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Blog da HashInvest

DeFi – Dando liquidez ao mercado de Criptomoedas

Postado em 05/02/2021

Nome do Autor luis

Texto originalmente publicado na newsletter HashInvest de 01/09/2020

O texto a seguir é longo e meio chato, mas vai te contar com relativa clareza porque os DeFi estão entrando na moda, e vai lhe ajudar a entende para onde caminha o mercado de Criptomoedas nesse momento.

Se você entende bem o que é liquidez e profundidade de mercado, pode pular os dois primeiros tópicos do texto sem nenhum prejuízo. Se esses conceitos não são claros para você, seguem explicações para entendimento superficial.

LIQUIDEZ

Liquidez no mercado financeiro vem a ser a facilidade e o conjunto de condições para que um ativo se transforme em outro.

Por exemplo, o dólar americano é hoje o ativo mais liquido do mundo. Você consegue trocar dólares por praticamente qualquer coisa em qualquer quantidade pelo valor nominal da coisa. Basicamente, com dólares você compra o que quiser, na hora em que você tem vontade e geralmente obtém melhores preços por isso.

Na outra ponta, temos obras de arte. Por mais valiosas que sejam, são altamente ilíquidas. Não é raro que dada a falta de liquidez nesse mercado, sejam necessários leilões organizados, no qual inclusive, irá se descobrir o real valor do ativo. É um processo de meses entre a transformação de uma obra de arte de primeira linha e dinheiro.

No meio do caminho temos os imóveis, cuja liquidez é uma variável controlada pelo mercado e pelo proprietário. Se o proprietário desejar vender rápido ele precisa baixar o preço… Se não tem pressa, coloca a valor ligeiramente superior ao de mercado. Não são propriamente líquidos e tem sua linha de base relativamente conhecida (valor do m2 em determinado local).

A falta de liquidez em qualquer mercado gera grandes distorções… Não precisamos ir longe para ver um exemplo real. Com câmbio acima de 5 Reais, produtos e comerciantes de arroz passaram a discordar sobre o valor justo da mercadoria. Produtores encontraram compradores fora do país e a mercadoria ficou escassa. A falta de liquidez resultou numa brutal distorção de preços no comercio local.

É assim com tudo. Quanto menos liquido o mercado, maior a distorção em torno do preço, para mais e para menos.

PROFUNDIDADE DE MERCADO e LIVRO DE OFERTAS

Gáfico com preço, profundidade de mercado e livro de ofertas do Bitstamp

Desde que o mundo é mundo, o mercado ajusta o preço de um determinado ativo por meio de ofertas de compra e ofertas de venda, ou seja, quem quer vender determina um preço de venda e quem quer comprar determina quanto quer pagar. Quando chegam a um acordo um negócio é fechado.

Profundidade de mercado vem a ser a quantidade associada a cada preço. O exemplo mais ilustrativo para demonstra didaticamente a profundidade de mercado é a venda de passagens aéreas. Num voo com 300 lugares, a companhia vai fazer a oferta de 10 assentos ultra promocionais, 50 assentos promocionais, 200 assentos a preços “de tabela”, 20 assentos mais caros e 20 assentos caríssimos… A companhia criou um chamado “livro de ofertas” de venda.

Podemos dizer que se você está disposto a pagar qualquer preço pela sua passagem, a “profundidade do mercado” para esse voo é de 300, ou seja, qualquer passagem lhe serve. Se você limitou sua compra a passagens promocionais, a “profundidade de mercado” para esse critério é 60… E se você quiser comprar 320 passagens e não existem voos adicionais para o destino, você se ferrou, pois não existe liquidez em nenhuma camada do “livro de ofertas”.

O mesmo vale para o outro lado. Você pode construir um “livro de ofertas de compra” de compra. Agora você é dono de uma concessionária de veículos com grande poder de fogo… Você negocia com a fábrica que pelo preço de tabela você está disposto a pedir 3 carros, com um desconto de 10% você aumenta seu pedido para 10 carros e se a fábrica lhe oferecer um desconto de 30% você coloca uma ordem de compra de 50 veículos.

O livro de ofertas de compra e venda nos diz sobre a liquidez de um determinado bem, indicando as quantidades e preços que compradores e vendedores estão dispostos a negociar.

O preço de uma ação por exemplo é exatamente o preço do último negócio realizado, em que uma ordem de compra encontrou uma ordem de venda (ou você versa). O próximo negócio não necessariamente acontecerá no mesmo preço, compradores e vendedores estarão mais ou menos dispostos aos negócios e ajustarão os preços conforme a demanda.

UM PROBLEMA GIGANTE EM TODOS OS MERCADOS

Desde que o mundo é mundo, o mercado ajusta o preço de um determinado ativo por meio de ofertas de compra e ofertas de venda, ou seja, quem quer vender determina um preço de venda e quem quer comprar determina quanto quer pagar. Quando chegam a um acordo um negócio é fechado.

E se não houver liquidez? E se os livros de ofertas de compras e de vendas estiverem vazios? É impressionante a quantidade de ativos ilíquidos que existem no mercado. Até então, não havia muito o que fazer. É meio que uma espiral negativa. Vendedores não cotam porque não sabem o quanto vale, compradores não compram porque não sabem onde têm.

Em ações por exemplo, empresas de baixa liquidez são as chamadas “microcaps”, em que poucas centenas de milhares de reais em compra ou venda de ações movimentam o mercado de forma drástica (ao passo que não fariam cócegas ao valor de ações como Vale ou Petrobras, por exemplo).

Nessa altura do campeonato, espero que você tenha entendido o tamanho do problema que é negociar um ativo sem liquidez… Até então, se não houvessem compradores e vendedores para um determinado ativo, não tinha negócio…

COMO ASSIM ATÉ ENTÃO?

Uma solução para dar liquidez à ativos ilíquidos que não se baseia em um livro de ofertas foi inventada… Tem bastante gente inteligente nesse mundo…

Os primeiros artigos falando sobre esse tema são de 2000 e 2002. A solução chama-se “Liquidity pool”, vou traduzir livremente para “estoque de liquidez”, e que no mundo das Criptomoedas foi implementado com grande competência e hoje é um dos braços da chamada DeFi (Finanças descentralizadas).

Sob a ótica de um estoque de liquidez não é mais necessário um livro de ofertas, mas sim pessoas que possuem os ativos e estejam dispostas a alugar esses ativos em troca de uma tarifa. As pessoas não precisam comprar ou vender esses ativos, apenas disponibilizá-los para um “liquidity pool”.

No mundo das Criptomoedas, a cultura do “buy and hold” é fortíssima e ganhou o meme “HODL” que é repetido quase que como um mantra entre os que acreditam que o mercado irá amadurecer, crescer e expandir, logo, o que não faltam são pessoas possuidoras de ativos que não estão afim de vendê-los.

LIQUIDITY POOLS

Quantidade de uma moeda em x, quantidade de outra em y e a curva é a taxa de câmbio

Por óbvio que a coisa tem suas minúcias, mas o objetivo aqui é fazer você entender de forma resumida. Um estoque de liquidez implementa uma fórmula matemática “x * y = k”, ou seja, o câmbio (preço de compra/venda) de um ativo é determinado pelo estoque dos ativos no “liquidity pool”.

Ou seja, o preço de compra e venda é ajustado por uma fórmula e cobra-se uma tarifa fixa em cada troca (e é daí que quem contribui com o estoque de liquidez é remunerado).

Exemplo didático (vou desconsiderar a tarifa, tipicamente 0,3% só para simplificar o entendimento):

Vamos supor que temos um “liquidity pool” com 10.000 dólares (x) e 53.000 Reais (y). Multiplicando os dois valores obtemos a constante (k) e que o câmbio oficial seja de 5,30 Reais por dólar. (Só por curiosidade, os pools possuem dezenas de milhões, alguns deles, centenas de milhões de dólares em valor).

Caso alguém queira comprar 100 dólares de nosso pool… Ou seja, mandar Reais para o pool e sacar dólares. Qual seria o preço? Se você fizer as contas, para manter o nosso (k) após essa operação, faríamos uma oferta com câmbio de R$ 5,354 Reais por dólar.

Agora temos em nosso pool 9.900 dólares e 53.535 Reais, ou seja, nos faltam dólares e nos sobram Reais quando comprado ao estado inicial.

Para manter o nosso (k), uma nova oferta de venda de 100 dólares seria cotada agora a 5,463 Reais por dólar, ou seja, o pool está desestimulando a venda de novos dólares e gerando uma excelente oportunidade para quem tem dólar e quiser vender ganhar um bom dinheiro em Reais.

Nesse exato momento o nosso pool está disposto a comprar os mesmos 100 USD pelos exatos 5,354 Reais por dólar e voltar ao estágio inicial, ou uma quantidade menor, digamos, 50 USD por um câmbio de USD 5,380 Reais por dólar (um prêmio de 1,52% sobre o valor de mercado).

Se você se perdeu nas contas, relaxe, o importante é saber que a fórmula (x * y = k) vai estabelecer um câmbio de forma a estimular o equilíbrio do estoque de liquidez. Sempre que houver desiquilíbrio haverá uma oferta vantajosa para quem estiver disposto a reequilibrar o nosso pool.

Como no mercado, seja qual ele for, sempre existe aquele que busca obter uma vantagem (lucro), o pool vai sempre buscar o equilíbrio. A cada troca, uma pequena tarifa é cobrada. Essa pequena tarifa remunera os participantes do pulmão de liquidez, gerando rentabilidade.

Veja que diferente de uma Exchange, o pool não busca obter lucro do spread entre compra e venda, pois sempre haverá um spread que compense um eventual lucro anterior de modo a buscar o equilíbrio do estoque.

DeFi

Embora aplicáveis a qualquer mercado, o pulo do gato aqui é que as plataformas de contratos inteligentes, os chamados “smart-contracts” conseguem implementar estoques de liquidez sem a necessidade de confiar em uma parte terceira, ou seja, você consegue disponibilizar seus tokens para as ”liquidity pools” sem se você se desfazer deles ao passo em que o contrato inteligente te remunera enquanto os seus recursos estiverem provendo liquidez a quem deseja fazer trocas do token A pelo token B. Essa operação recebeu o nome de swap.

A rede Ethereum é basicamente uma infraestrutura para a criação de tokens, até então completamente ilíquidos e por muitas vezes não listados em nenhum Exchange. Do dia para a noite uma enorme quantidade de tokens passaram a ter liquidez, e de quebra, passaram a gerar rendimentos.

Stablecoins como USDT (Theter) podem hoje ser disponibilizadas para “liquidity pools” contra BUSD (Binance Dólar) por exemplo. Ou seja, você tem a possibilidade de ter um investimento com tokens lastreados em dólar nas duas pontas e lucrar provendo liquidez entre eles, em alguns casos com rendimentos de fazer inveja a qualquer renda fixa sem precisar abrir mão e suas moedas.

RISCOS

Por óbvio que nem tudo é alegria. O mercado de DeFi é novo, incipiente, imaturo e como você vai ler no texto do Felipe (um dos mnais badalados projetos DeFi deu o que falar na semana que passou), sujeitos às pessoas. O “Descentralized” do DeFi ainda não é tão descentralizado assim.

Falhas nos códigos dos contratos, privilégios de administrador, auditorias de código mal-feitas, ataques hacker e golpes disfarçados de “liquidity pools” são riscos que precisam ser levados em consideração.

Infelizmente, golpes usando o nome DeFi estão pipocando em todas as frentes e o episódio das ICOs de 2017 pouco ensinou ao mercado…

Outro ponto é que as próprias Criptomoedas lastreadas em dólar podem perder esse lastro do dia para a noite, sem aviso. Em última instância, você está confiando no lastro.

Para fechar o lado negativo, os grandes “liquidity pools” estão remunerando as pessoas com tokens proprietários, que possuem valor livre e flutuam ao sabor do mercado (ao invés de remunerar as comissões nas moedas base do par provido no estoque de liquidez).

CONCLUINDO

Por outro lado, existem “liquidity pools” sérias e que de fato resolvem o problema de ativos antes ilíquidos. Se o trade de Criptomoedas continuar crescendo, pode ter certeza que o DeFi e suas “liquidity pools” são tendências sem volta.

Grandes exchanges como Binance e Crypto.com, já se rendem a novidade e lançam produtos para competir com as exchanges descentralizadas remunerando clientes para operações de swap.

Eu imagino que o dia que o mercado convencional descobrir que pode remunerar descentemente Criptomoedas lastreadas em dólar em um mundo de juros negativos o fluxo para dentro das DeFi pode ser monstruoso.

Estou estudando o assunto com muito afinco e dedicando muitas horas ao aprendizado ao tema. Como pessoa física já estou experimentando essa brincadeira. Minha intenção no futuro é criar na HashInvest uma curadoria de DeFi e remunerar depósitos em Stablecoins. Não é uma promessa, mas é uma ideia.

Você deposita em Reais na HashInvest e nós convertemos seus Reais em Criptomoedas lastreadas em dólar e distribuímos em diversos projetos DeFi para maximizar lucros e reduzir riscos. Eu imagino que conseguiríamos algo entre 4 a 8% a.a. em dólar na ponta do cliente com um risco bastante razoável. Se vocês acham que essa ideia faz algum sentido, peço que me escrevam falando sobre suas percepções e se têm interesse.

Veja outros artigos

Blockchain como Infraestrutura o Mercado de Capitais

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A maneira como os blockchains e as criptomoedas são percebidos pelos gestores financeiros está evoluindo rapidamente.  Este ramo, que até pouco tempo era renegado e ligado fortemente a hackers e fraudes, teve uma mudança de perspectiva importante no começo deste ano com o lançamento dos ETFs na bolsa americana e, mesmo com esse grande avanço, muito mais está por vir.

Em março a Black Rock, maior gestora de ativos do planeta, lançou o BUILD (BlackRock USD Institutional Digital Liquidity Fund), o seu primeiro fundo tokenizado.

Um token é um “certificado de propriedade” que representa ativos do mundo real (como imóveis, ações, títulos ou commodities) em um blockchain. Ou seja, a infraestrutura de redes como Bitcoin, Ethereum e Solana é usada para representar coisas/estruturas que vão além de moedas.

Em um fundo tokenizado, como o BUILD da Black Rock, a gestora utiliza tokens para representar os ativos do fundo, neste caso específico, Títulos do Tesouro Americano e Dólares Americanos.

O que deixa esta história interessante, é que a Black Rock não é a única interessada em tokenização, notando-se movimentos similares em diversos setores.

Por exemplo, o Tether Limited Inc., empresa que emite a moeda com preço atrelada ao Dólar, lançou recentemente o Tether Gold. Neste caso, cada token emitido representa uma quantidade de ouro armazenada em bancos da Suíça.

A Consultoria McKinsey projeta em seu cenário base que o mercado de ativos tokenizados atingirá um tamanho de quase USD $2 trilhões até 2030.

Dentre as vantagens que levam a esse interesse na tokenização, podemos citar liquidações instantâneas 24/7, maior transparência e eficiência, aliada a redução no custo. Para quem opera cripto, nada demais, mas para o mercado financeiro tradicional, isto traz oportunidades significativas.

Em resumo, a gestão de ativos cripto pode evoluir do simples acúmulo de criptomoedas para a criação de produtos multi-ativos com sua gestão e distribuição ocorrendo através dos blockchains. Blockchains estes que até pouco tempo, eram coisa de bandido.

30 ANOS DO PLANO REAL

30 ANOS DO PLANO REAL

Em 01/07/2024 o Real completará 30 anos de circulação. Na verdade, o plano real, pois tudo começou através de medidas provisórias na qual a moeda era chama de URV, posteriormente convertido para o Real na cotação de 1 para 1.

Temos motivos para celebrar ou não? Aprendemos algo com o passado?

Ao final do regime militar no Brasil e período de redemocratização (na medida do possível em uma frágil democracia, mas ao menos o fim de uma ditadura escancarada) o país passou por diversas crises econômicas desencadeando o pior dos impostos de maneira exacerbada: inflação (no caso hiperinflação). Os governos sempre tiveram o hábito de exaltarem seu governo e culparem algo externo a eles na totalidade. Parece que alguns hábitos nunca se perdem…

A inflação ao final dos anos 1980 e início dos anos 1990 vinha escalonando de forma abrupta e a cada plano que tentava controlar artificialmente a inflação ela voltava com ainda mais intensidade. Logo antes do plano real o Brasil chegou a bater um IPCA (oficial) de 2.500% ao ano. Os mais antigos devem se lembrar de coisas como overnight, remarcação de preços no supermercado diversas vezes ao dia (existia uma profissão que era etiquetador de preços) e a corrida ao supermercado nos dias de pagamento.

Vamos voltar um pouquinho mais…

Durante o governo Sarney foram 3 as tentativas de conter a inflação. Em 1986 foi a vez do plano cruzado, onde a moeda sofreu um corte de 3 zeros e houve congelamento de preços e da taxa de câmbio oficial. Em 1987 foi a vez do Plano Bresser que tentou a já ineficaz estratégia de congelamento de preços. Em 1989 como última cartada do governo Sarney tivemos o Plano Verão em 1989 com um novo corte de 3 zeros na moeda renomeando a moeda para Cruzado Novo, e novos congelamentos de preços e taxas de câmbio.

Já no governo Collor, em 1990 foi o Plano Collor 1 que ficou famoso pelo confisco da poupança popular e criação de novos impostos como o IOF (imposto sobre operações financeiras). Em 1992 veio o Plano Collor 2 com novos congelamentos de preços e agora também o congelamento de salários. E já não bastasse o confisco do plano anterior na poupança popular, a equipe econômica decidiu proibir os depósitos overnight.

Uma coisa comum a todos esses planos foi uma queda artificial (e muito dolorosa para a população) com um repique muito mais acentuado da inflação na sequência.

Em 1994, durante o Governo Itamar Franco, foi implantado o Plano Real. Primeiramente com a URV (CR$2.750 = US$ 1,00 = R$ 1,00). O início da circulação da URV (posteriormente batizada de real) foi em 01/07/1994. O plano real teve suas crises, mas é fato que devolveu a estabilidade mantendo a inflação oficial em patamares inferiores a dois dígitos anuais. Em retrospectiva foi um sucesso!

E agora, 30 anos depois?

Um pequeno exercício da um pouquinho da dimensão do que é a inflação. Nesses trinta anos de “estabilidade”, o não tão poderoso real também perdeu seu poder de compra, às vezes mais rápido, às vezes mais devagar. R$1,00 em 1994 podia comprar uma série de coisas… em 2024 a cédula de R$1,00 não existe mais!

Em 1994 um pãozinho de sal custava R$0,10. Hoje é difícil comprar um pãozinho por menos de R$1,00. Um litro de gasolina custava R$0,55 em 1994 e hoje é difícil abastecer por menos de R$5,50 o litro. E isso vale pro leite, pro ovo e pra banana também…

Um ponto importante e que não pode ser esquecido, é que o descontrole para o monstro da inflação pode ser fatal. É fácil voltarmos ao período de hiperinflação, mas é cada vez mais difícil sairmos dele (olhe nossos vizinhos Hermanos) uma vez que o nosso sistema e ferramentas tradicionais estão desgastadas e perto de um colapso (crescimento da dívida, aumento de carga tributária, PIB praticamente estagnado por décadas e irresponsabilidade fiscal). Ninguém torce por isso, mas sempre que palavras como intervenção, confisco, congelamento voltam a circular o medo do monstro da hiperinflação volta a rondar.

Qual ativo hoje existente e acessível, que não existia em 1994, é imune em seus fundamentos às palavras (confisco, intervenção etc.) e ações de governos que podem acordar o monstro da hiperinflação?

Uma dica: Não é o Bitcoin do banco Itaú!

10 anos de minha primeira iniciativa com Bitcoin

10 anos de minha primeira iniciativa com Bitc

Essa semana me dei conta que em julho faz 10 anos de minha primeira iniciativa para que amigos próximos entendessem e entrassem no Bitcoin, e desde então venho fracassando consistentemente nessa missão.

O ano era 2014 e eu estava apaixonado pela moedinha laranja. Era o chato do Bitcoin, só via Bitcoin, tudo era Bitcoin. Havia recém voltado de Amsterdam de minha primeira conferência de Bitcoin.

Na ocasião, meu sócio que se senta a minha frente foi persuadido a programar um bolão da copa do mundo em Bitcoin, na qual as apostas para participar e os prêmios eram em Bitcoin.

O bolão em si era o de menos, a tentativa era ser lúdico e mostrar o futuro às pessoas queridas, que através de um uso prático, criassem carteiras, transacionassem, enfim, uma brincadeira para quebrar a barreira inicial.

Deu errado.

– “Muito complicado”

– “Faz pra mim, depois te pago”

-“Legal, mas não tenho tempo”

-“Você é maluco”

-“Você precisa arrumar um emprego”

O preço na ocasião? Na casa dos USD 300 (Trezentos dólares), morro abaixo, logo depois de ter ultrapassados os USD 1.000 pela primeira vez durante o stress bancário na Grécia.

Deveria ter parado por aí, mas não… Vem o ano de 2017, lá por julho, e a ideia de montar a HashInvest. Se lá em 2014 a turma ignorou e não veio, então, vamos criar uma ferramenta que permita as pessoas a embarcarem sem sofrer, com baixíssima complexidade, e então começamos.

 Abrimos as portas em novembro e logo em seguida o Bitcoin ultrapassa a marca de USD 10 mil pela primeira vez na história.

Dessa vez logrei algum êxito e o sucesso foi ligeiramente maior que no bolão de 2014. Empolgados pela euforia do mercado e com o noticiário naquele ano, dessa vez alguns bem-sucedidos amigos próximos finalmente entraram no Bitcoin.

Qual era a minha esperança? Que começassem a ler os conteúdos por aqui e que começassem a voar por conta própria. Não foi o que aconteceu.

A única recomendação que dou explicitamente é a de fazer preço médio, o que que ninguém faz é o preço médio. A turma comprou em 2017 e a grande maioria simplesmente deixou lá, sem novos aportes, sem estudar por conta própria e ficaram demasiados insatisfeitos quando o pico de USD 20 mil derreteu pelos anos a seguir, e o pior, agora a culpa era minha.

Em 2019 e 2020 resolvemos que era hora de fazer marketing digital. Investimos em Instagram, conteúdo, linkedin, podcast e os cambau…

Nada efetivo, pouco resultado. Acabou que nos dias atuais temos o mínimo, mas bem diferente do que já foi no passado. As pessoas simplesmente não vieram, logo, vamos ficar por aqui somente para reafirmar que estamos por aqui e estamos vivos.

O preço na época era em torno dos USD 6 mil dólares por Bitcoin, com direito a uma excursão na casa dos USD 3 mil alto no fatídico Corona Day.

Veio mais um bull market, dessa vez em 2021. Vimos o Bitcoin saltar para USD 69 mil dólares e quando a farra se aproximava do fim é que os clientes começaram a chegar…

A gente fala que bitcoin se compra todo dia, no preço médio, mas a pessoa quer comprar depois que a euforia tomou conta da internet… Caímos para a casa dos USD 15 mil e por lá ficamos até meados de 2023.

Com a chegada dos ETFs e dos institucionais, o Bitcoin começou a tracionar mais uma vez um novo All time High na casa de USD 73 mil foi visto há poucos meses nesse ano de 2024, mas diferentemente dos outros Bull Markets, dessa vez o varejo não veio, pelo contrário, quem levou prejuízo entrando no topo de 2021 acabou por “aproveitar a chance” e ir embora de vez.

Hoje, especificamente dia 24 de junho de 2024 enquanto eu escrevo esse texto o Bitcoin “derrete e agoniza” em USD 60 mil.

Dos tais amigos próximos, ainda sou taxado de louco. Recorrentemente o que escuto é que

-“Você teve sorte”

-“Deveria ter te escutado lá atrás, mas hoje está muito caro”.

-“Você ainda tá naquele negócio de Bitcoin?”

-“Ainda tenho aquela grana lá de 2017, ta bom né… Qualquer dia ponho um gole a mais”

Hoje ainda sou o chato do Bitcoin, mas diferentemente do passado, somente quando sou perguntado. Quando não questionado, converso de cervejas, de viagens, do clima, de amenidades em geral, mas só falo de Bitcoin com quem me pergunta.

Mesmo quem me pergunta se recusa a aceitar a realidade. Por mais dados que sejam entregues, demonstrados, a alocação de recursos vai majoritariamente… Para a renda fixa em Reais. É ultrajante e embaraçosa a sensação de incompetência que me acomete.

Vejam os marcos de preço desse texto…

USD 1000, USD 300, USD 10.000, USD 20.000, USD 6.000, USD 3.000, USD 69.000, USD 15.000, USD 73.000, USD 60.000…

Quando estava em USD 1 mil, estava caro demais, e quando estava em USD 300, ainda bem que não entrei nessa fria.

Quando estava em USD 69 mil, estava caro demais, e quando estava em USD 15 mil, ainda bem que não entrei nessa fria.

Quando estava em USD 73 mil estava caro demais…

Todos os anos escrevo ao menos uma newsletter com cálculos detalhados de preço médio, geralmente com aporte mensal e começando em épocas muito ruins (primeiro aporte num all time high por exemplo) e todos os anos demonstro com dados que se você fizer DCA de modo disciplinado a sua probabilidade de multiplicar o patrimônio é significativamente alta e seu risco é relativamente baixo. Fazendo isso você bate TODOS os CDBs, CDIs, Tesouros e índices de bolsa que pode encontrar por aí.

No fim do dia… São 5 os clientes que praticam o preço médio…

Quanto a mim? Começando a pensar com mais carinho na ideia de aposentadoria.  A Hashinvest não é exatamente uma necessidade nessa altura da vida, afinal, dizem por aí que “dei sorte!”.

Gostaria de ter convertido muito mais gente do que de fato converti e passados 10 anos, sinto que está se aproximando a hora de admitir que é bastante provável que eu não seja a pessoa certa para esse trabalho.