Voltar
Blog da HashInvest

O que resta aos Bancos Centrais numa próxima crise?

Postado em 29/03/2019

Nome do Autor luis

Em 5 de Fevereiro agora, foi publicado no Blog do FMI (Fundo Monetário Internacional) um artigo intitulado “Como explorar as oportunidades das taxas de juros negativas”. Sugiro a leitura, o texto está em português.

Pode parecer estranho para nós brasileiros, acostumados com juros reais altos e nominais altíssimos. Nossa SELIC (taxa básica de juros) está em 6,50% ao ano e isso é um luxo que poucas economias têm. A Suíça, por exemplo, mantém uma taxa de juros negativa de 0,75% ao ano, ou seja, os bancos te cobram pelo privilégio que você tem de deixar seu dinheiro com eles.

O primeiro parágrafo do artigo do FMI diz:

“Durante a crise financeira mundial, muitos bancos centrais reduziram suas taxas básicas de juros para zero para estimular o crescimento. Dez anos depois, os juros permanecem baixos na maioria dos países. Embora a economia mundial esteja a se recuperar, novas fases de retração são inevitáveis. Historicamente, recessões graves exigem cortes de 3 a 6 pontos percentuais nos juros básicos. Se houver outra crise, poucos países teriam essa margem de manobra para uma reação da política monetária.”

Mas o Brasil tem margem de manobra… Ainda tem!

Se as reformas forem feitas (e espero que sejam!), previdência, política e tributária, baixar os juros não apenas será possível como mandatório para que a nossa economia finalmente deslanche. Não precisamos voltar muito no tempo, em 2016 qualquer aplicação de renda fixa dava o famoso 1% ao mês (ai que saudade…), mas o fato é que nossas taxas tem tudo para cair ainda mais no longo prazo.

Os Estados Unidos que estavam em marcha para subir (e normalizar) os juros recuaram e já se fala em um novo QE (quantitative easing, o famigerado dinheiro de helicóptero) e os juros devem ficar na casa dos 2% por um bom tempo…

E daí? E daí que estamos muito provavelmente cozinhando uma belíssima crise mundial e único remédio conhecido que é baixar juros está no limite… Mas não se apressem porque o FMI tem proposta mágica para dar sobrevida ao remédio de baixar taxas de juros.

Da forma como as coisas são hoje, o dinheiro físico limita o juro a zero. Se o banco central determina uma taxa de juros negativa você vai guardar dinheiro embaixo do colchão, certo? Então, em tese, o dinheiro físico limita a habilidade dos Bancos Centrais a trabalharem com juros negativos e por isso os juros negativos têm sido “ligeiramente” negativos.

Então, qual o coelho na cartola?

A proposta do FMI é que os países dividam sua base monetária em duas moedas distintas. O dinheiro eletrônico (depósitos bancários) e o dinheiro em espécie (papel). A moeda eletrônica estaria sujeita à taxa básica de juros e a moeda em espécie estaria sujeita a uma taxa de câmbio em relação à moeda eletrônica.

Vamos fazer um breve exercício com a proposta do FMI. Suponha que no primeiro dia do ano você sacou R$ 1.000,00 em dinheiro vivo e sobraram R$ 1.000,00 em sua conta bancária e que os juros nominais sejam negativos em 5%. Ao final do ano você vai até o seu banco e deposita o valor de R$ 1.000,00 em espécie de volta na sua conta corrente. Vamos ver o que acontece.

Da forma como as coisas são hoje, ao final do período você teria um valor de R$ 1.950,00 no banco, sendo R$ 1.000,00 do seu depósito no último dia do ano e R$ 950,00 como resultado de um juro negativo sobre sua conta corrente ao longo do ano.

Da forma como o FMI está sugerindo fazer, haveria uma taxa de câmbio de 0,95 para seu dinheiro em espécie virar dinheiro eletrônico. Ou seja, no último dia do ano você deposita R$ 1.000,00 no banco e são creditados R$ 950,00 em sua conta, totalizando R$ 1.900,00, ou seja, seu dinheiro vivo foi desvalorizado na mesma taxa que seu depósito no banco.

Na prática o dinheiro vivo passa a perder valor na mesma medida que o depósito bancário e será natural o comércio refletir isso nos preços.

De acordo com o FMI, essa proposta “…tornaria viável a aplicação de taxas de juros altamente negativas e ao mesmo tempo, preservaria a função do dinheiro.” e “…permitiria ao Banco Central implementar uma taxa de juros negativa na medida que fosse necessária para combater uma recessão, sem desencadear uma grande onda de substituição por dinheiro vivo.”

Percebe a grande diferença que existe entre as Criptomoedas e o dinheiro eletrônico do governo? O Banco Central não pode arbitrar uma taxa de câmbio sobre o seu Bitcoin e fim.

Não, não é teoria da conspiração, o fato é que simplesmente não se conhece outro mecanismo a não ser baixar os juros em caso de uma grande recessão. Para quem quiser ler mais sobre o tema, seguem dois links interessantes.

https://www.imf.org/en/Publications/WP/Issues/2018/08/27/Monetary-Policy-with-Negative-Interest-Rates-Decoupling-Cash-from-Electronic-Money-46076

https://www.nber.org/papers/w15118.pdf

Resumo da história

Se houver uma nova crise (e ao que tudo indica é uma probabilidade real) você está ferrado caso só tenha ativos convencionais. Os juros reais ficarão negativos e bolsas tendem a derreter no curto prazo quando do advento das recessões e crises.

Muito além da especulação e chance real de ganhar dinheiro, é por esse motivo que você precisa aumentar sua exposição às Criptomoedas.

Veja outros artigos

Memecoins: a piada que chegou à presidência dos EUA 

Memecoins: a piada que chegou à presidência

Com a posse de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos, há uma grande expectativa de políticas mais favoráveis do governo americano em relação às criptomoedas (escrevo esse texto antes da posse). No entanto, a única certeza que temos até o momento é o lançamento das meme coins, TRUMP e MELANIA, pelos respetivos homenageados (presidente e primeira-dama). Juntas, essas duas meme coins já chegaram a valer mais de USD 14 bilhões.  

Uma meme coin é uma criptomoeda baseada em memes ou piadas da internet. Geralmente, elas são criadas como uma forma de humor ou sátira, mas algumas acabam ganhando valor significativo impulsionadas principalmente pela comunidade e pelo hype nas redes sociais. Outras celebridades como Elon Musk, Caitlyn Jenner, Iggy Azalea também resolveram lucrar dessa forma.  

Além da possibilidade de ganhos significativos, hoje é muito fácil do ponto de vista técnico criar uma moeda digital. Inclusive, já existem sites como Pump.fun  e Token Tool, que tornam esse processo simples como preencher um formulário online. Contudo, se o processo de criação é rápido, paga-se para que uma nova moeda seja listada por sites e exchanges. O lançamento “sério” de uma moeda custa entre USD 5.000 e USD 50.000. 

Por ser tão fácil e o investimento baixo, segundo agregadores, todos os dias entre 40.000 e 50.000 novos tokens de criptomoedas são criados. Durante períodos de hype, esse número pode chegar a 100.000. No entanto, muitas dessas iniciativas têm poucas horas de vida. 

Obviamente que nem tudo são flores, especialmente para projetos que não tem o homem mais poderoso do mundo e nem o mais rico como garotos propaganda. Ainda segundo a plataforma DREX, a maioria dos projetos de meme coin (89%) tem um valor de mercado entre 0 e $USD 1,000. Apenas 5% das meme coins tinham um valor de mercado acima de $10 milhões em março de 2024. 

Além disso, a volatilidade dos preços das meme coins é um dos aspectos mais marcantes desse segmento. Essas moedas podem experimentar oscilações extremas de valor em curtos períodos. Eventos como tweets de celebridades e notícias de parcerias podem causar aumentos repentinos nos preços. Da mesma forma, quedas igualmente rápidas acontecem quando o interesse diminui ou surgem preocupações sobre a sustentabilidade dos projetos. 

Por exemplo, o preço do Dogecoin ($DOGE) viu um aumento meteórico após uma série de tweets de Elon Musk, apenas para experimentar quedas substanciais quando o entusiasmo inicial esfriou. O que parece estar acontecendo com as moedas TRUMP e MELANIA.  

Por isso, a não ser que você compre uma meme coin por brincadeira ou piada, é muito difícil que acerte o momento certo de entrar nesse “investimento”. Você terá que acertar qual, dentre os milhares de projetos, será colocado em destaque por uma celebridade de alcance global. 

2025 já está voando

2025 já está voando

Parece que foi ontem que o ano de 2024 terminou. 2025 era esperado com muitas expectativas…

E não decepcionou… 2025 começou bastante animado e já vamos completando o primeiro mês do ano. 1/12 do ano já se foi…

Em janeiro todos os olhos do mundo econômico se voltaram ao tio Sam. Donald Trump assumiu a cadeira mais importante da maior potência econômica e militar do planeta num estilo bem caricato e pistola. Assinou pilhas de decretos de todos os tipos, assuntos e gostos… se pautou no auge da arrogância já conhecida e nada diferente daqueles que o elegeram esperava. Não vou me atrever a analisar seus decretos, veracidades, pontos positivos e nem negativos. Vou me ater ao fato do Bitcoin e demais ativos virtuais terem passado em branco no dia 1 do novo mandato de Donald Trump na presidência dos Estados Unidos.

Entretanto, movimentos de substituição na presidência da SEC (equivalente à CVM nos EUA) e a criação de uma comissão para o desenvolvimento de uma regulação pró-Bitcoin e cia foi suficiente para alavancar as cotações para novos ATH. Já na semana seguinte uma startup chinesa, DataSeek, chacoalhou o mercadoi de ações norte-americano. Em especial a Nvidia e outras bigtechs derreteram. Nenhuma relação direta com o Bitcoin, mas o efeito colateral dos mercados como um todo derrubaram o Bitcoin para baixo dos 100 mil dólares outra vez. Para a tristeza dos haters, rapidamente o Bitcoin se recuperou e voltou a ser transacionado acima dos 100 mil dólares.

Toda essa novela se passou em menos de 30 dias e certamente teremos muito mais nos próximos 11 meses. Essa emoção toda certamente será convertida em volatilidade e na média as expectativas são animadoras. Importante salientar que todos esse movimentos e ruídos são apenas catalizadores de preço de curto a médio prazo. Quando pensamos no protocolo matemático, esses ruídos têm interferência zero no Bitcoin. Preços subindo ou preços caindo o Bitcoin seguirá com sua escassez e sua descentralização. Os fundamentos que levam ao real valor do Bitcoin são justamente a sua escassez e sua descentralização.

Descentralização confere segurança e soberania ao indivíduo enquanto a escassez por protocolo matemático (descentralizado) reverte parte de seu valor em preço. Quanto maior for a demanda por algo escasso maior será seu preço. Quanto maior for o preço de um ativo seguro pelo qual cada indivíduo tem a soberania sobre ele tem um valor incalculável nos dias atuais. Justamente essa frase “nos dias atuais” que faz a procura por Bitcoin aumentar gradativamente retroalimentando esse círculo virtuoso.

No início era coisa de nerd, hoje já superamos o ciclo dos indivíduos e estamos ganhando velocidade no ciclo dos institucionais e talvez entrando simultaneamente no ciclo dos países. E nisso o catalizador que comentei lá no início ganha relevância pois pode acelerar a adoção de empresas e países para constituírem suas reservas em Bitcoin. Enquanto ruídos pontuais como “DataSeek” em nada interferem nesse processo de adoção ou no protocolo do Bitcoin, ou seja, zero influência nos fundamentos.

Enquanto governos e países forem controladores, intervencionistas e gastadores a tendência é de valorização do Bitcoin em relação às moedas fiduciárias (reais, dólares e etc…). Elimine os ruídos e foque nos fundamentos e seja feliz! Que venha o futuro.

O cenário mais provável para o Brasil

O cenário mais provável para o Brasil

Abrimos a segunda metade do atual governo com perspectivas excelentes para quem vive no padrão Bitcoin e perspectivas não tão excelente para quem vive no padrão de Real brasileiro.

Se no dia 7 de janeiro o governo faz propaganda que o déficit primário (leia a newsletter 149 sobre esse tema onde explico que déficit primário em si já é um número mentiroso e pouco útil) de “apenas” 0,1% do PIB, no dia 27 o pesquisador do Insper, Marcos Mendes detalha que ele na verdade foi 9 (NOVE) vezes maior que o divulgado (basta uma breve pesquisa no Google para você ler inúmeras reportagens sobre o tema).

Mas não é só Haddad que está maquiando dados, o IBGE capitaneado pelo autodenominado “comunista” Márcio Pochmann tem sido alvo de um motim, em que altos diretores da instituição protestam e reclamam pela falta de autonomia e uso político da instituição, se dividindo entre carta de repúdio e chegando ao extremo do pedido de exoneração.

O IBGE jura que a inflação de 2024 fechou abaixo de 5%. Nessa altura do campeonato, imagino que você já tenha verificado perante a sua realidade que a inflação real é algo entre 3 a 4 vezes isso.

O mesmo IBGE divulga desemprego nas mínimas, porém esquece de combinar com os russos, que divulgam gastos com seguro-desemprego nas máximas e crescentes.

Junte a esse caldeirão a recente pesquisa de popularidade do governo, no dia 27 de janeiro, em que pela primeira vez o governo é mais mal avaliado do que bem avaliado e apertem os cintos.

Popularidade em baixa encarece a barganha com nosso congresso corrupto, torna os favores dos deputados mais caros e favorece a gastança com viés populista para tentar reverter as questões.

Não se iluda com o refresco proporcionado pelo USD caindo de 6.20 para 5.80, ele tem nome e sobrenome. O nome chama Donald Trump, onde o refresco do USD acontece em meio a acomodação da chegada do novo governo americano e o sobrenome é recesso parlamentar, dando uma trégua ao noticiário fiscal por assim dizer.

Nossa perspectiva local é ruim, muito ruim… Terrível para ser sincero.

Recapitulando, temos na equação um governo corrupto negociando junto a um congresso corrupto, um ministro da fazenda inapto e incapaz, um instituto de estatística corrupto e mentiroso em um cenário pré-eleitoral com a popularidade de um presidente decrescente junto com um tesouro nacional sem ter de onde tirar dinheiro.

Você não precisa ser gênio para avaliar que a situação não é das melhores.

A recente crise do PIX mostrou que o governo não tem mais folego político, forças políticas e apoio popular para aumentar me criar mais impostos, o que perante ao mercado aliviaria a situação dando um espaço teatral aos infindáveis gastos.

Descartando o aumento e criação de impostos no passo necessário para atender ao apetite do feudo por mais dinheiro, restam duas alternativas sobre a mesa.

A alternativa 1 é austeridade, a redução do estado, como por exemplo um grande e significativo corte de privilégios de castas como a do judiciário e dos militares, e uma grande otimização da máquina pública e seus recursos, uma redução de impostos para quem produz e a redução de incentivos ao nada fazer proporcionada através de dinheiro grátis.

A alternativa 2 é imprimir dinheiro, aumentar as regalias dos senhores feudais do alto funcionalismo e expandir o UBI (Universal Basic Income – o auxílio Brasil por exemplo) e assim garantir base de apoio e consequentes votos para 2026.

Explorando um pouco mais a alterativa 2, já são mais de 56 milhões de brasileiros atendidos pelos programas sociais, dos quais são estimados que 42 milhões são eleitores. Some esse número aos 12 milhões de funcionários públicos Federais e a base de eleitores para perpetuar o atual governo parte de 54 milhões de votos, independente do caos.

Lembre-se que a classe média é uma câmara de eco, em que ela prega e protesta com ela mesma. Ela é numericamente inferior, não tem voz perante os senhores feudais. Na prática, além de cômodo, o grande incentivo do governo é arroxar e tirar dinheiro da classe média para expandir regalias do feudo e distribuir dinheiro grátis via UBI. Perde-se um voto em detrimento ao ganho de vários.

A alternativa 1 nos tiraria lentamente do buraco.

A alternativa 2 caminha pelos trilhos da Argentina de Cristina e Alberto Fernandez.

Se você acredita que o governo brasileiro irá optar pela alternativa 1, Tesouro Direto e ações na B3 fazem perfeito sentido.

Se você tende a acreditar que a alternativa 2 é mais provável, a janela para que você tenha Bitcoin está ficando estreita. Nesse cenário, Bitcoin a 20 mil, 40 mil ou 200 mil dólares fará pouca diferença quando comparada a destruição potencial de patrimônio que se desenha até as próximas eleições.

O cenário mais provável para o Brasil, você decide!