Descentralização é um conceito bastante ignorado nos investimentos tradicionais. Por exemplo, eu vejo poucos investidores questionando o que aconteceria com a Tesla caso Elon Musk fosse atropelado por um ônibus ou decidisse viver junto com os índios ianomâmis. Em contrapartida, quando se trata de criptomoedas, este é um assunto bastante discutido. Afinal, seria no mínimo estranho que uma tecnologia que busca ser resiliente a censura fosse controlada por poucos.
Como então podemos saber quais redes (Bitcoin, Ethereum, BNB…) seriam menos centralizadas, por consequência, mais adequadas a seus princípios fundamentais?
Para ajudar nessa busca, uma métrica chamada Coeficiente de Nakamoto, em homenagem ao criador do Bitcoin, foi criada por Balaji S. Srinivasan. Para o cálculo, esta técnica se baseia em seis critérios. São eles:
Um dos diferenciais deste Coeficiente de Nakamoto é que ele não mede somente os 6 critérios apresentados acima. Ele também os normaliza frente a medida necessária para afetar o funcionamento da rede. Por exemplo, no Bitcoin 50%+1 dos mineradores precisariam se combinar para prejudicar a rede. No entanto, se a rede avaliada fosse o XRP, esse valor seria de 75%+1. Com isso, as especificidades de cada rede são respeitadas.
O Coeficiente de Nakamoto foi aplicado a diversos blockchains e o resultado é apresentado na tabela abaixo, em que quanto mais alto o coeficiente, mais descentralizada seria a rede.
| Blockchain | Nakamoto Coefficient |
| Bitcoin | 7,349 |
| Avalanche | 26 |
| Binance Smart Chain | 7 |
| Cosmos | 6 |
| Fantom | 3 |
| Polygon | 2 |
| Solana | 19 |
| Terra | 7 |
| THORChain | 29 |
Pode parecer surpreendente que o Bitcoin apareça com a rede mais descentralizada, mas, apesar de bons valores para mineração, concentração de moedas e desenvolvedores, quase a totalidade dos usuários acessam o blockchain usando os mesmos clientes (Bitcoin Core os Bitcoin Unlimited). Então há sim espaço para melhorar.
Por fim, por mais que este não seja o único critério a ser levado em consideração antes de se investir em uma criptomoeda, pode servir para ligar uma luz de alerta. Por exemplo, o que aconteceria com as redes Fantom e Polygon, se os seus respectivos criadores resolverem ir junto com o Elon Musk morar com os índios ianomâmis?