Hoje não falo de investimentos, mas justifico o porquê meu dinheiro está em Bitcoin.
Em minha historinha, você é um feliz proprietário de uma unidade residencial em um condomínio clube.
O que é de se esperar é que logo após a entrega do empreendimento os moradores do condomínio se organizem de modo a criar o modelo de gestão.
Serão nomeados conselheiros, será criado o conselho fiscal, será redigido um regimento interno, serão contratados funcionários para limpeza, conservação, segurança, controle de acesso etc., e será eleito um síndico.
Sabemos que não existe mundo perfeito, mas dentro do possível é de se esperar que o condomínio passe a funcionar.
Piscinas limpas, garagens iluminadas, grama cortada etc. Todas as funcionalidades prometidas no momento da aquisição funcionando como planejado e manutenção em dia.
Uma vez por ano, os moradores se reúnem, aprovam contas, discutem novos projetos e decidem democraticamente a equipe para realizar a próxima gestão. Há quem defenda uma nova piscina, há quem ache a nova piscina um absurdo, mas enfim, a maioria decide.
Tudo isso custa… Viver em um condomínio clube tem seu custo. A soma desses custos é mensalmente distribuída aos condôminos, geralmente pela sua fração ideal.
Com o passar dos anos, os funcionários vão ficando antigos e notam que os moradores estão se acostumando com as mesmas pessoas, mesmas rotinas e no geral começa a existir um grande desinteresse pela vida no condomínio, e é aí que a farra começa.
O conselho fiscal já não é mais austero, pelo contrário… O síndico fez um esquema com a empresa de manutenção do portão e ganha uma comissão a cada conserto, devidamente dividido com o zelador.
O zelador influencia o síndico a aumentar o seu próprio salário, e a ganhar poder de gestão sobre os demais funcionários da limpeza.
Toda e qualquer reforma envolve a pequena empreiteira do cunhado do subsíndico e as lâmpadas passam a ser adquiridas pelo triplo do preço na loja do primo do presidente do conselho fiscal.
A coisa ficou tão grave que com o passar dos anos, os salões de festas, a churrasqueira e a piscina passaram a ser de uso exclusivo dos funcionários do condomínio e seus familiares, sendo os moradores impedidos, afinal, nada mais justo que prover bem estar para quem está lá lutando para manter o seu condomínio em dia, limpo e funcional.
E ai de quem chiar… Poderá ser expulso de casa! O conselho de administração, chefiado pelo careca do 301B modificou seu nome para Supremo Conselho do Condomínio e seus integrantes passaram a usar toga.
A mais recente novidade foi uma alteração no regimento interno na qual funcionários do condomínio podem votar nas eleições de síndico, e isso surpreendentemente passou… Nessa altura do campeonato, a zeladora já recebe um salario na faixa dos 44 mil reais, próximo ao teto definido pelo regimento. No mês que vem ela aposenta, com valor integral, bancado pelo condomínio, que irá abrir um concurso para contratar mais duas zeladoras para substituí-la.
É raro quando alguém reclama do boleto. O morador do 902B certo dia reclamou, em vão, pois é óbvio que bancar picanha das festas da faculdade de medicina paga pelo condomínio para a filha do tratador da piscina não custa barato, mas manter a piscina em dia é fundamental, afinal os familiares dos funcionares do condomínio contam com essa piscina.
Na última eleição de síndico o pau comeu solto. Havia praticamente uma guerra de facções entre a torre A e a torre B, pois a turma da torre A queria eleger o conselho fiscal para passar a roubar no lugar da turma da torre B, mas em momento algum houve a intenção de acabar com o esquema perverso que manda boletos impagáveis para os moradores.
Quando muito, alguns moradores que assim como a panela de sapos que ferve lentamente, foram sendo vítimas da situação, se revoltaram. Os revoltados apontavam para o condomínio ao lado enaltecendo suas características, diziam fervorosamente:
“Vejam, no condomínio ao lado, a pintura dos muros e meios fios internos ao condomínio estão em dia, as árvores estão perfeitamente podadas e lá o porteiro bate continência para o morador. Lá os moradores ainda podem usufruir das piscinas e salões de festa. Conversando com quem mora lá, nunca ouvimos uma queixa sequer do preço do condomínio”.
Qual é surpresa ao descobrir que no tal condomínio ao lado, a turma é ainda mais esperta. De fato, tudo funciona muito bem, mas quem paga o boleto para manter o condomínio vizinho é você! São os moradores do seu condomínio que rateiam os custos do vizinho e tudo de acordo com o regimento interno que você aprovou e jura defender.
Detalhe que a escola de balé e natação das filhas solteiras dos moradores do condomínio vizinhos são pagos por você, para sempre, enquanto elas forem solteiras…
Ainda tem gente que acredita que a turma do condomínio vizinho, bancado pelo seu dinheiro e protegido pelo regimento interno do seu condomínio, tem incentivos para mudar esse sistema… Pobres sonhadores.
Percebem o que aconteceu?
Devagarinho, passo a passo a democracia se converteu em um esquema de neo-feudalismo. A taxa de condomínio inicialmente desenhada para ser a justa proporção da vida em comum virou um meio de financiamento de agentes corruptos e manutenção de estilos de vida luxuosos de quem está parasitando o sistema.
Se a historinha contada fosse de fato no seu condomínio, você certamente diria: “Que bando de idiotas, porque não se revoltam, porque não fazem alguma coisa”.
Pois é.
O condomínio está começando a rachar. Os moradores simplesmente não possuem mais dinheiro para continuar bancando o sistema.
Ao viver no padrão Bitcoin, a volatilidade é um pequeno custo comparado ao imenso benefício de contribuir para a autodestruição do atual modelo de gestão. Vivo assim há cerca de 4 anos, sem arrependimentos.
Existem ferramentas a sua disposição e Bitcoin é uma das mais simples e democráticas delas. Opt-out!