Um dia Ali Babá estava andando pelo bazaar de Bagdá, quando nota estar sendo roubado. Imediatamente Ali Babá começa a perseguir o meliante, que entra em uma caverna. Uma vez na caverna, Ali Babá se depara com uma bifurcação. Sem saber qual caminho o gatuno tomou, Ali Babá escolhe aleatoriamente uma das duas alternativas e nada. Nosso personagem chega a um beco sem saída e não encontra nenhum ladrão. Provavelmente, ao correr na direção errada, ele permitiu que o ladrão desse meia-volta e conseguisse sair da caverna tranquilamente.

No dia seguinte e nos próximos 38 dias, Ali Babá é igualmente roubado no mesmo bazaar e todos os meliantes correm em direção à caverna. Nas perseguições, ao chegar à bifurcação, Ali Babá sempre escolhe aleatoriamente um dos lados e o resultado é o mesmo: beco sem saída e nenhum ladrão. Convencido que não poderia ser tão azarado, pois o esperado seria uma taxa de sucesso de 50%, Ali Babá decide se esconder na caverna. Após uma longa espera, um ladrão entra correndo e, ao chegar ao final do caminho, diz as palavras secretas “abra-te sesame”, a parede desliza conectando os dois caminhos que começavam na bifurcação e que supostamente eram becos sem saída. Após o ladrão atravessar a passagem, a parede volta imediatamente para a posição inicial, confundindo qualquer perseguidor. Triste por ter sido roubado por 40 dias, mas ao mesmo tempo feliz por ter descoberto o segredo da caverna, Ali Babá anota sua descoberta em um manuscrito.

Quinhentos anos depois este manuscrito é descoberto por um arqueólogo. Ele então leva uma equipe de reportagem para a caverna, decidido a mostrar que desvendou o segredo milenar. Os jornalistas analisam cada um dos dois caminhos e concordam que são de fato sem saída, afinal, não conhecem as palavras mágicas. O repórter fica então do lado de fora caverna grita por qual dos lados o arqueólogo deve sair e sempre o arqueólogo saí pelo lado certo, tudo gravado. Conclusões: a caverna é mágica, o arqueólogo sabe o segredo e conseguiu provar seu conhecimento para o mundo sem de fato revelá-lo para ninguém.

Esta história é baseada em um artigo de 1989 chamado “How to explain Zero-Knowledge Protocols to your children” (Como explicar protocolos de conhecimento-zero para seus filhos), que demonstra didaticamente como uma técnica de criptografia chamada de zero-knowledge proof serve para comprovar a veracidade de uma afirmação sem que o conteúdo seja conhecido, da mesma forma que o arqueólogo provou que conhecia o segredo da caverna sem nunca revelá-lo.

Antes de ligar o trecho sobre Ali Babá e as criptomoedas, um pouco de contexto.

Uma das oposições que as moedas digitais enfrentam refere-se ao excesso de transparência (sim, em alguns setores isto é visto como um problema). Nas criptos mais conhecidas, o endereço que envia valores, o endereço que recebe e a quantia movimentada são de conhecimento público. Por exemplo, a carteira com endereço 0x3f5ce5fbfe3e9af3971dd833d26ba9b5c936f0be é usado pela Binance (uma das maiores exchanges do mundo) para armazenar Ether. No momento em que escrevo este artigo, o saldo desta carteira são 55.343,1760 Ether ou aproximadamente R$ 43.500.000,00. Com alguns cliques eu ainda poderia dizer todo o histórico de movimentações desta carteria.

Setores como o bancário preferem a privacidade ante a transparência. E esta é uma das justificativas para não aderir às moedas digitais.

A boa notícia é que já existem mecanismos baseados em zero-knowledge proof que estão sendo aplicados para aumentar a privacidade nos blockchains. Estes mecanismos são chamados por um nome nem um pouco simples, zk-SNARK ou zero-knowledge Succinct Non-Interactive Arguments of Knowledge. Atualmente somente duas redes tem este tipo de ferramenta disponíveis, ZCASH e HAWK, mas muitas outras já falam em aderir a este movimento. Com isso, mais blockchains serão capazes de validar transações sem que as partes envolvidas sejam reveladas, ou seja, acabando com mais um argumento contrário a adoção da tecnologia. Assim, se continuarmos neste ritmo, vai ficar cada vez mais feio dizer que não usa blockchain.

Obs: Este artigo é uma réplica da Newsletter da HashInvest disponibilizada por e-mail e publicada aqui com alguns dias de defasagem. Quer receber a Newsletter na íntegra? Assine inserindo o seu e-mail abaixo:


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