Descentralização é um conceito bastante ignorado nos investimentos tradicionais. Por exemplo, eu vejo poucos investidores questionando o que aconteceria com a Tesla caso Elon Musk fosse atropelado por um ônibus ou decidisse viver junto com os índios ianomâmis. Em contrapartida, quando se trata de criptomoedas, este é um assunto bastante discutido. Afinal, seria no mínimo estranho que uma tecnologia que busca ser resiliente a censura fosse controlada por poucos.
Como então podemos saber quais redes (Bitcoin, Ethereum, BNB…) seriam menos centralizadas, por consequência, mais adequadas a seus princípios fundamentais?
Para ajudar nessa busca, uma métrica chamada Coeficiente de Nakamoto, em homenagem ao criador do Bitcoin, foi criada por Balaji S. Srinivasan. Para o cálculo, esta técnica se baseia em seis critérios. São eles:
- Mineração: quantos servidores aprovam as novas transferências e ficam com a remuneração por esse trabalho?
- Cliente (seguindo conceito de cliente/servidor): existem vários jeitos (clientes) de se acessar a rede ou um bug pode afetar todos os usuários?
- Desenvolvedores: são sempre as mesmas pessoas que fazem as alterações no código fonte, ou a comunidade de programadores é grande?
- Exchanges: várias exchanges aceitam a criptomoeda ou, se algumas cessarem a negociação, faltará liquidez ao mercado?
- Nós: os servidores que movimentam a rede estão espalhados em diferentes países ou (por exemplo) uma nova legislação rigorosa teria impactos gigantescos?
- Concentração de moedas: as moedas estão concentradas na mão de muitas pessoas ou alguns players podem manipular os preços.
Um dos diferenciais deste Coeficiente de Nakamoto é que ele não mede somente os 6 critérios apresentados acima. Ele também os normaliza frente a medida necessária para afetar o funcionamento da rede. Por exemplo, no Bitcoin 50%+1 dos mineradores precisariam se combinar para prejudicar a rede. No entanto, se a rede avaliada fosse o XRP, esse valor seria de 75%+1. Com isso, as especificidades de cada rede são respeitadas.
O Coeficiente de Nakamoto foi aplicado a diversos blockchains e o resultado é apresentado na tabela abaixo, em que quanto mais alto o coeficiente, mais descentralizada seria a rede.
Blockchain | Nakamoto Coefficient |
Bitcoin | 7,349 |
Avalanche | 26 |
Binance Smart Chain | 7 |
Cosmos | 6 |
Fantom | 3 |
Polygon | 2 |
Solana | 19 |
Terra | 7 |
THORChain | 29 |
Pode parecer surpreendente que o Bitcoin apareça com a rede mais descentralizada, mas, apesar de bons valores para mineração, concentração de moedas e desenvolvedores, quase a totalidade dos usuários acessam o blockchain usando os mesmos clientes (Bitcoin Core os Bitcoin Unlimited). Então há sim espaço para melhorar.
Por fim, por mais que este não seja o único critério a ser levado em consideração antes de se investir em uma criptomoeda, pode servir para ligar uma luz de alerta. Por exemplo, o que aconteceria com as redes Fantom e Polygon, se os seus respectivos criadores resolverem ir junto com o Elon Musk morar com os índios ianomâmis?