blockchain

Revisitar temas relevantes para o ecossistema de blockchains e criptomoedas é importante porque estamos tratando de temas complexos e distantes do dia-a-dia. Assim, ao abordá-los mais de uma vez e de forma diferente, espero esclarecer eventuais dúvidas. Por isso, hoje vou falar novamente sobre a aplicação de blockchains como banco de dados.

Os bancos de dados surgiram na década de 70 e hoje toda empresa que se prese tem o seu. Na forma mais clássica, estes bancos são compostos por tabelas em que dados de clientes, produtos, fornecedores ou qualquer outra informação que a empresa venha a precisar são adicionadas. Esta estrutura é considerada rígida porque cada uma das tabelas é previamente concebida e exige que uma quantidade de atributos sejam preenchidos para cada novo registro. No caso de dados de colaboradores, tem-se uma tabela de funcionários com informações como nome, data de nascimento, salário etc. Este formato baseado em tabelas foi um sucesso gigantesco e mesmo com os avanços obtidos nesses quase 50 anos, sua essência permaneceu a mesma.

A vantagem que blockchains possuem em relação a este sistema consagrado é a possibilidade de construção de registros de forma compartilhada e descentralizada. Para entender o que isto quer dizer, vamos analisar como isto alteraria o fluxo de dados gerados a partir da compra de um livro da Amazon.

No formato tradicional, as diversas empresas que compõem a cadeia produtiva que leva o livro até sua casa (editora, gráfica, empresa de logística e a própria Amazon) têm seus bancos de dados próprios. Isto gera muitas duplicidades porque, por exemplo, tanto a empresa de logística quanto a Amazon precisam saber o horário da entrega do livro na sua casa, logo este registro vai estar repetido nos dois banco de dados. O que além de contra-produtivo, também tem grande possibilidade de incoerências.

O que o blockchain permite, é que as mesmas transações que hoje armazenam pagamentos em Bitcoin, registrem também quando a gráfica forneceu os livros para a transportadora e o quando produto foi entregue ao cliente final. Como estes registros são públicos, todos que precisem dessa informação, poderiam acessá-la diretamente do blockchain, sem duplicações. Além disso, propriedades intrínsecas aos blockchains seriam de grande utilidade para tornar os registros mais confiáveis. Por exemplo, uma operação seria considerada válida somente se a maior parte dos participantes da rede à aprovassem e, uma vez aprovados, estes registros não poderiam ser modificados.

No entanto para que este tipo de solução vire realidade, algumas questões ainda precisam ser resolvidas, principalmente no que diz respeito a falta de privacidade e a maior complexidade no processamento das informações.

No caso da privacidade, a Amazon pode não querer que seus concorrentes tenham acesso a sua rotina operacional, algo completamente possível em se tratando de registros públicos. A alternativa neste caso tem sido o investimento em blockchains privados, em que o acesso é limitado a alguns players.

Quanto à complexidade no processamento dos dados, a “culpa” é justamente da ausência das tabelas estruturadas existentes nos banco de dados tradicionais. Como os registros ficariam espalhados por diversas transações, dificulta-se a interpretação dos mesmos. Empresas especializadas neste tipo de análise têm recebido aportes milionários e utilizam principalmente algoritmos de inteligência artificial.

Por fim, vale acrescentar que blockchains não vão substituir todos os bancos de dados, muito pelo contrário, esta tecnologia é usada por quase 50 anos porque é muito eficiente. O que deve acontecer é a migração em áreas em que uma maior integração entre diferentes empresas faz-se necessária e uma dessas aplicações é justamente em cadeias produtivas complexas.