A capacidade de reação e organização da China não cansam de impressionar o Ocidente, seja no tratamento de um vírus, na criação de infraestrutura ou no desenvolvimento de novas tecnologias. Exemplos dessa capacidade são os projetos “Made in China”, que pretende transformar o país em uma potência (ainda maior) em robótica e inteligência artificial até 2025, ou a chamada “Nova Rota da Seda”, que desenvolve infraestrutura marítima, ferroviária e rodoviária em países aliados a um orçamento estimado da ordem de US$ 4-8 trilhões.
A proibição de comercialização de Criptomoeda e IPOs em território chinês poderia dar a falsa impressão de pouco interesse ou medo. Pelo contrário, o governo chinês tem o olho grande para este setor há tempos e, da mesma forma que outras iniciativas que citei acima, as proporções são gigantescas. Inclusive, as proibições são tidas muito mais como estratégia para enfraquecer a concorrência do que medo de inovação.
Explico: já em 2016 (antes dos banimentos) o governo chinês tinha uma política nacional para blockchain e rumores indicam que o desenvolvimento de uma Criptomoeda nacional já estava em pleno andamento.
Desde então, muito se especulou sobre as intenções que o governo chinês e, agora, à medida que os principais projetos amadurecem, mais detalhes são divulgados. Hoje, são conhecidas duas iniciativas principais: o digital Renminbi (moeda chinesa) e o “Serviço Nacional de Blockchain” (BNS).
O primeiro é uma Criptomoeda, mas está a milhas distância do Bitcoin. Com base nas informações até agora divulgadas, acredita-se que a moeda não é desenvolvida em blockchain e é fortemente centralizada (o que já era esperado). Quando à privacidade das transações, elas serão sigilosas entre usuários, mas não do governo (também esperado).
Esta iniciativa foi descrita inicialmente pelo governo chinês como uma medida para proteger sua “soberania cambial”. Obviamente, os planos são muito mais amplos. Com o suporte dos grandes conglomerados chineses, como Huwaii, Baidu e Alibaba, e tecnologia de ponta, a China estaria em condição de se tornar independente do sistema financeiro Ocidental e poderia no futuro substituir o dólar nas transações internacionais e reserva de valor.
Quanto ao blockchain, não é porque a Criptomoeda chinesa não utilizará esta tecnologia que não há interesse, pelo contrário. Como eu disse anteriormente, já em 2016 foi estabelecida uma política nacional para o tema. Fruto desta estratégia é o lançamento este ano do “Serviço Nacional de Blockchain” (BNS). O propósito deste projeto é criar infraestrutura para auxiliar iniciativas e tornar a China a “terra do blockchain”. A ideia é concorrer com iniciativas privadas como Microsoft Azure ou Amazon AWS na computação em nuvem para estes projetos. Para isso será ofertada infraestrutura subsidiada e ferramentas para facilitar e tornar o desenvolvimento mais ágil.
Neste mês de abril, os dois projetos entraram em etapas de testes reais.
A Criptomoeda chinesa começará a ser usada para pagamentos em restaurantes e lojas de varejo na província de Hebei. Diz-se que até 2022, na Olimpíada de Inverno de Pequim, o Remnibi digital já estará em plena operação. Quanto ao BNS, já existem 128 servidores públicos, dos quais 76 na China. Até o final deste ano o número total deve chegar a 200.
Estas metas audaciosas e o que foi alcançado até agora mostram que a utilização em larga escala de Criptomoedas e blockchain está próxima e, larga escala na China significa proporções gigantescas. Por isso, outros países têm pouco tempo para correr atrás do prejuízo se não quiserem ficar dependentes do país asiático na revolução financeira que deve acontecer nos próximos anos.