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Blog da HashInvest

Entendendo a crise de 2020

Postado em 08/05/2020

Nome do Autor luis

***originalmente publicado na Newsletter HashInvest de 31/03/2020***

Essa é minha primeira crise depois de minha certificação CGA e autorização na CVM para ser administrador de carteiras, ou seja, desde que oficialmente me qualifiquei como investidor profissional. É um desafio navegar pela crise nesse novo papel, embora muito mais confortável que em 2008, quando eu era empresário e precisei mandar dezenas para a rua.

Enfim, estou fazendo essa pequena introdução porque embora a audiência da Newsletter seja baixa, quero que os poucos porém assíduos leitores saibam que existe cuidado no que eu escrevo e que mais que uma simples opinião, existe estudo e uma carga técnica embasando o que você lê por aqui.

Embora por vezes eu falhe, me esforço para fazer um texto sem que o lado teórico pese. Hoje o texto está longo e se propõe a te explicar de forma simplista o núcleo da crise que estamos vivendo nos mercados.

Posso afirmar com certeza que sob o ponto de vista de investimentos a situação geral é bastante grave e provavelmente pior do que você está imaginando.

Na Newsletter passada contei para vocês que tínhamos uma tragédia anunciada na cadeia de suprimentos global por conta da China e dados ruins da Itália estavam começando a chegar. Tudo foi muito rápido e de 15 dias pra cá, praticamente todo o planeta entrou em lockdown. Então vamos explorar os acontecimentos e analisar os prováveis cenários que teremos pela frente.

O primeiro fator que indica que o abacaxi está azedo, com casca grossa e que dispomos apenas de uma faca de patê para descascá-lo foi o fato de que, em tempo recorde, por volta de 5 dias depois da primeira queda brutal dos índices da bolsa americana, o governo americano junto com o FED (Banco Central Americano) montou um pacote de USD 6 Trilhões. Isso mesmo, nada menos do que USD 6.000.000.000.000,00!!!

De forma resumida e superficial, o governo irá distribuir USD 2 Tri para a população e empresas e o FED vai usar USD 4 Tri para comprar qualquer coisa (valores mobiliários) que tenham problemas de liquidez no mercado financeiro. Qualquer coisa é qualquer coisa, incluindo ações, debêntures (dívida privada emitida por empresa), ETF (fundos de índice), hipotecas… Só falta o FED anunciar que vai comprar coleção de selos, carro velho e tampinhas de garrafa.

O FED não está fazendo isso porque ele é bobo, muito menos inocente e muito menos malvado. O FED está fazendo isso porque está desesperado para estabilizar os mercados. O que acontece é que só existem vendedores, que estão vendendo por qualquer preço. Os compradores sumiram, e o efeito disso é uma espiral negativa de preços, na busca por dinheiro na mão o investidor vende pelo preço que for possível.

Exemplo didático para entender uma Dívida corporativa

Quando uma grande empresa quer se financiar, um dos instrumentos mais comuns é a emissão de dívida de longo prazo, que se chamam debêntures. A empresa oferece juros pré-determinados por um prazo pré-determinado, geralmente anos. Algo parecido com o Tesouro Direto, só que emitido por uma empresa.

Via de regra debêntures vão parar nas carteiras de grandes fundos de investimentos e fundos de pensão. Acontece que os fundos em sua grande maioria possuem liquidez em D+1, D+2, D+30 que seja, não importando o vencimento das tais debêntures que compõe o fundo. Traduzindo, eu tenho ativos com vencimento de anos e prometo resgates em dias.

Quando investidores resgatam seu dinheiro do fundo, o fundo precisa vender seus ativos no mercado, ao preço de mercado. E esses preços não aqueles pré-acordados na emissão, são os preços que o mercado está disposto a pagar naquele dia, com base na qualidade dessa dívida e da expectativa de juros para o futuro. Eles podem ser maiores ou menores que o preço nominal. Por exemplo, se eu tenho um papel que paga juros de 5% e os juros do governo são de 3%, a tendência é existir um ágio no preço desse papel, o mesmo vale no sentido oposto.

Quando a economia está saudável, o mercado secundário dá conta da liquidez diária, ou seja, alguém querendo sair desse investimento antes de seu vencimento vende a debênture para alguém querendo entrar nesse investimento.

A Bolha da Dívida

Da crise de 2008 para cá, o dinheiro ao redor do planeta está ficando barato, muito barato. Houve um grande estímulo para emissão de dívida.

Vamos a um exemplo, imagine um governo pagando 0,25% de juros ao ano. Existe um grande incentivo para que uma empresa emita uma dívida pagando 0,50% ao ano para se financiar. Investidores terão um rendimento 100% superior comprando a dívida da empresa em relação à dívida do governo.

Essa dívida recebe o nome de “alavancagem”. E é isso que significa o que tanto se fala por aí que tal empresa está muito alavancada. Quer dizer que ela deve muito.

Foram 12 anos de uma farra desenfreada. Assim como aquele jovem adulto que se perdeu no cartão de crédito e usa o limite de um cartão para pagar a fatura do outro, a famosa bola de neve, empresas começaram a se alavancar (emitir dívidas) para pagar suas outras dívidas.

A situação estava perto de um limite quando a ginástica criativa dos bancos Centrais inventou os tal juro negativo para continuar estimulando investidores a investirem no mercado e não em dívidas soberanas. Para os governos isso soou bem, eles se financiavam de forma mais barata ao passo que mantinham o fluxo de captação dos mercados, ou seja, empurravam o investidor para as dívidas corporativas.

A bagunça foi tão generalizada que tinha empresa captando dinheiro para recomprar ações e desse modo fazer o preço delas subir. Mas tudo tem limite.

O que está acontecendo em 2020 é que o cheiro de calote por parte das empresas está muito forte. O que os investidores fazem quando acham que as empresas não vão honrar com as dívidas? Eles correm para regatar seus investimentos antes que percam tudo e isso ocorre em espiral.

Quanto mais gente sai, mais gente quer sair. É a famosa analogia do cinema pegando fogo com a porta de emergência estreita.

O COVID-19 foi o gatilho do processo. A bolha da dívida já existia, já era insustentável e já estava prestes a estourar. O que o vírus fez foi dar a desculpa perfeita para que os calotes se iniciem em série.

“Veja bem, por causa do lockdown eu não vou honrar com minhas dívidas.”

“Por causa do lockdown eu preciso de dinheiro grátis do contribuinte, senão eu vou demitir em massa.”

“Por causa do lockdown o FED precisa comprar minhas debêntures para que os fundos de pensão não derretam com a marcação de preço a mercado”.

E assim o FED fez, entrou com tudo para tentar segurar a bucha, está sendo contraparte de última instância em qualquer negócio tentando desesperadamente estabilizar o derretimento do mercado americano.

Qual o problema disso?

O problema é que o FED não tem dinheiro. Os USD 4 Trilhões que ele vai usar para comprar as dívidas, ações, ETFs e coleções de tampinhas de garrafa simplesmente não existem.

O FED não compra esses ativos com dólares efetivos. Ele compra os ativos com títulos de dívida. Como no limite o governo pode emitir dólares para honrar com essa dívida, um título de dívida com o FED é considerado dinheiro vivo nos balanços de quem os recebeu.

O FED está criando esses USD 4 Tri do absolutamente nada. É literalmente como se você passasse um cheque sem fundos e esse cheque fosse aceito como dinheiro vivo baseado exclusivamente na sua palavra.

O mundo inteiro está no mesmo barco, o COVID-19 leva a culpa e o sistema econômico está flertando com uma depressão. Isso é muito sério.

O que vai acontecer?

Ninguém sabe. Por mais absurdo que possa parecer, a criação de dinheiro a partir do nada é vista como fundamental para estabilização dos mercados.

Em teoria os mercados vão estabilizar porque agora existe um comprador de última instância e os preços param de cair. É isso que se espera.

Se a estratégia funcionar, comprou-se paz de curto prazo nos mercados e está contratada uma nova crise para daqui a alguns anos, a crise das dívidas soberanas.

Mais dia menos dia, os detentores desses títulos da dívida eventualmente vão querer trocá-los por dinheiro, e no volume atual isso vai ser um novo pandemônio, mais isso é assunto pra outro dia.

Se a estratégia não funcionar, ou seja, os USD 4 Tri forem torrados e ainda assim houverem mais vendedores do que compradores, aí o bicho pega, não haverá chão e isso infelizmente, é uma possibilidade que no atual momento não pode ser descartada.

E os Bancos

Vejam que diferente de 2008 essa crise não é uma crise bancária. Essa crise é uma crise de dívida. Por óbvio que alguns bancões devem estar com a corda no pescoço, caso contrário o FED não teria sido tão rápido e a bazuca de dinheiro não seria tão grande.

Veja que em 2008 os bancos tinham em ativos mais ou menos USD 3 para cada USD 100 depositados e hoje eles possuem por volta de USD 13. É ruim, mas é muito menos ruim que em 2008.

Enquanto são empresas e investidores que quebram, a situação é crítica, porém contornável.

Por hora, não há o que temer, mas é necessário observar de perto. Se a estratégia do FED não funcionar os bancos são os próximos na linha e é aí que a coisa fede de verdade.

Se a bazuca de dinheiro não for suficiente, a espiral do calote vai chegar aos bancos. Se isso se materializar 2008 terá sido um conto de fadas, pois o FED já estará completamente sem munição e sem capacidade de socorrer aos bancos.

Controle de capitais (limitar a quantidade de dinheiro que pessoas e empresas podem movimentar) é uma realidade que está sobre a mesa e você deveria ter muito medo disso.

(Nota importante: É para esse cenário que você tem Bitcoin).

O Brasil

Os mercados locais estão completamente a deriva.

Hoje eles nada mais são que um proxy amplificado do que acontece nos EUA. Se lá sobre 2 aqui sobe 5, se lá cair 2 aqui cai 8. Os mercados locais simplesmente não tem vida própria durante essa crise.

Os riscos aqui são imensos. Nosso já fraco quadro fiscal foi para o brejo de vez. Os BRL 1 Tri em 10 anos economizados com a reforma da previdência já foram pro saco com o necessário pacote de estímulo ao Coronavírus.

Nosso Banco Central acha que somos primeiro mundo e já fala em fazer o QE tupiniquim e sair comprando ativos assim como o FED. Grandes, realmente grandes chances de acontecer com o Real algo muito parecido com o que aconteceu com o peso argentino.

Últimos 12 meses do ARS contra o USD

Recomendações Práticas

O primeiro ponto aqui é que tudo muda muito rápido e que talvez a nossa base de tempo de quinze dias não seja suficiente para realimentar o processo, mas passo o que penso no dia de hoje.

Se você não vendeu suas ações ANTES do derretimento da bolsa, agora é tarde. Melhor sentar e esperar ver o que vai acontecer. Tenha estômago e paciência. Já perdeu 50% agora é tarde.

Não é hora de comprar novas ações. Essa história de que está barato é balela. A bolsa brasileira está sem vida própria e opera exclusivamente como proxy dos índices americanos.

Ninguém sabe quem e muito menos em que condições as empresas vão sair do outro lado da crise. Ninguém nesse ponto vai admitir que está à beira da insolvência e todos vão se vender como fortes e resilientes.

Quanto tempo vamos ficar parados? Quanta gente vai morrer? Qual a dimensão do calote geral? Como fica de verdade o lado fiscal do país? Como serão os balanços das empresas? Pois é… A realidade é que a perspectiva atual é a pior possível.

Deixe para voltar ao mercado quando houver racionalidade, ou seja, quando a bolsa voltar a refletir a realidade dos balanços das empresas e não o humor dos mercados internacionais.

Se você saiu a tempo e está com o dinheiro parado, compre Dólar. Manter o patrimônio em Reais é quase certo que será uma aposta perdedora no curto-médio prazo. É difícil perder com o dólar meio que em qualquer cenário.

Ah, mais ele já subiu muito… Reveja o gráfico da Argentina e relembro que o nosso fiscal já foi pro saco…

Se o FED estabilizar o mercado, o Dólar se valoriza porque todos vão entupir o FED de dívida podre e vão ficar com o Dólar na mão até a coisa se acalmar.

Se a vaca for para o brejo de vez, todos vão sair correndo dos emergentes e o dólar sobe ainda mais que no cenário anterior.

Sim, a vaca pode ir para o brejo de vez. Veja a base de tempo de todas essas mudanças que estão ocorrendo e veja que o nosso dia a dia hoje é completamente surreal e inimaginável há meros 120 dias atrás.

O mercado do ouro também anda interessante nos últimos meses. O metal dourado ainda tem seu charme em tempos de crise. Pode comprar um pouco se conseguir ouro físico por preços justos.

Obviamente mantenho a recomendação de ter um punhado de Bitcoin e Criptomoedas, principalmente num cenário em que os bancos venham a cair.

A recomendação do Bitcoin não vale apenas para o sistema bancário americano, lembro que o mercado do Bitcoin é tão pequenino e insignificante em valor absoluto que basta uma economia civilizada cair para que ele eventualmente se multiplique por algumas vezes.

Nessa semana que passou a HashInvest disponibilizou carteiras em Tether, ou seja, um instrumento fácil e sem burocracia para que você proteja seu patrimônio em USD. Somos uma opção mais barata que casa de câmbio e com preços competitivos com fundos cambiais. Estamos cobrando 1% ao ano de administração.

Calibre seu portfólio antes que seja tarde. Boa sorte para todos nós.

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A base de tempo das coisas

A base de tempo das coisas

Se tem algo recorrente em todo início de Bull Market são os falastrões.

Em 2013, quando Bitcoin disparou junto com a crise da Grécia, a narrativa é que todos os bancos europeus iriam colapsar e seria “bitcoin to the mooooon”. Não colapsaram.

Em 2017, as ICOs (Initial Coin Offerings) iriam substituir todas as bolsas de valores relevantes do mundo e as empresas se financiariam de forma totalmente descentralizada direto das pessoas. Não aconteceu, as bolsas centralizadas lentas e demasiadamente reguladas estão aqui e as ICOs viram um supermercado de óleo de cobra.

Em 2021, a narrativa (extremamente imbecil) era do superciclo do Bitcoin, pois assim como a adoção da internet dessa vez a número de usuários e consequentemente os preços seriam em forma de “S” e exponenciariam. Não aconteceu.

Em 2024 a narrativa é que com a liberação dos ETFs e a compra de USD 500 Bilhões pelos árabes iriam promover a chamada “God candle” onde o Bitcoin subiria mais de USD 100 mil em um único dia. Não aconteceu e duvido que aconteça.

Em comum entre todas as narrativas, ciclo após ciclo, o mesmo pano de fundo. Influenciadores digitais “geradores de conteúdo” em desespero por cliques e relevância em meio a iminente perda de hype.

Há 10 anos atrás eu achava que isso era passageiro e que não era possível as pessoas se apegarem as lorotas da internet dessa maneira, tão facilmente. Hoje eu já entendi, é da natureza humana e fico é de olho em qual a lorota da vez. Sempre haverá uma lorota.

Os ETFs em si não são lorota, pelo contrário, possuem de fato o eventual poder de multiplicar o valor do Bitcoin em dezenas de vezes, mas não da forma como foi alardeada pelas paquitas dos gurus com muitos seguidores.

O processo é relativamente lento. São quase uma dúzia de empresas disputando o investimento de fundos de pensão e gestores de recursos e, o investimento dessa turma, nunca é do dia para a noite.

A coisa acontece aos poucos. Uma pequena exposição para medir a temperatura dessa coisa. Se dali a seis meses ou um ano eu me acostumar com a temperatura dessa nova água, quem sabe eu me molhe mais um pouquinho e por aí vai.

A base de tempo para essa turma estar nadando de braçada é lenta, e deve ser lenta, e não tem como não ser lenta. São comitês, votações, deliberações e não o ímpeto de uma pessoa física que segue o influencer X.

No nosso podcast (minuto hash), já fiz 2 programas dizendo que os primeiros meses da negociação dos ETFs são como um caminhão de melancias se acomodando.

Nessa acomodação, a massa falida da FTX por exemplo, aproveitou que o fundo Grayscale, da qual ela era quotista, se converteu em ETF, fechando o deságio e permitindo a saída a valor de mercado. Somente o administrador da massa falida da FTX vendeu mais de USD 1 Bi em apenas 2 dias.

Mas independente disso, o saldo dos ETF foi positivo, e lhes afirmo, que é óbvio que vai se jogar o preço par baixo no curto prazo, o objetivo é formar carteira e ter os ativos. Qual o interesse de se valorizar um ativo que eu ainda não tenho, comprar na alta como gosta de fazer o investidor médio brasileiro???

E no longo? Fundos de pensão e Hedge Funds começam com 0,1% de exposição ao Bitcoin e se ele fizer o que historicamente ele faz, daqui a pouco será 0,5% e em alguns anos, muito provavelmente serão 5% da alocação de patrimônio dos gigantes da gestão de recursos através do globo.

Não descarto a minha própria lorota conspiratória de que eventualmente um pump massivo do preço do Bitcoin seja usado para governos imprimirem dinheiro e arrecadarem impostos sobre ganhos de capital (ler newsletter anterior), mas por favor, eu vendo essa ideia como uma teoria lunática e conspiratória, não como uma verdade.

A verdade é a narrada no paragrafo anterior. Um passo de cada vez, um pequeno percentual de cada vez e todos terão exposição ao nosso mercado, e isso por si só, ao contrário de árabes comprando tudo, representará o crescimento saudável e sustentável do valor do Bitcoin, com base de tempo lenta e chata…

Poucas as vezes estiver mais Bullish com o cenário de 4 anos, que é o mínimo que você deveria olhar para entender e de fato se considerar um investidor em Bitcoin.

A volatilidade só vai reduzir quando o mercado foi muito maior do que é, até lá, nada de novo no front, o bom e velho deja vu, o museu de grandes novidades.

A recomendação é a de sempre, preço médio e constância e a certeza que dessa vez não será diferente. Vender seus BTC baratinhos para os ETFs nesse momento é abrir mão de uma quase certeza, de um evento de altíssima probabilidade de multiplicação de patrimônio com base de tempo em anos (não em dias).

Menos falastrões, incluído o que vos escreve, e mais disciplina, consistência, preço médio e foco com base de tempo em anos.

Bem vindos a 2024!

Os avanços tecnológicos das criptomoedas em 2023

Os avanços tecnológicos das criptomoedas em

Os avanços tecnológicos das criptomoedas em 2023 

Como “Final de Ano” só é “Final de Ano” se tiver 123.545.323 diferentes tipos de Retrospectivas não solicitadas, resolvi fazer a minha parte para garantir dezembro sem surpresas. Como esperado também, vou falar sobre os avanços das criptomoedas e blockchains com um viés mais técnico. 

Do ponto de vista global, a grande tendência é no sentido de deixar os blockchains e as criptomoedas invisíveis para o usuário final e até mesmo para os desenvolvedores, o que faz muito sentido para ambas as partes. 

Para o usuário, não faz muita diferença se uma transação foi processada na rede Ethereum, Bitcoin ou Chainlink. Ele quer saber simplesmente que o dinheiro chegou ao destino com segurança e rapidamente.  

Para os desenvolvedores, era preciso decidir cedo ciclo de desenvolvimento de um projeto qual seria o blockchain utilizado. Esta decisão impactava tanto na segurança, quanto na velocidade de processamento das transações e no público que teria acesso à solução. Ao abstrair o blockchain do desenvolvimento, estas dificuldades são resolvidas.  

Por isso, este movimento que é chamado de “Abstração de Blockchain” (chain abstraction) é tão promissor e é o resultado do avanço em diversas áreas. Por exemplo, está muito mais fácil e seguro transferir valores entre diferentes redes e muitos blockchains já são considerados “compatíveis” entre si, ou seja, não é mais necessário desenvolvimentos específicos para cada um deles.  

Além disso, o grande avanço em 2023 foi a popularização do processamento de transações fora dos blockchains. Nesta nova arquitetura de sistema, os blockchains passam armazenar somente um “resumo” de todas as transações ao invés de todo o histórico. Isto, além de facilitar a vida dos desenvolvedores ao criar uma solução agnóstica ao blockchian, também tem potencial para baratear as operações para o usuário final. Só para futuras referências, esta solução tem um nome bastante curioso de “enrolados de zero conhecimento” (zero-knowledge rollups). 

Em 2023 também tivemos as atualizações na rede Ethereum que permitiram aos usuários efetuarem saque das contas que ajudam a deixar este blockchain seguro. Estas operações estavam suspensas desde a grande atualização feita na rede em setembro de 2022 e são um passo importante na sequência de melhorias previstas para o Ethereum e que devem se estender até pelo menos 2030. 

No Brasil, depois de anos de especulação, a grande novidade foi o lançamento do Real Digital usando a tecnologia do blockchain. A moeda digital vai se chamar DREX e se concentrará em operações de maior montante financeiro, como compra de imóveis, carros, empréstimos e até Títulos do Tesouro. O consórcio responsável pelo desenvolvimento e teste conta com as maiores Instituições Financeiras do país e o Banco Central e já realizou mais de 700 transações que buscaram simular operações financeiras de varejo e atacado. Espera-se o lançamento deste produto para 2024 e o Banco Central também está prometendo a integração com blockchains abertos, como Ethereum, BNB Chain, Avalanche, Cardano, Solana. 

Um ótimo fim de ano a todos e em 2024 estamos e volta, falando sobre a tecnologia das criptomoedas e do blockchain e torcendo por melhores preços. Até! 

Responsabilidade fiscal, Bitcoin e a Inteligência Artificial

Responsabilidade fiscal, Bitcoin e a Intelig

Para a última newsletter do ano, fui fazer um breve exercício com um dos fenômenos de 2023. Utilizei um aplicativo de inteligência artificial, que em 2023 ficou disponível aos reles mortais na palma de nossas mãos, para que discorresse sobre o Bitcoin e a responsabilidade fiscal dos países. Minha intenção inicial era apenas de buscar inspiração para demonstrar como o Bitcoin e a tecnologia blockchain publicamente distribuída podem contribuir com a sociedade de forma geral e coletivamente, não apenas na proteção patrimonial individual.

Antes de apresentar o texto que foi “cuspido” literalmente em segundos, vale a ressalva de que a Inteligência Artificial é alimentada apenas por dados e requisitos técnicos e é desprovida de emoções, sentimentos e ideologias. Lendo o texto, tive a nítida sensação que poderíamos substituir nossos nobres deputados e senadores por uma IA seguida de plebiscitos online registrados em uma blockchain. O que falta aos nossos legisladores e executivo é vontade de fazer o bem, pois o caminho hoje é conhecido e disponível para todos, até para mim.

Sem mais delongas, segue o texto da Inteligência Artificial na íntegra e sem edições, de como o Bitcoin pode ajudar na responsabilidade fiscal dos países, maior arma contra o pior e mais maligno dos impostos chamado inflação: 

“O Bitcoin, como uma moeda digital descentralizada e baseada em tecnologia blockchain, pode ter um papel importante no comprometimento dos governos com a responsabilidade fiscal. Aqui estão algumas maneiras pelas quais o Bitcoin pode ajudar nesse sentido:

1. Transparência: A tecnologia blockchain do Bitcoin permite que todas as transações sejam registradas de forma transparente e imutável. Isso significa que os gastos do governo podem ser facilmente rastreados e auditados por qualquer pessoa. Com essa transparência, os governos são incentivados a serem mais responsáveis e a prestarem contas de seus gastos.

2. Redução da corrupção: A transparência proporcionada pelo Bitcoin pode ajudar a reduzir a corrupção governamental. Como todas as transações são registradas na blockchain, é mais difícil para os funcionários públicos desviarem recursos ou se envolverem em práticas corruptas. Isso pode levar a uma gestão mais eficiente dos recursos públicos e a uma maior confiança dos cidadãos no governo.

3. Eficiência nos pagamentos: O uso do Bitcoin pode tornar os pagamentos do governo mais eficientes e rápidos. As transações em Bitcoin podem ser processadas de forma quase instantânea, eliminando a necessidade de intermediários e reduzindo os custos associados aos sistemas tradicionais de pagamento. Isso pode resultar em economias significativas para o governo e em uma melhor gestão dos recursos públicos.

4. Proteção contra inflação: O Bitcoin é uma moeda digital com oferta limitada, o que significa que não pode ser inflacionado arbitrariamente pelos governos. Isso pode ajudar a proteger a economia de um país contra a inflação descontrolada e garantir uma política monetária mais responsável. Os governos são incentivados a manter uma política fiscal responsável para evitar a desvalorização da moeda e a perda de confiança dos investidores.

5. Acesso financeiro inclusivo: O Bitcoin pode ajudar a promover a inclusão financeira, permitindo que pessoas sem acesso a serviços bancários tradicionais possam realizar transações financeiras de forma segura e eficiente. Isso pode ajudar a reduzir a desigualdade econômica e permitir que mais pessoas participem da economia formal, contribuindo para um crescimento econômico mais equitativo.

No entanto, é importante ressaltar que o Bitcoin não é uma solução mágica para todos os problemas fiscais dos governos. Existem desafios e limitações associados ao seu uso, como a volatilidade de seu valor e a necessidade de infraestrutura tecnológica adequada. “   

Boas festas e um excelente e próspero 2024