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Blog da HashInvest

Entendendo a crise de 2020

Postado em 08/05/2020

Nome do Autor luis

***originalmente publicado na Newsletter HashInvest de 31/03/2020***

Essa é minha primeira crise depois de minha certificação CGA e autorização na CVM para ser administrador de carteiras, ou seja, desde que oficialmente me qualifiquei como investidor profissional. É um desafio navegar pela crise nesse novo papel, embora muito mais confortável que em 2008, quando eu era empresário e precisei mandar dezenas para a rua.

Enfim, estou fazendo essa pequena introdução porque embora a audiência da Newsletter seja baixa, quero que os poucos porém assíduos leitores saibam que existe cuidado no que eu escrevo e que mais que uma simples opinião, existe estudo e uma carga técnica embasando o que você lê por aqui.

Embora por vezes eu falhe, me esforço para fazer um texto sem que o lado teórico pese. Hoje o texto está longo e se propõe a te explicar de forma simplista o núcleo da crise que estamos vivendo nos mercados.

Posso afirmar com certeza que sob o ponto de vista de investimentos a situação geral é bastante grave e provavelmente pior do que você está imaginando.

Na Newsletter passada contei para vocês que tínhamos uma tragédia anunciada na cadeia de suprimentos global por conta da China e dados ruins da Itália estavam começando a chegar. Tudo foi muito rápido e de 15 dias pra cá, praticamente todo o planeta entrou em lockdown. Então vamos explorar os acontecimentos e analisar os prováveis cenários que teremos pela frente.

O primeiro fator que indica que o abacaxi está azedo, com casca grossa e que dispomos apenas de uma faca de patê para descascá-lo foi o fato de que, em tempo recorde, por volta de 5 dias depois da primeira queda brutal dos índices da bolsa americana, o governo americano junto com o FED (Banco Central Americano) montou um pacote de USD 6 Trilhões. Isso mesmo, nada menos do que USD 6.000.000.000.000,00!!!

De forma resumida e superficial, o governo irá distribuir USD 2 Tri para a população e empresas e o FED vai usar USD 4 Tri para comprar qualquer coisa (valores mobiliários) que tenham problemas de liquidez no mercado financeiro. Qualquer coisa é qualquer coisa, incluindo ações, debêntures (dívida privada emitida por empresa), ETF (fundos de índice), hipotecas… Só falta o FED anunciar que vai comprar coleção de selos, carro velho e tampinhas de garrafa.

O FED não está fazendo isso porque ele é bobo, muito menos inocente e muito menos malvado. O FED está fazendo isso porque está desesperado para estabilizar os mercados. O que acontece é que só existem vendedores, que estão vendendo por qualquer preço. Os compradores sumiram, e o efeito disso é uma espiral negativa de preços, na busca por dinheiro na mão o investidor vende pelo preço que for possível.

Exemplo didático para entender uma Dívida corporativa

Quando uma grande empresa quer se financiar, um dos instrumentos mais comuns é a emissão de dívida de longo prazo, que se chamam debêntures. A empresa oferece juros pré-determinados por um prazo pré-determinado, geralmente anos. Algo parecido com o Tesouro Direto, só que emitido por uma empresa.

Via de regra debêntures vão parar nas carteiras de grandes fundos de investimentos e fundos de pensão. Acontece que os fundos em sua grande maioria possuem liquidez em D+1, D+2, D+30 que seja, não importando o vencimento das tais debêntures que compõe o fundo. Traduzindo, eu tenho ativos com vencimento de anos e prometo resgates em dias.

Quando investidores resgatam seu dinheiro do fundo, o fundo precisa vender seus ativos no mercado, ao preço de mercado. E esses preços não aqueles pré-acordados na emissão, são os preços que o mercado está disposto a pagar naquele dia, com base na qualidade dessa dívida e da expectativa de juros para o futuro. Eles podem ser maiores ou menores que o preço nominal. Por exemplo, se eu tenho um papel que paga juros de 5% e os juros do governo são de 3%, a tendência é existir um ágio no preço desse papel, o mesmo vale no sentido oposto.

Quando a economia está saudável, o mercado secundário dá conta da liquidez diária, ou seja, alguém querendo sair desse investimento antes de seu vencimento vende a debênture para alguém querendo entrar nesse investimento.

A Bolha da Dívida

Da crise de 2008 para cá, o dinheiro ao redor do planeta está ficando barato, muito barato. Houve um grande estímulo para emissão de dívida.

Vamos a um exemplo, imagine um governo pagando 0,25% de juros ao ano. Existe um grande incentivo para que uma empresa emita uma dívida pagando 0,50% ao ano para se financiar. Investidores terão um rendimento 100% superior comprando a dívida da empresa em relação à dívida do governo.

Essa dívida recebe o nome de “alavancagem”. E é isso que significa o que tanto se fala por aí que tal empresa está muito alavancada. Quer dizer que ela deve muito.

Foram 12 anos de uma farra desenfreada. Assim como aquele jovem adulto que se perdeu no cartão de crédito e usa o limite de um cartão para pagar a fatura do outro, a famosa bola de neve, empresas começaram a se alavancar (emitir dívidas) para pagar suas outras dívidas.

A situação estava perto de um limite quando a ginástica criativa dos bancos Centrais inventou os tal juro negativo para continuar estimulando investidores a investirem no mercado e não em dívidas soberanas. Para os governos isso soou bem, eles se financiavam de forma mais barata ao passo que mantinham o fluxo de captação dos mercados, ou seja, empurravam o investidor para as dívidas corporativas.

A bagunça foi tão generalizada que tinha empresa captando dinheiro para recomprar ações e desse modo fazer o preço delas subir. Mas tudo tem limite.

O que está acontecendo em 2020 é que o cheiro de calote por parte das empresas está muito forte. O que os investidores fazem quando acham que as empresas não vão honrar com as dívidas? Eles correm para regatar seus investimentos antes que percam tudo e isso ocorre em espiral.

Quanto mais gente sai, mais gente quer sair. É a famosa analogia do cinema pegando fogo com a porta de emergência estreita.

O COVID-19 foi o gatilho do processo. A bolha da dívida já existia, já era insustentável e já estava prestes a estourar. O que o vírus fez foi dar a desculpa perfeita para que os calotes se iniciem em série.

“Veja bem, por causa do lockdown eu não vou honrar com minhas dívidas.”

“Por causa do lockdown eu preciso de dinheiro grátis do contribuinte, senão eu vou demitir em massa.”

“Por causa do lockdown o FED precisa comprar minhas debêntures para que os fundos de pensão não derretam com a marcação de preço a mercado”.

E assim o FED fez, entrou com tudo para tentar segurar a bucha, está sendo contraparte de última instância em qualquer negócio tentando desesperadamente estabilizar o derretimento do mercado americano.

Qual o problema disso?

O problema é que o FED não tem dinheiro. Os USD 4 Trilhões que ele vai usar para comprar as dívidas, ações, ETFs e coleções de tampinhas de garrafa simplesmente não existem.

O FED não compra esses ativos com dólares efetivos. Ele compra os ativos com títulos de dívida. Como no limite o governo pode emitir dólares para honrar com essa dívida, um título de dívida com o FED é considerado dinheiro vivo nos balanços de quem os recebeu.

O FED está criando esses USD 4 Tri do absolutamente nada. É literalmente como se você passasse um cheque sem fundos e esse cheque fosse aceito como dinheiro vivo baseado exclusivamente na sua palavra.

O mundo inteiro está no mesmo barco, o COVID-19 leva a culpa e o sistema econômico está flertando com uma depressão. Isso é muito sério.

O que vai acontecer?

Ninguém sabe. Por mais absurdo que possa parecer, a criação de dinheiro a partir do nada é vista como fundamental para estabilização dos mercados.

Em teoria os mercados vão estabilizar porque agora existe um comprador de última instância e os preços param de cair. É isso que se espera.

Se a estratégia funcionar, comprou-se paz de curto prazo nos mercados e está contratada uma nova crise para daqui a alguns anos, a crise das dívidas soberanas.

Mais dia menos dia, os detentores desses títulos da dívida eventualmente vão querer trocá-los por dinheiro, e no volume atual isso vai ser um novo pandemônio, mais isso é assunto pra outro dia.

Se a estratégia não funcionar, ou seja, os USD 4 Tri forem torrados e ainda assim houverem mais vendedores do que compradores, aí o bicho pega, não haverá chão e isso infelizmente, é uma possibilidade que no atual momento não pode ser descartada.

E os Bancos

Vejam que diferente de 2008 essa crise não é uma crise bancária. Essa crise é uma crise de dívida. Por óbvio que alguns bancões devem estar com a corda no pescoço, caso contrário o FED não teria sido tão rápido e a bazuca de dinheiro não seria tão grande.

Veja que em 2008 os bancos tinham em ativos mais ou menos USD 3 para cada USD 100 depositados e hoje eles possuem por volta de USD 13. É ruim, mas é muito menos ruim que em 2008.

Enquanto são empresas e investidores que quebram, a situação é crítica, porém contornável.

Por hora, não há o que temer, mas é necessário observar de perto. Se a estratégia do FED não funcionar os bancos são os próximos na linha e é aí que a coisa fede de verdade.

Se a bazuca de dinheiro não for suficiente, a espiral do calote vai chegar aos bancos. Se isso se materializar 2008 terá sido um conto de fadas, pois o FED já estará completamente sem munição e sem capacidade de socorrer aos bancos.

Controle de capitais (limitar a quantidade de dinheiro que pessoas e empresas podem movimentar) é uma realidade que está sobre a mesa e você deveria ter muito medo disso.

(Nota importante: É para esse cenário que você tem Bitcoin).

O Brasil

Os mercados locais estão completamente a deriva.

Hoje eles nada mais são que um proxy amplificado do que acontece nos EUA. Se lá sobre 2 aqui sobe 5, se lá cair 2 aqui cai 8. Os mercados locais simplesmente não tem vida própria durante essa crise.

Os riscos aqui são imensos. Nosso já fraco quadro fiscal foi para o brejo de vez. Os BRL 1 Tri em 10 anos economizados com a reforma da previdência já foram pro saco com o necessário pacote de estímulo ao Coronavírus.

Nosso Banco Central acha que somos primeiro mundo e já fala em fazer o QE tupiniquim e sair comprando ativos assim como o FED. Grandes, realmente grandes chances de acontecer com o Real algo muito parecido com o que aconteceu com o peso argentino.

Últimos 12 meses do ARS contra o USD

Recomendações Práticas

O primeiro ponto aqui é que tudo muda muito rápido e que talvez a nossa base de tempo de quinze dias não seja suficiente para realimentar o processo, mas passo o que penso no dia de hoje.

Se você não vendeu suas ações ANTES do derretimento da bolsa, agora é tarde. Melhor sentar e esperar ver o que vai acontecer. Tenha estômago e paciência. Já perdeu 50% agora é tarde.

Não é hora de comprar novas ações. Essa história de que está barato é balela. A bolsa brasileira está sem vida própria e opera exclusivamente como proxy dos índices americanos.

Ninguém sabe quem e muito menos em que condições as empresas vão sair do outro lado da crise. Ninguém nesse ponto vai admitir que está à beira da insolvência e todos vão se vender como fortes e resilientes.

Quanto tempo vamos ficar parados? Quanta gente vai morrer? Qual a dimensão do calote geral? Como fica de verdade o lado fiscal do país? Como serão os balanços das empresas? Pois é… A realidade é que a perspectiva atual é a pior possível.

Deixe para voltar ao mercado quando houver racionalidade, ou seja, quando a bolsa voltar a refletir a realidade dos balanços das empresas e não o humor dos mercados internacionais.

Se você saiu a tempo e está com o dinheiro parado, compre Dólar. Manter o patrimônio em Reais é quase certo que será uma aposta perdedora no curto-médio prazo. É difícil perder com o dólar meio que em qualquer cenário.

Ah, mais ele já subiu muito… Reveja o gráfico da Argentina e relembro que o nosso fiscal já foi pro saco…

Se o FED estabilizar o mercado, o Dólar se valoriza porque todos vão entupir o FED de dívida podre e vão ficar com o Dólar na mão até a coisa se acalmar.

Se a vaca for para o brejo de vez, todos vão sair correndo dos emergentes e o dólar sobe ainda mais que no cenário anterior.

Sim, a vaca pode ir para o brejo de vez. Veja a base de tempo de todas essas mudanças que estão ocorrendo e veja que o nosso dia a dia hoje é completamente surreal e inimaginável há meros 120 dias atrás.

O mercado do ouro também anda interessante nos últimos meses. O metal dourado ainda tem seu charme em tempos de crise. Pode comprar um pouco se conseguir ouro físico por preços justos.

Obviamente mantenho a recomendação de ter um punhado de Bitcoin e Criptomoedas, principalmente num cenário em que os bancos venham a cair.

A recomendação do Bitcoin não vale apenas para o sistema bancário americano, lembro que o mercado do Bitcoin é tão pequenino e insignificante em valor absoluto que basta uma economia civilizada cair para que ele eventualmente se multiplique por algumas vezes.

Nessa semana que passou a HashInvest disponibilizou carteiras em Tether, ou seja, um instrumento fácil e sem burocracia para que você proteja seu patrimônio em USD. Somos uma opção mais barata que casa de câmbio e com preços competitivos com fundos cambiais. Estamos cobrando 1% ao ano de administração.

Calibre seu portfólio antes que seja tarde. Boa sorte para todos nós.

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Blockchain como Infraestrutura o Mercado de Capitais

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A maneira como os blockchains e as criptomoedas são percebidos pelos gestores financeiros está evoluindo rapidamente.  Este ramo, que até pouco tempo era renegado e ligado fortemente a hackers e fraudes, teve uma mudança de perspectiva importante no começo deste ano com o lançamento dos ETFs na bolsa americana e, mesmo com esse grande avanço, muito mais está por vir.

Em março a Black Rock, maior gestora de ativos do planeta, lançou o BUILD (BlackRock USD Institutional Digital Liquidity Fund), o seu primeiro fundo tokenizado.

Um token é um “certificado de propriedade” que representa ativos do mundo real (como imóveis, ações, títulos ou commodities) em um blockchain. Ou seja, a infraestrutura de redes como Bitcoin, Ethereum e Solana é usada para representar coisas/estruturas que vão além de moedas.

Em um fundo tokenizado, como o BUILD da Black Rock, a gestora utiliza tokens para representar os ativos do fundo, neste caso específico, Títulos do Tesouro Americano e Dólares Americanos.

O que deixa esta história interessante, é que a Black Rock não é a única interessada em tokenização, notando-se movimentos similares em diversos setores.

Por exemplo, o Tether Limited Inc., empresa que emite a moeda com preço atrelada ao Dólar, lançou recentemente o Tether Gold. Neste caso, cada token emitido representa uma quantidade de ouro armazenada em bancos da Suíça.

A Consultoria McKinsey projeta em seu cenário base que o mercado de ativos tokenizados atingirá um tamanho de quase USD $2 trilhões até 2030.

Dentre as vantagens que levam a esse interesse na tokenização, podemos citar liquidações instantâneas 24/7, maior transparência e eficiência, aliada a redução no custo. Para quem opera cripto, nada demais, mas para o mercado financeiro tradicional, isto traz oportunidades significativas.

Em resumo, a gestão de ativos cripto pode evoluir do simples acúmulo de criptomoedas para a criação de produtos multi-ativos com sua gestão e distribuição ocorrendo através dos blockchains. Blockchains estes que até pouco tempo, eram coisa de bandido.

30 ANOS DO PLANO REAL

30 ANOS DO PLANO REAL

Em 01/07/2024 o Real completará 30 anos de circulação. Na verdade, o plano real, pois tudo começou através de medidas provisórias na qual a moeda era chama de URV, posteriormente convertido para o Real na cotação de 1 para 1.

Temos motivos para celebrar ou não? Aprendemos algo com o passado?

Ao final do regime militar no Brasil e período de redemocratização (na medida do possível em uma frágil democracia, mas ao menos o fim de uma ditadura escancarada) o país passou por diversas crises econômicas desencadeando o pior dos impostos de maneira exacerbada: inflação (no caso hiperinflação). Os governos sempre tiveram o hábito de exaltarem seu governo e culparem algo externo a eles na totalidade. Parece que alguns hábitos nunca se perdem…

A inflação ao final dos anos 1980 e início dos anos 1990 vinha escalonando de forma abrupta e a cada plano que tentava controlar artificialmente a inflação ela voltava com ainda mais intensidade. Logo antes do plano real o Brasil chegou a bater um IPCA (oficial) de 2.500% ao ano. Os mais antigos devem se lembrar de coisas como overnight, remarcação de preços no supermercado diversas vezes ao dia (existia uma profissão que era etiquetador de preços) e a corrida ao supermercado nos dias de pagamento.

Vamos voltar um pouquinho mais…

Durante o governo Sarney foram 3 as tentativas de conter a inflação. Em 1986 foi a vez do plano cruzado, onde a moeda sofreu um corte de 3 zeros e houve congelamento de preços e da taxa de câmbio oficial. Em 1987 foi a vez do Plano Bresser que tentou a já ineficaz estratégia de congelamento de preços. Em 1989 como última cartada do governo Sarney tivemos o Plano Verão em 1989 com um novo corte de 3 zeros na moeda renomeando a moeda para Cruzado Novo, e novos congelamentos de preços e taxas de câmbio.

Já no governo Collor, em 1990 foi o Plano Collor 1 que ficou famoso pelo confisco da poupança popular e criação de novos impostos como o IOF (imposto sobre operações financeiras). Em 1992 veio o Plano Collor 2 com novos congelamentos de preços e agora também o congelamento de salários. E já não bastasse o confisco do plano anterior na poupança popular, a equipe econômica decidiu proibir os depósitos overnight.

Uma coisa comum a todos esses planos foi uma queda artificial (e muito dolorosa para a população) com um repique muito mais acentuado da inflação na sequência.

Em 1994, durante o Governo Itamar Franco, foi implantado o Plano Real. Primeiramente com a URV (CR$2.750 = US$ 1,00 = R$ 1,00). O início da circulação da URV (posteriormente batizada de real) foi em 01/07/1994. O plano real teve suas crises, mas é fato que devolveu a estabilidade mantendo a inflação oficial em patamares inferiores a dois dígitos anuais. Em retrospectiva foi um sucesso!

E agora, 30 anos depois?

Um pequeno exercício da um pouquinho da dimensão do que é a inflação. Nesses trinta anos de “estabilidade”, o não tão poderoso real também perdeu seu poder de compra, às vezes mais rápido, às vezes mais devagar. R$1,00 em 1994 podia comprar uma série de coisas… em 2024 a cédula de R$1,00 não existe mais!

Em 1994 um pãozinho de sal custava R$0,10. Hoje é difícil comprar um pãozinho por menos de R$1,00. Um litro de gasolina custava R$0,55 em 1994 e hoje é difícil abastecer por menos de R$5,50 o litro. E isso vale pro leite, pro ovo e pra banana também…

Um ponto importante e que não pode ser esquecido, é que o descontrole para o monstro da inflação pode ser fatal. É fácil voltarmos ao período de hiperinflação, mas é cada vez mais difícil sairmos dele (olhe nossos vizinhos Hermanos) uma vez que o nosso sistema e ferramentas tradicionais estão desgastadas e perto de um colapso (crescimento da dívida, aumento de carga tributária, PIB praticamente estagnado por décadas e irresponsabilidade fiscal). Ninguém torce por isso, mas sempre que palavras como intervenção, confisco, congelamento voltam a circular o medo do monstro da hiperinflação volta a rondar.

Qual ativo hoje existente e acessível, que não existia em 1994, é imune em seus fundamentos às palavras (confisco, intervenção etc.) e ações de governos que podem acordar o monstro da hiperinflação?

Uma dica: Não é o Bitcoin do banco Itaú!

10 anos de minha primeira iniciativa com Bitcoin

10 anos de minha primeira iniciativa com Bitc

Essa semana me dei conta que em julho faz 10 anos de minha primeira iniciativa para que amigos próximos entendessem e entrassem no Bitcoin, e desde então venho fracassando consistentemente nessa missão.

O ano era 2014 e eu estava apaixonado pela moedinha laranja. Era o chato do Bitcoin, só via Bitcoin, tudo era Bitcoin. Havia recém voltado de Amsterdam de minha primeira conferência de Bitcoin.

Na ocasião, meu sócio que se senta a minha frente foi persuadido a programar um bolão da copa do mundo em Bitcoin, na qual as apostas para participar e os prêmios eram em Bitcoin.

O bolão em si era o de menos, a tentativa era ser lúdico e mostrar o futuro às pessoas queridas, que através de um uso prático, criassem carteiras, transacionassem, enfim, uma brincadeira para quebrar a barreira inicial.

Deu errado.

– “Muito complicado”

– “Faz pra mim, depois te pago”

-“Legal, mas não tenho tempo”

-“Você é maluco”

-“Você precisa arrumar um emprego”

O preço na ocasião? Na casa dos USD 300 (Trezentos dólares), morro abaixo, logo depois de ter ultrapassados os USD 1.000 pela primeira vez durante o stress bancário na Grécia.

Deveria ter parado por aí, mas não… Vem o ano de 2017, lá por julho, e a ideia de montar a HashInvest. Se lá em 2014 a turma ignorou e não veio, então, vamos criar uma ferramenta que permita as pessoas a embarcarem sem sofrer, com baixíssima complexidade, e então começamos.

 Abrimos as portas em novembro e logo em seguida o Bitcoin ultrapassa a marca de USD 10 mil pela primeira vez na história.

Dessa vez logrei algum êxito e o sucesso foi ligeiramente maior que no bolão de 2014. Empolgados pela euforia do mercado e com o noticiário naquele ano, dessa vez alguns bem-sucedidos amigos próximos finalmente entraram no Bitcoin.

Qual era a minha esperança? Que começassem a ler os conteúdos por aqui e que começassem a voar por conta própria. Não foi o que aconteceu.

A única recomendação que dou explicitamente é a de fazer preço médio, o que que ninguém faz é o preço médio. A turma comprou em 2017 e a grande maioria simplesmente deixou lá, sem novos aportes, sem estudar por conta própria e ficaram demasiados insatisfeitos quando o pico de USD 20 mil derreteu pelos anos a seguir, e o pior, agora a culpa era minha.

Em 2019 e 2020 resolvemos que era hora de fazer marketing digital. Investimos em Instagram, conteúdo, linkedin, podcast e os cambau…

Nada efetivo, pouco resultado. Acabou que nos dias atuais temos o mínimo, mas bem diferente do que já foi no passado. As pessoas simplesmente não vieram, logo, vamos ficar por aqui somente para reafirmar que estamos por aqui e estamos vivos.

O preço na época era em torno dos USD 6 mil dólares por Bitcoin, com direito a uma excursão na casa dos USD 3 mil alto no fatídico Corona Day.

Veio mais um bull market, dessa vez em 2021. Vimos o Bitcoin saltar para USD 69 mil dólares e quando a farra se aproximava do fim é que os clientes começaram a chegar…

A gente fala que bitcoin se compra todo dia, no preço médio, mas a pessoa quer comprar depois que a euforia tomou conta da internet… Caímos para a casa dos USD 15 mil e por lá ficamos até meados de 2023.

Com a chegada dos ETFs e dos institucionais, o Bitcoin começou a tracionar mais uma vez um novo All time High na casa de USD 73 mil foi visto há poucos meses nesse ano de 2024, mas diferentemente dos outros Bull Markets, dessa vez o varejo não veio, pelo contrário, quem levou prejuízo entrando no topo de 2021 acabou por “aproveitar a chance” e ir embora de vez.

Hoje, especificamente dia 24 de junho de 2024 enquanto eu escrevo esse texto o Bitcoin “derrete e agoniza” em USD 60 mil.

Dos tais amigos próximos, ainda sou taxado de louco. Recorrentemente o que escuto é que

-“Você teve sorte”

-“Deveria ter te escutado lá atrás, mas hoje está muito caro”.

-“Você ainda tá naquele negócio de Bitcoin?”

-“Ainda tenho aquela grana lá de 2017, ta bom né… Qualquer dia ponho um gole a mais”

Hoje ainda sou o chato do Bitcoin, mas diferentemente do passado, somente quando sou perguntado. Quando não questionado, converso de cervejas, de viagens, do clima, de amenidades em geral, mas só falo de Bitcoin com quem me pergunta.

Mesmo quem me pergunta se recusa a aceitar a realidade. Por mais dados que sejam entregues, demonstrados, a alocação de recursos vai majoritariamente… Para a renda fixa em Reais. É ultrajante e embaraçosa a sensação de incompetência que me acomete.

Vejam os marcos de preço desse texto…

USD 1000, USD 300, USD 10.000, USD 20.000, USD 6.000, USD 3.000, USD 69.000, USD 15.000, USD 73.000, USD 60.000…

Quando estava em USD 1 mil, estava caro demais, e quando estava em USD 300, ainda bem que não entrei nessa fria.

Quando estava em USD 69 mil, estava caro demais, e quando estava em USD 15 mil, ainda bem que não entrei nessa fria.

Quando estava em USD 73 mil estava caro demais…

Todos os anos escrevo ao menos uma newsletter com cálculos detalhados de preço médio, geralmente com aporte mensal e começando em épocas muito ruins (primeiro aporte num all time high por exemplo) e todos os anos demonstro com dados que se você fizer DCA de modo disciplinado a sua probabilidade de multiplicar o patrimônio é significativamente alta e seu risco é relativamente baixo. Fazendo isso você bate TODOS os CDBs, CDIs, Tesouros e índices de bolsa que pode encontrar por aí.

No fim do dia… São 5 os clientes que praticam o preço médio…

Quanto a mim? Começando a pensar com mais carinho na ideia de aposentadoria.  A Hashinvest não é exatamente uma necessidade nessa altura da vida, afinal, dizem por aí que “dei sorte!”.

Gostaria de ter convertido muito mais gente do que de fato converti e passados 10 anos, sinto que está se aproximando a hora de admitir que é bastante provável que eu não seja a pessoa certa para esse trabalho.