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A crise econômica de 2008 matou o capitalismo como o conhecemos. Falir já não é mais uma opção. Bancos Centrais têm socorrido o mercado com dinheiro infinito e barato. É como se em 2008 o papai Banco Central resolvesse recolocar as rodinhas na bicicleta depois que seu filho levou um tombo feio.

Mas Darwin é implacável! O que aconteceu com esse moleque que de repente viu rodinhas na sua bike depois de experimentar a emoção da liberdade? Ele regrediu, desaprendeu a andar.

Doze anos depois, por mais ridículo que possa parecer o moleque continua andando na sua bicicleta com rodinhas, conformado e confortável com a situação até que leva um novo tombo, apesar das rodinhas, ainda mais feio que o primeiro.

O que o papai faz? Fácil, vamos colocar rodinhas extras, agora também na parte da frente.

As rodinhas são os juros extremamente baixos e a impressão desenfreada de dinheiro com nome difícil (Quantitative Easing). Assim como as rodinhas são ferramentas fundamentais para que as crianças desenvolvam o equilíbrio até se sentirem seguras, juros baixos e dinheiro disponível são ferramentas para lubrificar economias e garantir crescimento, mas tudo tem seu limite razoável.

Juros excessivamente baixos (negativos em grande parte do mundo civilizado) e empréstimos para qualquer projeto ruim penalizam o esforço poupador, empurram os investidores para o alto risco e premiam projetos fracos e pouco rentáveis, criando assim as chamadas empresas zumbi.

Empresas zumbi são aquelas que não conseguem obter retornos suficientes para reduzirem suas dívidas, pagam apenas pela sua sobrevivência e pela parcela dos juros da dívida, mas não conseguem nem crescer e nem abater o saldo devedor. A cada crise, geralmente precisam de uma nova dívida para sobreviver, são viciadas em injeções de dinheiro. No bom e velho capitalismo, são os maus-negócios, aqueles que pela lei de livre mercado, simplesmente deveriam desaparecer.

Essa semana Mohamed El-Erian (economista chefe do grupo Allianz) propôs uma ótica interessante para ver como estariam os mercados caso o FED não tivesse entrado com sua bazuca de dinheiro.

Para fazer essa análise, El-Erian faz uma comparação do mercado acionário com o mercado do petróleo. O equivalente ao FED para o mercado de petróleo seria a OPEP, que falhou em dar o tom das negociações e na prática, o mercado agiu como se o organismo não existisse.

Como resultado de uma demanda que colapsou, e os preços também colapsaram. Livre mercado, bom e velho capitalismo atuando com suas regras clássicas. O barril WTI para entrega física em Abril chegou a ficar USD 40 dólares negativos, ou seja, quem tinha esses contratos estava literalmente pagando para se livrar deles (já que o custo de rolagem ou armazenamento superava em muito essa cifra).

Acontece que a queda da demanda não é um luxo do mercado do petróleo. A demanda mundial de tudo simplesmente colapsou. O resultado? O FED e o governo americano injetaram um montante sem precedentes de grana no mercado. Os quase USD 6 trilhões de dinheiro barato e infinito seguram artificialmente os mercados. Grandes empresas avançam rumo à zumbificação.

No passado a consequência desse mecanismo artificial de injeção de dinheiro na economia foi uma inflação no preço dos ativos sem nenhum soluço até 2020. A dose do remédio agora é muito maior que a dose original de 2008. A esperança é que o efeito colateral seja o mesmo ou até amplificado.

O velho ditado diz que a diferença entre o remédio e veneno é a dose, e isso está sendo colocado à prova nesse momento. Se funcionar, por mais que os resultados sejam ruins e os lucros decrescentes, as ações irão subir cada vez mais. É uma loteria. Se a demanda voltar, eventualmente, tudo pode dar certo. Se a demanda não voltar e os resultados forem ruins, em poucos trimestres essa política não será mais sustentável.

Se der certo, ações sobem, porém a zumbificação do mercado se intensifica e teremos uma infinidade de dívida que jamais será paga. Estaremos contratando um colapso no longo prazo. Se der errado, estamos contratando um colapso no curto prazo.

O colapso será o custo a ser pago por não deixarmos as empresas falirem, por não deixarmos mais o capitalismo funcionar como ele foi projetado, por insistir em andar de rodinhas por todo o sempre. Meu pai me dizia que cair faz parte da diversão, hoje isso está completamente fora de moda.

Moral da história: compre Bitcoin antes que seja tarde.