Se tivéssemos como ignorar uma retração de 65% no preço, diríamos que o ano de 2022 até que foi bastante tranquilo para o Bitcoin. Digo isso porque, em anos anteriores, houve polêmicas como pacotes de atualização sendo canceladas em cima da hora, criação de redes dissidentes, banimentos de países, etc. Em 2022, tivemos “somente” a tradicional retração de um mercado que funciona em ciclos.

Em comparação, outros blockchains fizeram atualizações importantes em seu core. O Ethereum, por exemplo, relançou sua rede quase que inteiramente do zero e sem compatibilidade com o sistema anterior. Movimento que levou perto de cinco anos para ser desenvolvido e ainda não está completamente finalizado.

A última atualização relevante no Bitcoin é de novembro de 2021, chamada Taproot e que buscou aumentar privacidade, otimização e escalabilidade. De lá para cá, somente melhorias pontuais. Por exemplo, agora é possível substituir uma transação previamente emitida, mas ainda não processada.

Como espectador desse movimento, tenho a impressão de que atualmente a ênfase está mais no desenvolvimento de redes secundárias, que utilizam o blockchain do Bitcoin, do que no Bitcoin em si. Isto porque diferentemente do Ethereum, que busca ser um computador universal, o Bitcoin tem se mantido muito mais como um livro de registros. Então, para que novas funcionalidades sejam agregadas, os desenvolvedores criam redes paralelas, cada qual com suas especificidades, mas que armazenam dados no blockchain do Bitcoin para garantir a segurança.

A Lightning Network, uma rede de pagamentos instantâneos em Bitcoin, é o melhor exemplo do sucesso dessa arquitetura. Em 2022, a capacidade de transações dessa rede bateu todos os recordes. Além disso, melhorias na parte de privacidade e facilidade de uso (como pagamento por QR Code) estão em progresso.

A grande novidade da Lightning, entretanto, foi a adição de suporte à emissão de tokens, de forma similar à rede Ethereum, mas usando Bitcoins como intermediário – para quem quiser mais detalhes, o nome desse protocolo é Taro. Então, hoje qualquer um pode criar tokens (por exemplo, o PandaCoin, em homenagem a um leitor assíduo desta coluna) e ter as operações realizadas com a segurança que a rede do Bitcoin oferece.

Alguns outros exemplos de projetos que ajudam a expandir as funcionalidades do Bitcoin são a Stacks Network e a Bitcoin Ordinals. A primeira foca no processamento de smart-contracts (ou programas de computador que rodam em blockchain) e, a segunda, permite a geração de “registros de propriedade intelectual” (vulgo NFTs). Tudo sendo pago em Bitcoin.

Quero também citar um projeto encabeçado por um brasileiro e que foi lançado há apenas alguns meses. Trata-se do Nostr, uma rede social resistente à censura e que já conta com mais de 300 mil inscritos. Muitas pessoas relevantes no meio criaram seu perfil e doaram para o desenvolvimento, dentre eles o Jack Dorsey (criador do Twitter) e Michael Saylor (grande investidor em Bitcoins).

Enfim, pode parecer que o Bitcoin está parado, mas isto não é por acaso. Trata-se de uma estratégia de manter core estável, enquanto cada aplicação cuida das personalizações necessárias. Com isso, temos menos polêmicas e riscos, pois os potenciais efeitos de erros ficam restritos às redes secundárias. Até o momento, dados como da rede Lightning mostram que essa pode ser uma decisão acertada.

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