Este mês, um dos meus portais favoritos de notícias sobre criptomoedas completa 10 anos. Para comemorar, a CoinDesk lançou uma edição da sua revista mensal com as maiores histórias que cobriu nesta década e suas consequências.
Gostei bastante porque normalmente não ficamos sabendo como as histórias continuam depois que saem das manchetes e qual o destino das personagens anos depois. Além disso, como o Bitcoin só insurgiu em 2009, esta retrospectiva acaba levando em consideração quase toda a época “mainstream” das criptomoedas.
Na sequência, selecionei alguns dos momentos mencionados pelo Portal. Para quem quiser maiores detalhes, é só acessar este link.
Invenção do Ethereum (2015)
Uma retrospectiva da história das criptomoedas não seria completa se não citasse o nascimento do Ethereum. Não só porque ele hoje tem o maior número de desenvolvedores ativos, mas também porque boa parte dos novos sistemas lançados tenta ser uma cópia sua melhorada. Além disso, como veremos a seguir, boa parte dos fatos mais relevantes relacionados às criptomoedas envolvem justamente o Ethereum.
A ideia surgiu lá em 2013 com Vitalik Buterin, um programador russo-canadense que ficou infeliz quando reduziu-se a capacidade de execução de código na rede do Bitcoin. Dois anos depois, o Ethereum era lançado oficialmente. De lá para cá, foram implementadas diversas melhorias, como uma reestruturação quase que total no ano passado (2022), que reduziu drasticamente o consumo de energia elétrica e que promete aumentar bastante a capacidade de processamento da rede no futuro.
Pelo pioneirismo, flexibilidade e por estar constantemente em evolução, o Ethereum é normalmente a plataforma escolhida até mesmo por empresas do setor financeiro tradicional, como Visa e JP Morgan. Assim, é difícil imaginar um futuro para as criptomoedas em que o Ethereum não esteja entre os maiores blockchains.
ICOs (2018)
Uma ICO (Initial Coin Offering) é quando um grupo de fundadores decide financiar uma ideia através da emissão de tokens (ou moedas) comercializadas em algum blockchain).
Hoje essa é uma prática comum, mas ela começou a se popularizar em 2015 justamente com o ICO da rede Ethereum. Não foi o primeiro ICO, mas foi o primeiro com uma cara “profissional”: aberto ao público geral, com fundadores conhecidos, assessoramento jurídico e até mesmo um “Termos e Condições” da compra.
Depois disso, em apenas 3 anos, tínhamos uma indústria de ICOs.
Somente nos primeiros seis meses de 2018, destinou-se mais de USD 7 bilhões para o financiamento de projetos diversos. Infelizmente, hoje estima-se que 80% deles eram fraudes completas, ou seja, os fundadores nunca tiveram a intenção de lançar um produto ou serviço real, sumindo do mapa com o dinheiro dos investidores.
Alguns bons projetos que começaram nessa época e se tornaram muito sucedidos como Aave (AAVE), Filecoin (FIL) e Cosmos (ATOM), mas essa não é a realidade para a maior parte das iniciativas.
Apesar das perdas, você acha a lição foi aprendida?
NFTs e a Meme-Economia (2021)
Não, da próxima vez não foi diferente.
Vamos voltar alguns anos na época da pandemia. Olhando em retrospectiva, o ambiente macroeconômico era favorável aos investimentos de alto risco: juros extremamente baixos, distribuição de dinheiro para a população e mercado de ações em alta.
Alie ao dinheiro fácil, o fato de estar todo mundo trancado em casa e cheio de energia. Qual o resultado? Uma nova safra de jovens investidores chegando ao mercado e orientada por canais de Youtube e especialistas de Tik-Tok.
Memes passaram a ser comercializados como NFTs e criptomoedas criadas como brincadeira se valorizaram muito. Por exemplo, a criptomoeda Dogecoin chegou a ter um valor total de mercado de USD 75 bilhões, hoje, vale pouco mais de 1/6 disso.
Obviamente, uma hora a banda para de tocar e a saída de emergência é pequena quando o teatro paga fogo. Como eu adiantei, “dessa vez a história não foi diferente”. Valores caíram a quase 10% do pico e vendas diminuíram 83% em apenas um ano.
Hack do Mt. Gox (2014), Hack do DAO (2016), Falência da FTX (2022)
Nesta década de criptomoedas não faltaram problemas de compliance. Tivemos uma combinação de fraquezas em exchanges (Hack do Mt. Gox), erros nos códigos de smart-contracts (Hack do DAO) e picaretagem de proprietários (Falência da FTX). Isto só para citar os casos que afetaram a confiança do mercado de criptomoedas. Casos pequenos de pessoas fazendo besteira, nem se contam mais.
Olhando pelo lado positivo, estas crises ajudaram a aumentar as medidas de segurança e fomentou-se a pouca legislação criada até o momento. Mesmo assim, ainda temos um longo caminho pela frente.
(2021) O Bitcoin se torna salvadorenho
O presidente de El Salvador, Nayib Bukele, surpreendeu o mundo em 2021 ao anunciar que o país passaria a utilizar o Bitcoin como moeda oficial, um passo sem precedentes no mundo. A medida, que para os salvadorenhos buscava reduzir a dependência do dólar americano, foi visto pelo resto do mundo como a elevação do Bitcoin ao mesmo status de uma moeda nacional e um passo importante para a adoção em massa da primeira criptomoeda da história.
Dois anos depois e passada a empolgação, ainda não é possível saber se o Bitcoin de fato “pegou” na ilha, mesmo com a distribuição de USD 30 em Bitcoin para todos os habitantes. Tudo bem que o preço da criptomoeda não ajudou: no momento do anúncio da adoção, ela era cotada a USD 30 mil, depois subiu para USD 45 mil e, finalmente, o preço despencou e chegou a bater USD 15 mil em alguns momentos. Não temos dados uma precisos sobre a taxa de uso atual, mas segundo uma pesquisa de 2022 da U.S. National Bureau of Economic Research, entorno de 40% da população salvadorenha ainda usa os Bitcoins recebidos.
De forma mais concreta e aproveitando-se da legislação favorável, ocorreu a abertura de empresas e filiais na ilha. Este é o caso das Galoy e Strike por exemplo. Ainda é cedo para saber se o experimento em El Salvador foi de fato bem-sucedido. Talvez na retrospectiva de 20 anos da CoinDesk tenhamos finalmente um parecer definitivo.