Mais de 10 anos depois do lançamento do Bitcoin e ainda somos obrigados a escutar que moedas digitais não tem utilidade. Se você ainda tem paciência para gente que diz esse tipo de coisa, o texto de hoje vai te dar mais um argumento para essas discussões.
Diversos Bancos Centrais pelo mundo estão ativamente estudando a implementação de moedas digitais. Alguns países inclusive já fizeram testes controlados e espera-se o lançamento para toda a população em breve.
Curioso para algo que não serve para nada né?
Neste sentido, a China é o país que está mais avançado no processo de digitalização de sua moeda nacional. O desenvolvimento vem de anos e já ocorreram testes com mais de 140,000 transações registradas. Espera-se que em 2022 o Yuan digital seja liberado para toda a população chinesa. Estamos falando de 1 bilhão de pessoas.
O mundo ocidental está atrasado, mas não pode mais ignorar a realidade. Em 2020, um estudo da União Europeia já falava abertamente sobre o Euro Digital. Ministros do G7 publicaram no começo de outubro deste ano os princípios para emissão de moedas digitais por Bancos Centrais.
Quanto à tecnologia que será utilizada, ainda faltam detalhes de como será a implementação (a China não divulga muita coisa). Por isso, o white paper que Hong Kong divulgou há algumas semanas, com uma abordagem mais técnica, é tão interessante. Abaixo alguns pontos abordados.
Dificuldade sem precedentes
A complexidade da emissão e manutenção da infraestrutura para as moedas digitais foi definida como “desafiadora e inédita para os Banco Centrais”. Estamos falando de um sistema que deve rodar 24/7, ser capaz de gerenciar uma quantidade gigantesca de dados e ainda lidar com ataques hacker em larga escala.
Vida longa aos Bancos
Dada a complexidade envolvida, o estudo indica que os Bancos Centrais não seriam capazes de atuar no varejo e seria necessário intermediários. Os Bancos Centrais manteriam então uma rede acessível somente às instituições financeiras e estas disponibilizariam o serviço para a população em geral.
Faz 10 anos que as criptomoedas mostram para o mundo que um sistema financeiro sem intermediários é possível. Seriam os Bancos Centrais menos capazes do que meia dúzia de nerds ou o lobby das instituições é mais forte?
Ou quem sabe os dois…
Privacidade, pero no mucho
Nas criptomoedas, como Bitcoin, é difícil ligar pessoas ao endereço usado para envio/recebimento de transações, o que fornece um certo grau de privacidade. No modelo proposto, as instituições financeiras gerariam estes endereços para seus clientes. Assim, uma pessoa comum que olhasse o registro de operações, não conseguiria identificar as partes envolvidas. No entanto, instituições financeiras e governos poderiam fazer essa conexão para TODAS as transações (não me admira porque a China está tão interessada nesse modelo).
Blockchains são adequados, mas o desempenho é um empecilho
O estudo não teve ressalvas quanto à segurança da utilização de blockchains. Pelo contrário, indicou que a tecnologia por trás das criptomoedas resolve vários problemas complexos. No entanto, a baixa capacidade de transações ainda seria um problema.
Sem novidades neste ponto. Quem acompanha essa newsletter já sabe disso há bastante tempo e do que tem sido feito melhorar a capacidade de processamento dos blockchains.
Conclusão
Não adianta fugir do destino.
As moedas digitais vieram para ficar e cabe ao sistema financeiro e aos governos correrem atrás do tempo perdido. Isto é, se ainda houver interesse nessas moedas “sem lastro” que os países emitem.