, no último dia do ano você deposita R$ 1.000,00 no banco e são creditados R$ 950,00 em sua conta, totalizando R$ 1.900,00, ou seja, seu dinheiro vivo foi desvalorizado na mesma taxa que seu depósito no banco.

Na prática o dinheiro vivo passa a perder valor na mesma medida que o depósito bancário e será natural o comércio refletir isso nos preços.

De acordo com o FMI, essa proposta “…tornaria viável a aplicação de taxas de juros altamente negativas e ao mesmo tempo, preservaria a função do dinheiro.” e “…permitiria ao Banco Central implementar uma taxa de juros negativa na medida que fosse necessária para combater uma recessão, sem desencadear uma grande onda de substituição por dinheiro vivo.”

Percebe a grande diferença que existe entre as Criptomoedas e o dinheiro eletrônico do governo? O Banco Central não pode arbitrar uma taxa de câmbio sobre o seu Bitcoin e fim.

Não, não é teoria da conspiração, o fato é que simplesmente não se conhece outro mecanismo a não ser baixar os juros em caso de uma grande recessão. Para quem quiser ler mais sobre o tema, seguem dois links interessantes.

https://www.imf.org/en/Publications/WP/Issues/2018/08/27/Monetary-Policy-with-Negative-Interest-Rates-Decoupling-Cash-from-Electronic-Money-46076

https://www.nber.org/papers/w15118.pdf

Resumo da história

Se houver uma nova crise (e ao que tudo indica é uma probabilidade real) você está ferrado caso só tenha ativos convencionais. Os juros reais ficarão negativos e bolsas tendem a derreter no curto prazo quando do advento das recessões e crises.

Muito além da especulação e chance real de ganhar dinheiro, é por esse motivo que você precisa aumentar sua exposição às Criptomoedas.