O lançamento da rede 2.0 para o Ethereum é com certeza o evento mais aguardado no mundo das criptomoedas em 2020 e, mesmo com todos os atrasos, deve trazer grandes consequências.

Uma das novidades da nova rede será a forma com que as transações serão validadas: o atual proof-of-work dará lugar ao proof-of-stake. Mudança tão drástica que ambos os sistemas, atual e a novo, devem rodar em paralelo por pelo menos um ano antes de se considerar uma unificação.

A arquitetura atual (proof-of-work) é uma cópia do Bitcoin e, por isso, tem mais de dez anos de uso atestando sua confiabilidade. Este sistema utiliza o poder de processamento para garantir a segurança da rede e consome uma grande quantidade de energia elétrica. Como consequência, ocorre uma concentração da mineração em lugares com energia barata, tipicamente na China.

No proof-of-stake, a dependência de poder de processamento, energia barata e computadores sofisticados acaba. Contudo, isto não significa que necessariamente a validação de transações vai se tornar menos concentrada. Provavelmente só os players que mudarão.

Traduzindo do inglês, quando alguém tem algo at stake, ele tem algo em risco. Na nova versão do Ethereum (com proof-of-stake), quem quiser validar transações e ser remunerado por isso, precisa arriscar uma quantia mínima de 32.000 ETH, ou quase R$ 36.480.000. Quanto maior o valor dado como “caução”, maior a chance de se tornar um validador e ficar com os rendimentos (algo entre 4 e 10% ao ano). No entanto, quem for desonesto, perde a quantia depositada e, por isso, diz-se que tem algo em risco.

As possíveis implicações que desta mudança de arquitetura gerarão são diversas.

Primeiramente, os atuais mineradores terão que arranjar uma outra aplicação para todos os seus super-computadores, que perderão utilidade.

Em segundo lugar, teremos a ascensão das exchanges como grandes validadores. Como a maioria das pessoas deixar suas criptomoedas paradas nas plataformas, as moedas “ociosas” podem ser usadas para compor a quantia at stake, gerando ou não rendimento para seus donos. No caso da criptomoeda Tezos, que utiliza um sistema similar, duas exchanges (Binance e Coinbase) estão entre os cinco maiores validadores.

Outra consequência é a maior acumulação de moedas.

Atualmente existem mais de 120.000 carteiras com quantia igual ou superior ao necessário para participar do processo de escolha de validadores, número quase 15% superior ao encontrado em anos anteriores.

Em um mundo com juros negativos, uma remuneração de potencialmente 10% pode atrair muitos investidores. No entanto, ao mesmo tempo que a segurança da rede aumenta, uma grande quantidade de moedas congeladas pode causar uma escalada nos preços para as pessoas que realmente utilizam a rede.

Devido a quantidade de novas variáveis acrescentadas, esta transição para a nova plataforma está sendo tratada de forma tão cautelosa. Todo os atrasos de desenvolvimento e a coexistência dos dois blockchains vai permitir que os interessados se adaptem e a migração ocorra de forma segura. Nada menos seria esperado de uma rede que, mesmo com todos os problemas atuais, vale mais de USD$25 bilhões.