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Blog da HashInvest

Entendendo a crise de 2020

Postado em 08/05/2020

Nome do Autor luis

***originalmente publicado na Newsletter HashInvest de 31/03/2020***

Essa é minha primeira crise depois de minha certificação CGA e autorização na CVM para ser administrador de carteiras, ou seja, desde que oficialmente me qualifiquei como investidor profissional. É um desafio navegar pela crise nesse novo papel, embora muito mais confortável que em 2008, quando eu era empresário e precisei mandar dezenas para a rua.

Enfim, estou fazendo essa pequena introdução porque embora a audiência da Newsletter seja baixa, quero que os poucos porém assíduos leitores saibam que existe cuidado no que eu escrevo e que mais que uma simples opinião, existe estudo e uma carga técnica embasando o que você lê por aqui.

Embora por vezes eu falhe, me esforço para fazer um texto sem que o lado teórico pese. Hoje o texto está longo e se propõe a te explicar de forma simplista o núcleo da crise que estamos vivendo nos mercados.

Posso afirmar com certeza que sob o ponto de vista de investimentos a situação geral é bastante grave e provavelmente pior do que você está imaginando.

Na Newsletter passada contei para vocês que tínhamos uma tragédia anunciada na cadeia de suprimentos global por conta da China e dados ruins da Itália estavam começando a chegar. Tudo foi muito rápido e de 15 dias pra cá, praticamente todo o planeta entrou em lockdown. Então vamos explorar os acontecimentos e analisar os prováveis cenários que teremos pela frente.

O primeiro fator que indica que o abacaxi está azedo, com casca grossa e que dispomos apenas de uma faca de patê para descascá-lo foi o fato de que, em tempo recorde, por volta de 5 dias depois da primeira queda brutal dos índices da bolsa americana, o governo americano junto com o FED (Banco Central Americano) montou um pacote de USD 6 Trilhões. Isso mesmo, nada menos do que USD 6.000.000.000.000,00!!!

De forma resumida e superficial, o governo irá distribuir USD 2 Tri para a população e empresas e o FED vai usar USD 4 Tri para comprar qualquer coisa (valores mobiliários) que tenham problemas de liquidez no mercado financeiro. Qualquer coisa é qualquer coisa, incluindo ações, debêntures (dívida privada emitida por empresa), ETF (fundos de índice), hipotecas… Só falta o FED anunciar que vai comprar coleção de selos, carro velho e tampinhas de garrafa.

O FED não está fazendo isso porque ele é bobo, muito menos inocente e muito menos malvado. O FED está fazendo isso porque está desesperado para estabilizar os mercados. O que acontece é que só existem vendedores, que estão vendendo por qualquer preço. Os compradores sumiram, e o efeito disso é uma espiral negativa de preços, na busca por dinheiro na mão o investidor vende pelo preço que for possível.

Exemplo didático para entender uma Dívida corporativa

Quando uma grande empresa quer se financiar, um dos instrumentos mais comuns é a emissão de dívida de longo prazo, que se chamam debêntures. A empresa oferece juros pré-determinados por um prazo pré-determinado, geralmente anos. Algo parecido com o Tesouro Direto, só que emitido por uma empresa.

Via de regra debêntures vão parar nas carteiras de grandes fundos de investimentos e fundos de pensão. Acontece que os fundos em sua grande maioria possuem liquidez em D+1, D+2, D+30 que seja, não importando o vencimento das tais debêntures que compõe o fundo. Traduzindo, eu tenho ativos com vencimento de anos e prometo resgates em dias.

Quando investidores resgatam seu dinheiro do fundo, o fundo precisa vender seus ativos no mercado, ao preço de mercado. E esses preços não aqueles pré-acordados na emissão, são os preços que o mercado está disposto a pagar naquele dia, com base na qualidade dessa dívida e da expectativa de juros para o futuro. Eles podem ser maiores ou menores que o preço nominal. Por exemplo, se eu tenho um papel que paga juros de 5% e os juros do governo são de 3%, a tendência é existir um ágio no preço desse papel, o mesmo vale no sentido oposto.

Quando a economia está saudável, o mercado secundário dá conta da liquidez diária, ou seja, alguém querendo sair desse investimento antes de seu vencimento vende a debênture para alguém querendo entrar nesse investimento.

A Bolha da Dívida

Da crise de 2008 para cá, o dinheiro ao redor do planeta está ficando barato, muito barato. Houve um grande estímulo para emissão de dívida.

Vamos a um exemplo, imagine um governo pagando 0,25% de juros ao ano. Existe um grande incentivo para que uma empresa emita uma dívida pagando 0,50% ao ano para se financiar. Investidores terão um rendimento 100% superior comprando a dívida da empresa em relação à dívida do governo.

Essa dívida recebe o nome de “alavancagem”. E é isso que significa o que tanto se fala por aí que tal empresa está muito alavancada. Quer dizer que ela deve muito.

Foram 12 anos de uma farra desenfreada. Assim como aquele jovem adulto que se perdeu no cartão de crédito e usa o limite de um cartão para pagar a fatura do outro, a famosa bola de neve, empresas começaram a se alavancar (emitir dívidas) para pagar suas outras dívidas.

A situação estava perto de um limite quando a ginástica criativa dos bancos Centrais inventou os tal juro negativo para continuar estimulando investidores a investirem no mercado e não em dívidas soberanas. Para os governos isso soou bem, eles se financiavam de forma mais barata ao passo que mantinham o fluxo de captação dos mercados, ou seja, empurravam o investidor para as dívidas corporativas.

A bagunça foi tão generalizada que tinha empresa captando dinheiro para recomprar ações e desse modo fazer o preço delas subir. Mas tudo tem limite.

O que está acontecendo em 2020 é que o cheiro de calote por parte das empresas está muito forte. O que os investidores fazem quando acham que as empresas não vão honrar com as dívidas? Eles correm para regatar seus investimentos antes que percam tudo e isso ocorre em espiral.

Quanto mais gente sai, mais gente quer sair. É a famosa analogia do cinema pegando fogo com a porta de emergência estreita.

O COVID-19 foi o gatilho do processo. A bolha da dívida já existia, já era insustentável e já estava prestes a estourar. O que o vírus fez foi dar a desculpa perfeita para que os calotes se iniciem em série.

“Veja bem, por causa do lockdown eu não vou honrar com minhas dívidas.”

“Por causa do lockdown eu preciso de dinheiro grátis do contribuinte, senão eu vou demitir em massa.”

“Por causa do lockdown o FED precisa comprar minhas debêntures para que os fundos de pensão não derretam com a marcação de preço a mercado”.

E assim o FED fez, entrou com tudo para tentar segurar a bucha, está sendo contraparte de última instância em qualquer negócio tentando desesperadamente estabilizar o derretimento do mercado americano.

Qual o problema disso?

O problema é que o FED não tem dinheiro. Os USD 4 Trilhões que ele vai usar para comprar as dívidas, ações, ETFs e coleções de tampinhas de garrafa simplesmente não existem.

O FED não compra esses ativos com dólares efetivos. Ele compra os ativos com títulos de dívida. Como no limite o governo pode emitir dólares para honrar com essa dívida, um título de dívida com o FED é considerado dinheiro vivo nos balanços de quem os recebeu.

O FED está criando esses USD 4 Tri do absolutamente nada. É literalmente como se você passasse um cheque sem fundos e esse cheque fosse aceito como dinheiro vivo baseado exclusivamente na sua palavra.

O mundo inteiro está no mesmo barco, o COVID-19 leva a culpa e o sistema econômico está flertando com uma depressão. Isso é muito sério.

O que vai acontecer?

Ninguém sabe. Por mais absurdo que possa parecer, a criação de dinheiro a partir do nada é vista como fundamental para estabilização dos mercados.

Em teoria os mercados vão estabilizar porque agora existe um comprador de última instância e os preços param de cair. É isso que se espera.

Se a estratégia funcionar, comprou-se paz de curto prazo nos mercados e está contratada uma nova crise para daqui a alguns anos, a crise das dívidas soberanas.

Mais dia menos dia, os detentores desses títulos da dívida eventualmente vão querer trocá-los por dinheiro, e no volume atual isso vai ser um novo pandemônio, mais isso é assunto pra outro dia.

Se a estratégia não funcionar, ou seja, os USD 4 Tri forem torrados e ainda assim houverem mais vendedores do que compradores, aí o bicho pega, não haverá chão e isso infelizmente, é uma possibilidade que no atual momento não pode ser descartada.

E os Bancos

Vejam que diferente de 2008 essa crise não é uma crise bancária. Essa crise é uma crise de dívida. Por óbvio que alguns bancões devem estar com a corda no pescoço, caso contrário o FED não teria sido tão rápido e a bazuca de dinheiro não seria tão grande.

Veja que em 2008 os bancos tinham em ativos mais ou menos USD 3 para cada USD 100 depositados e hoje eles possuem por volta de USD 13. É ruim, mas é muito menos ruim que em 2008.

Enquanto são empresas e investidores que quebram, a situação é crítica, porém contornável.

Por hora, não há o que temer, mas é necessário observar de perto. Se a estratégia do FED não funcionar os bancos são os próximos na linha e é aí que a coisa fede de verdade.

Se a bazuca de dinheiro não for suficiente, a espiral do calote vai chegar aos bancos. Se isso se materializar 2008 terá sido um conto de fadas, pois o FED já estará completamente sem munição e sem capacidade de socorrer aos bancos.

Controle de capitais (limitar a quantidade de dinheiro que pessoas e empresas podem movimentar) é uma realidade que está sobre a mesa e você deveria ter muito medo disso.

(Nota importante: É para esse cenário que você tem Bitcoin).

O Brasil

Os mercados locais estão completamente a deriva.

Hoje eles nada mais são que um proxy amplificado do que acontece nos EUA. Se lá sobre 2 aqui sobe 5, se lá cair 2 aqui cai 8. Os mercados locais simplesmente não tem vida própria durante essa crise.

Os riscos aqui são imensos. Nosso já fraco quadro fiscal foi para o brejo de vez. Os BRL 1 Tri em 10 anos economizados com a reforma da previdência já foram pro saco com o necessário pacote de estímulo ao Coronavírus.

Nosso Banco Central acha que somos primeiro mundo e já fala em fazer o QE tupiniquim e sair comprando ativos assim como o FED. Grandes, realmente grandes chances de acontecer com o Real algo muito parecido com o que aconteceu com o peso argentino.

Últimos 12 meses do ARS contra o USD

Recomendações Práticas

O primeiro ponto aqui é que tudo muda muito rápido e que talvez a nossa base de tempo de quinze dias não seja suficiente para realimentar o processo, mas passo o que penso no dia de hoje.

Se você não vendeu suas ações ANTES do derretimento da bolsa, agora é tarde. Melhor sentar e esperar ver o que vai acontecer. Tenha estômago e paciência. Já perdeu 50% agora é tarde.

Não é hora de comprar novas ações. Essa história de que está barato é balela. A bolsa brasileira está sem vida própria e opera exclusivamente como proxy dos índices americanos.

Ninguém sabe quem e muito menos em que condições as empresas vão sair do outro lado da crise. Ninguém nesse ponto vai admitir que está à beira da insolvência e todos vão se vender como fortes e resilientes.

Quanto tempo vamos ficar parados? Quanta gente vai morrer? Qual a dimensão do calote geral? Como fica de verdade o lado fiscal do país? Como serão os balanços das empresas? Pois é… A realidade é que a perspectiva atual é a pior possível.

Deixe para voltar ao mercado quando houver racionalidade, ou seja, quando a bolsa voltar a refletir a realidade dos balanços das empresas e não o humor dos mercados internacionais.

Se você saiu a tempo e está com o dinheiro parado, compre Dólar. Manter o patrimônio em Reais é quase certo que será uma aposta perdedora no curto-médio prazo. É difícil perder com o dólar meio que em qualquer cenário.

Ah, mais ele já subiu muito… Reveja o gráfico da Argentina e relembro que o nosso fiscal já foi pro saco…

Se o FED estabilizar o mercado, o Dólar se valoriza porque todos vão entupir o FED de dívida podre e vão ficar com o Dólar na mão até a coisa se acalmar.

Se a vaca for para o brejo de vez, todos vão sair correndo dos emergentes e o dólar sobe ainda mais que no cenário anterior.

Sim, a vaca pode ir para o brejo de vez. Veja a base de tempo de todas essas mudanças que estão ocorrendo e veja que o nosso dia a dia hoje é completamente surreal e inimaginável há meros 120 dias atrás.

O mercado do ouro também anda interessante nos últimos meses. O metal dourado ainda tem seu charme em tempos de crise. Pode comprar um pouco se conseguir ouro físico por preços justos.

Obviamente mantenho a recomendação de ter um punhado de Bitcoin e Criptomoedas, principalmente num cenário em que os bancos venham a cair.

A recomendação do Bitcoin não vale apenas para o sistema bancário americano, lembro que o mercado do Bitcoin é tão pequenino e insignificante em valor absoluto que basta uma economia civilizada cair para que ele eventualmente se multiplique por algumas vezes.

Nessa semana que passou a HashInvest disponibilizou carteiras em Tether, ou seja, um instrumento fácil e sem burocracia para que você proteja seu patrimônio em USD. Somos uma opção mais barata que casa de câmbio e com preços competitivos com fundos cambiais. Estamos cobrando 1% ao ano de administração.

Calibre seu portfólio antes que seja tarde. Boa sorte para todos nós.

Veja outros artigos

Memecoins: a piada que chegou à presidência dos EUA 

Memecoins: a piada que chegou à presidência

Com a posse de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos, há uma grande expectativa de políticas mais favoráveis do governo americano em relação às criptomoedas (escrevo esse texto antes da posse). No entanto, a única certeza que temos até o momento é o lançamento das meme coins, TRUMP e MELANIA, pelos respetivos homenageados (presidente e primeira-dama). Juntas, essas duas meme coins já chegaram a valer mais de USD 14 bilhões.  

Uma meme coin é uma criptomoeda baseada em memes ou piadas da internet. Geralmente, elas são criadas como uma forma de humor ou sátira, mas algumas acabam ganhando valor significativo impulsionadas principalmente pela comunidade e pelo hype nas redes sociais. Outras celebridades como Elon Musk, Caitlyn Jenner, Iggy Azalea também resolveram lucrar dessa forma.  

Além da possibilidade de ganhos significativos, hoje é muito fácil do ponto de vista técnico criar uma moeda digital. Inclusive, já existem sites como Pump.fun  e Token Tool, que tornam esse processo simples como preencher um formulário online. Contudo, se o processo de criação é rápido, paga-se para que uma nova moeda seja listada por sites e exchanges. O lançamento “sério” de uma moeda custa entre USD 5.000 e USD 50.000. 

Por ser tão fácil e o investimento baixo, segundo agregadores, todos os dias entre 40.000 e 50.000 novos tokens de criptomoedas são criados. Durante períodos de hype, esse número pode chegar a 100.000. No entanto, muitas dessas iniciativas têm poucas horas de vida. 

Obviamente que nem tudo são flores, especialmente para projetos que não tem o homem mais poderoso do mundo e nem o mais rico como garotos propaganda. Ainda segundo a plataforma DREX, a maioria dos projetos de meme coin (89%) tem um valor de mercado entre 0 e $USD 1,000. Apenas 5% das meme coins tinham um valor de mercado acima de $10 milhões em março de 2024. 

Além disso, a volatilidade dos preços das meme coins é um dos aspectos mais marcantes desse segmento. Essas moedas podem experimentar oscilações extremas de valor em curtos períodos. Eventos como tweets de celebridades e notícias de parcerias podem causar aumentos repentinos nos preços. Da mesma forma, quedas igualmente rápidas acontecem quando o interesse diminui ou surgem preocupações sobre a sustentabilidade dos projetos. 

Por exemplo, o preço do Dogecoin ($DOGE) viu um aumento meteórico após uma série de tweets de Elon Musk, apenas para experimentar quedas substanciais quando o entusiasmo inicial esfriou. O que parece estar acontecendo com as moedas TRUMP e MELANIA.  

Por isso, a não ser que você compre uma meme coin por brincadeira ou piada, é muito difícil que acerte o momento certo de entrar nesse “investimento”. Você terá que acertar qual, dentre os milhares de projetos, será colocado em destaque por uma celebridade de alcance global. 

2025 já está voando

2025 já está voando

Parece que foi ontem que o ano de 2024 terminou. 2025 era esperado com muitas expectativas…

E não decepcionou… 2025 começou bastante animado e já vamos completando o primeiro mês do ano. 1/12 do ano já se foi…

Em janeiro todos os olhos do mundo econômico se voltaram ao tio Sam. Donald Trump assumiu a cadeira mais importante da maior potência econômica e militar do planeta num estilo bem caricato e pistola. Assinou pilhas de decretos de todos os tipos, assuntos e gostos… se pautou no auge da arrogância já conhecida e nada diferente daqueles que o elegeram esperava. Não vou me atrever a analisar seus decretos, veracidades, pontos positivos e nem negativos. Vou me ater ao fato do Bitcoin e demais ativos virtuais terem passado em branco no dia 1 do novo mandato de Donald Trump na presidência dos Estados Unidos.

Entretanto, movimentos de substituição na presidência da SEC (equivalente à CVM nos EUA) e a criação de uma comissão para o desenvolvimento de uma regulação pró-Bitcoin e cia foi suficiente para alavancar as cotações para novos ATH. Já na semana seguinte uma startup chinesa, DataSeek, chacoalhou o mercadoi de ações norte-americano. Em especial a Nvidia e outras bigtechs derreteram. Nenhuma relação direta com o Bitcoin, mas o efeito colateral dos mercados como um todo derrubaram o Bitcoin para baixo dos 100 mil dólares outra vez. Para a tristeza dos haters, rapidamente o Bitcoin se recuperou e voltou a ser transacionado acima dos 100 mil dólares.

Toda essa novela se passou em menos de 30 dias e certamente teremos muito mais nos próximos 11 meses. Essa emoção toda certamente será convertida em volatilidade e na média as expectativas são animadoras. Importante salientar que todos esse movimentos e ruídos são apenas catalizadores de preço de curto a médio prazo. Quando pensamos no protocolo matemático, esses ruídos têm interferência zero no Bitcoin. Preços subindo ou preços caindo o Bitcoin seguirá com sua escassez e sua descentralização. Os fundamentos que levam ao real valor do Bitcoin são justamente a sua escassez e sua descentralização.

Descentralização confere segurança e soberania ao indivíduo enquanto a escassez por protocolo matemático (descentralizado) reverte parte de seu valor em preço. Quanto maior for a demanda por algo escasso maior será seu preço. Quanto maior for o preço de um ativo seguro pelo qual cada indivíduo tem a soberania sobre ele tem um valor incalculável nos dias atuais. Justamente essa frase “nos dias atuais” que faz a procura por Bitcoin aumentar gradativamente retroalimentando esse círculo virtuoso.

No início era coisa de nerd, hoje já superamos o ciclo dos indivíduos e estamos ganhando velocidade no ciclo dos institucionais e talvez entrando simultaneamente no ciclo dos países. E nisso o catalizador que comentei lá no início ganha relevância pois pode acelerar a adoção de empresas e países para constituírem suas reservas em Bitcoin. Enquanto ruídos pontuais como “DataSeek” em nada interferem nesse processo de adoção ou no protocolo do Bitcoin, ou seja, zero influência nos fundamentos.

Enquanto governos e países forem controladores, intervencionistas e gastadores a tendência é de valorização do Bitcoin em relação às moedas fiduciárias (reais, dólares e etc…). Elimine os ruídos e foque nos fundamentos e seja feliz! Que venha o futuro.

O cenário mais provável para o Brasil

O cenário mais provável para o Brasil

Abrimos a segunda metade do atual governo com perspectivas excelentes para quem vive no padrão Bitcoin e perspectivas não tão excelente para quem vive no padrão de Real brasileiro.

Se no dia 7 de janeiro o governo faz propaganda que o déficit primário (leia a newsletter 149 sobre esse tema onde explico que déficit primário em si já é um número mentiroso e pouco útil) de “apenas” 0,1% do PIB, no dia 27 o pesquisador do Insper, Marcos Mendes detalha que ele na verdade foi 9 (NOVE) vezes maior que o divulgado (basta uma breve pesquisa no Google para você ler inúmeras reportagens sobre o tema).

Mas não é só Haddad que está maquiando dados, o IBGE capitaneado pelo autodenominado “comunista” Márcio Pochmann tem sido alvo de um motim, em que altos diretores da instituição protestam e reclamam pela falta de autonomia e uso político da instituição, se dividindo entre carta de repúdio e chegando ao extremo do pedido de exoneração.

O IBGE jura que a inflação de 2024 fechou abaixo de 5%. Nessa altura do campeonato, imagino que você já tenha verificado perante a sua realidade que a inflação real é algo entre 3 a 4 vezes isso.

O mesmo IBGE divulga desemprego nas mínimas, porém esquece de combinar com os russos, que divulgam gastos com seguro-desemprego nas máximas e crescentes.

Junte a esse caldeirão a recente pesquisa de popularidade do governo, no dia 27 de janeiro, em que pela primeira vez o governo é mais mal avaliado do que bem avaliado e apertem os cintos.

Popularidade em baixa encarece a barganha com nosso congresso corrupto, torna os favores dos deputados mais caros e favorece a gastança com viés populista para tentar reverter as questões.

Não se iluda com o refresco proporcionado pelo USD caindo de 6.20 para 5.80, ele tem nome e sobrenome. O nome chama Donald Trump, onde o refresco do USD acontece em meio a acomodação da chegada do novo governo americano e o sobrenome é recesso parlamentar, dando uma trégua ao noticiário fiscal por assim dizer.

Nossa perspectiva local é ruim, muito ruim… Terrível para ser sincero.

Recapitulando, temos na equação um governo corrupto negociando junto a um congresso corrupto, um ministro da fazenda inapto e incapaz, um instituto de estatística corrupto e mentiroso em um cenário pré-eleitoral com a popularidade de um presidente decrescente junto com um tesouro nacional sem ter de onde tirar dinheiro.

Você não precisa ser gênio para avaliar que a situação não é das melhores.

A recente crise do PIX mostrou que o governo não tem mais folego político, forças políticas e apoio popular para aumentar me criar mais impostos, o que perante ao mercado aliviaria a situação dando um espaço teatral aos infindáveis gastos.

Descartando o aumento e criação de impostos no passo necessário para atender ao apetite do feudo por mais dinheiro, restam duas alternativas sobre a mesa.

A alternativa 1 é austeridade, a redução do estado, como por exemplo um grande e significativo corte de privilégios de castas como a do judiciário e dos militares, e uma grande otimização da máquina pública e seus recursos, uma redução de impostos para quem produz e a redução de incentivos ao nada fazer proporcionada através de dinheiro grátis.

A alternativa 2 é imprimir dinheiro, aumentar as regalias dos senhores feudais do alto funcionalismo e expandir o UBI (Universal Basic Income – o auxílio Brasil por exemplo) e assim garantir base de apoio e consequentes votos para 2026.

Explorando um pouco mais a alterativa 2, já são mais de 56 milhões de brasileiros atendidos pelos programas sociais, dos quais são estimados que 42 milhões são eleitores. Some esse número aos 12 milhões de funcionários públicos Federais e a base de eleitores para perpetuar o atual governo parte de 54 milhões de votos, independente do caos.

Lembre-se que a classe média é uma câmara de eco, em que ela prega e protesta com ela mesma. Ela é numericamente inferior, não tem voz perante os senhores feudais. Na prática, além de cômodo, o grande incentivo do governo é arroxar e tirar dinheiro da classe média para expandir regalias do feudo e distribuir dinheiro grátis via UBI. Perde-se um voto em detrimento ao ganho de vários.

A alternativa 1 nos tiraria lentamente do buraco.

A alternativa 2 caminha pelos trilhos da Argentina de Cristina e Alberto Fernandez.

Se você acredita que o governo brasileiro irá optar pela alternativa 1, Tesouro Direto e ações na B3 fazem perfeito sentido.

Se você tende a acreditar que a alternativa 2 é mais provável, a janela para que você tenha Bitcoin está ficando estreita. Nesse cenário, Bitcoin a 20 mil, 40 mil ou 200 mil dólares fará pouca diferença quando comparada a destruição potencial de patrimônio que se desenha até as próximas eleições.

O cenário mais provável para o Brasil, você decide!