Sobre política monetária, o interesse do público e a hora de comprar criptomoedas
Postado em 01/11/2023
Nome do Autor felipe.benghi
Uma das características das criptomoedas que tipicamente atrai investidores é a clareza na política monetária. Isto porque independentemente do partido que está no poder, do crescimento da economia ou de pressão popular, a quantidade de novas moedas colocadas em circulação segue regras pré-estabelecidas.
Por exemplo, a emissão de novos Bitcoins é reduzida pela metade a cada quatro anos, ou seja, a quantidade de moedas geradas para remunerar os servidores que validam transações é dividida por dois ao final destes ciclos. Lá nos primórdios da rede, criavam-se 50 Bitcoins a cada dez minutos. Atualmente essa taxa é de 6,25 e esta quantia continuará reduzindo até sessar definitivamente por volta do ano 2.140.
Esta previsibilidade pode dar a impressão de que o volume disponível de uma criptomoeda é facilmente calculável, mas não é bem assim. Acontece que concorrendo com a taxa de emissão de novas moedas, que é sim pré-determinada, existe também um certo número de moedas que saem de circulação. Isto pode ocorrer por acidente, quando usuários perdem definitivamente o acesso as suas contas, ou de forma intencional, como parte da política monetária de um blockchain. Por exemplo, para se realizar uma transação na rede Ethereum, paga-se uma taxa e essa quantia é removida permanentemente de circulação.
A diferença entre a criação e a “destruição” de moedas é um indicador que costuma interessar bastante aos investidores. Isto porque, se mais moedas são destruídas do que criadas, as moedas “sobreviventes” tendem a se valorizar e a rede é chamada de deflacionária. Por outro lado, em uma rede inflacionária, mais moedas são colocadas em circulação do que removidas, o que poder levar à redução do preço do ativo. Seguindo essa lógica, o Bitcoin é considerado inflacionário, uma vez que até 2.140 novas moedas estarão sendo emitidas.
Apesar de ser considerado importante para os investidores, nem sempre é tão óbvio determinar se uma moeda é inflacionária ou deflacionária e a eficácia dessa métrica também é bastante contestada.
Por exemplo, o Ether, moeda da rede Ethereum, foi inflacionária até o final de 2022, quando trocou o seu sistema de validação de transações, evento que ficou conhecido como Merge. Depois disso, a moeda passou a ser deflacionária.
Esta mudança de tendência fica bem visível no gráfico abaixo, que mostra o volume total existente de Ether (ETH supply), como uma rampa ascendente (inflacionária) até o Merge e, depois disso, mudando para uma reta levemente descendente (deflacionária).
Mesmo tendo sido programada para funcionar conforme o gráfico acima, nem todas as variáveis são controladas pelos desenvolvedores. Se dermos um zoom no volume total de moedas disponível nos últimos meses na rede Ethereum, vemos que a quantidade vem aumentado, ou seja, está ocorrendo inflação:
Isto mesmo. Uma rede que foi pensada para gerar valor para quem poupasse suas moedas através do tempo tem tido um comportado oposto.
O “culpado” desta inversão de tendência é o bear-market (mercado em baixa) que estamos vivendo. Já que o baixo número de transações processadas faz com sejam cobradas menos taxas e, consequentemente, menos moedas sejam destruídas. Em contrapartida, a criação de novas moedas continua seguindo as regras de sempre, o que faz com que o volume total aumente.
Se estivéssemos em um bull-market (mercado em alta), muitos especialistas já estariam pregando o fim do Ethereum. Mas estamos com o mercado tão em baixa, mas tão em baixa, que ninguém está ligando para a inflação do Ether. E, por mais contraintuitivo que possa parecer, são justamente nestas épocas em que os preços estão ruins e as métricas indicam que vai tudo piorar que historicamente tivemos as maiores valorizações.