Peço antecipadamente desculpas pelo tamanho do artigo de hoje, mas se você investe em Criptomoedas e está com o estômago embrulhado e desiludido com os últimos acontecimentos, esse texto é para você.
O texto a seguir é uma tradução livre do blog escrito por Robert Nielsen. Ao final, retorno com meu breve comentário. Recomendo fortemente a leitura de “A morte do Bitcoin”.
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Nos últimos dois anos estive seguindo a estrada acidentada do Bitcoin, desde que ele emergiu como a promessa de uma revolução e grande mudança até colapsar na neblina da fraude e falta de princípios econômicos. Depois de perder 85% de seu valor nos últimos doze meses, o Bitcoin finalmente chegou ao fim da linha? Existe alguma chance de recuperação ou ele está destinado a simplesmente sair de cena?
Algumas pessoas afirmam que o preço do Bitcoin não é importante. Essas pessoas não fazem a menor ideia do que estão falando ou estão tentando minimizar os danos. O preço é extremamente importante. A razão é simples, o Bitcoin não possui uma economia própria.
Por exemplo, eu não sou diretamente afetado pela taxa de câmbio do Euro porque recebo meu salário em Euro, pago meu aluguel, conta de luz, comida e tudo mais em Euro. Então se o Euro cai 10% contra o Dólar, isso não me afeta diretamente porque eu não preciso de dólares (eu sei que isso tem um pequeno efeito indireto sob o ponto de vista de trocas comerciais em uma visão ampla da economia, mas vamos deixar esse ponto de lado). Em comparação veja que quase ninguém é pago em Bitcoin e é muito difícil poder pagar aluguel, luz e etc em Bitcoin.
Toda vez que é preciso gastar é necessário fazer o câmbio de Bitcoin por moedas escriturais. Desse modo, toda vez que o preço cai você precisa pagar relativamente mais pela sua luz, aluguel e etc.
Os fãs do Bitcoin adoram apontar o site “Bitcoin Obituaries” para mostrar a resiliência da Criptomoeda. “Olhe, todas as vezes que afirmaram que o Bitcoin morreu, veja como estavam errados!”. Se você olhar o site cuidadosamente você verá que apenas poucos artigos realmente afirmam que o Bitcoin está morto, e que normalmente falam que ele “está morrendo” (e de fato está) ou que ele nunca terá adoção em massa ou será amplamente utilizado (e de fato não será).
Muito melhor é olhar a compilação ultrajante de artigos proclamando novos recordes de preço em breve e o colapso hiperinflacionário das moedas escriturais.
Os fãs do Bitcoin gostam de apontar o número de comerciantes que usam o Bitcoin e de dizer que a infraestrutura é robusta (até mesmo gostam de citar políticos durante a crise financeira alegando que “os fundamentos são sólidos”).
São frequentes as postagens de negócios que estão começando a aceitar o Bitcoin, porém, mesmo nos sites a favor do Bitcoin, existem pouquíssimos relatos de pessoas que de fato usam a Criptomoeda para comprar coisas.
Enquanto são noticiados quantos novos lugares passaram a aceitar o Bitcoin, quase não se tem notícia de quantos continuam aceitando ou de quantos clientes realmente compram com Bitcoin.
Veja que a maioria dos comerciantes converte automaticamente seus Bitcoin em dinheiro, fazendo a aceitação do Bitcoin completamente inútil. Aceitar a Criptomoeda é mais uma peça barata de publicidade pontual do que um elemento do negócio.
Fãs do Bitcoin amam comparar sua tecnologia com a da Internet, embora existam muitos problemas com isso. O primeiro deles é comparar maçãs com laranjas, misturando a tecnologia em si com um caso de uso dela. O Bitcoin possui mais em comum com uma empresa de Internet do que com toda a tecnologia por trás da internet.
Fãs do Bitcoin parecem ter esquecido (ou são muito jovens para lembrar) que durante os anos 90 houve uma expressiva bolha nas empresas de tecnologia, cercadas de promessas milagrosas de mudança radical na forma como vivemos e tudo terminou em absolutamente nada (eu vou deixar o paralelo com o Bitcoin para vocês desenharem). O fato de a internet ser uma tecnologia revolucionária simplesmente não impediu várias empresas de colapsarem.
A maior diferença entre a internet e o Bitcoin é que a internet oferece uma vantagem que ninguém mais pode oferecer. Você pode enviar e receber informação de forma livre ao redor do mundo. As vantagens do e-mail sobre os correios convencionais são evidentes e muito grandes.
A vantagem do Bitcoin não é clara. Se eu quero comprar algo online, eu já tenho a disposição cartões de crédito e débito ou o PayPal. Se eu quero enviar dinheiro, posso fazer através do sistema bancário. A tecnologia já está aí, a única coisa que o Bitcoin tenta fazer é substituir as tarifas bancárias pelas tarifas das exchanges.
Fãs do Bitcoin estão ficando desesperados para defender sua moeda. Alguns dizem que, apesar do colapso, o preço hoje é maior do que era a dois anos atrás.
É óbvio que é, há dois anos ninguém tinha ouvido falar da Criptomoeda e a coisas estavam começando a se espalhar. É assim com todas as startups, surgem do nada e registram um enorme crescimento no início. Por exemplo, eu vou criar minha própria moeda e convencer meu amigo a usá-la e isso representa 100% de crescimento, o que é um número impressionante para eu mostrar ao mundo.
Depois de anos de crescimento infinito o Bitcoin me faz lembrar os políticos dizendo que a crise de 2008 não foi tão ruim assim porque a economia voltou apenas para os níveis de 2003.
Alguns alegam que uma das vantagens do Bitcoin é ser barato, o que não é verdade, o Bitcoin é altamente subsidiado. As transações de Bitcoin só são realizadas depois de confirmadas pelos mineradores. Os mineradores não fazem esse trabalho por caridade, mas porque recebem Bitcoin em troca.
Esse sistema vai funcionar enquanto o preço do Bitcoin estiver alto, pois quando o preço do Bitcoin cair muito, a mineração se tornará inviável e os mineradores passarão a exigir taxas de transação mais altas forçando os usuários a pagar ou então eles desligarão os mineradores. De um modo ou de outro implica custos mais altos ou em serviço mais lento.
A mineração de Bitcoin é um problema em si. Para criar/minerar Bitcoin são necessários computadores especiais com alto poder de processamento. Por razões de escala, esses computadores estão concentrados nas mãos de poucos que frequentemente ameaçam controlar todo o sistema. Para não ficar muito complicado, explico que se 51% do poder de mineração do Bitcoin estiver nas mãos de um único grupo, ele pode efetivamente destruir o Bitcoin.
Outro problema da mineração são os custos, além dos equipamentos, da eletricidade. Se o preço do Bitcoin cair aquém do custo de mineração não será economicamente viável continuar a mineração. Se os mineradores pararem as transações não serão mais processadas. Os preços decrescentes do Bitcoin podem levar os mineradores para a espiral da morte, onde mineradores param porque os preços estão muito baixos, as transações não serão processadas fazendo com que as pessoas abandonem o Bitcoin, levando os preços ainda mais para baixo.
Uma das coisas mais ridículas e inexplicáveis na comunidade do Bitcoin é a ideia de que algum dia o Bitcoin será utilizado por bilhões de pessoas, em especial no terceiro mundo onde não há acesso ao sistema bancário. A ideia de que pessoas extremamente pobres com acesso limitado às necessidades básicas terão acesso à tecnologia e serão aptas a usá-la é risível. É uma ilusão acreditar que o Bitcoin será salvo por pessoas sem acesso à água corrente. As pessoas do terceiro mundo têm preocupações maiores que um sistema de dinheiro eletrônico descentralizado.
Muitos fãs do Bitcoin tem a infeliz ideia que o Bitcoin de algum modo desafia o sistema bancário tradicional. Talvez, essas pessoas não sejam familiarizadas com o funcionamento do sistema bancário, porque mesmo que todos utilizassem o Bitcoin, ainda seria necessário crédito e poupança. Remessas internacionais são uma pequena fração do negócio e mesmo que os bancos percam esse nicho, eles não iriam à falência.
A crise de 2008 seria muito pior se o Bitcoin fosse a moeda mundial e não o Dólar. A bolha imobiliária teria ocorrido da mesma forma, bancos teriam sido igualmente gananciosos e salvá-los seria igualmente necessário. Com certeza o sistema bancário precisa de reformas, mas não é o Bitcoin que irá promovê-las.
Um dos sinais de que o Bitcoin está morrendo é que ninguém usa a moeda. Registros mostram que uma parcela insignificante dos Bitcoin é utilizada de forma diária ou semanal. Meros 10% são utilizados dentro de um mês e mais de 70% não são movimentados há mais de seis meses. Uma moeda que ninguém usa está destinada ao fracasso. Vejam na história, ele nunca atendeu aos critérios básicos de uma moeda e é meramente um investimento especulativo (fique rico rapidamente).
Alguns afirmam que o Bitcoin não importa e que o que realmente importa é o Blockchain. Aparentemente é um novo sistema de registro que mudará o mundo. Talvez contadores estejam empolgados com as possibilidades, mas o publico em geral não está nem aí.
Porque uma empresa gostaria de ver todo seu histórico de registros em uma plataforma pública quando a informação é particular? Afirmar que o blockchain é revolucionário mostra desespero, é como ver um homem se afogando e jogar canudinhos para ele. O Bitcoin está afundando e não será o blockchain que irá salvá-lo.
Outro argumento comum é que o Bitcoin protege contra a inflação ou como proteção contra os malvados bancos centrais que roubam o seu patrimônio através da impressão de dinheiro.
O argumento comum entre libertários e economistas austríacos foi adotado pelos fãs do Bitcoin a partir de 2009 e principalmente com o Quantitative Easing (estratégia de salvamento da economia utilizada pelo banco central americano a partir da crise de 2008) mas perdeu totalmente sua credibilidade. O tal tsunami hiperinflacionário que supostamente destruiria o dólar nunca veio, pelo contrário, a inflação está sob controle como sempre esteve nos últimos 30 anos, que faz dos profetas do apocalipse apenas tolos.
O Bitcoin é essencialmente uma aposta que as moedas (em especial o Dólar) sofreriam com a inflação, se não uma hiperinflação. Como experimento econômico foi interessante, mas o veredito é claro, ele falhou.
A ausência de controle sobre o suprimento de Bitcoin se tornou uma fraqueza e não uma força. A demanda por Bitcoin caiu drasticamente e teria sido necessário congelar ou estabilizar a emissão. Pelo contrário, a emissão continuou e aumentar a oferta em um mercado sem demanda amplifica o problema. A ironia das ironias, o Bitcoin, desenhado por pessoas que desprezam a habilidade de bancos centrais em imprimir dinheiro será morto pelo excesso de emissão de Bitcoin. Ao menos fica uma lição do quão importante é deixar a política monetária a cargo dos bancos centrais para ajustar a emissão de acordo com as necessidades da economia.
Tudo isso sem falar nas fraudes e roubos na comunidade do Bitcoin. “Seja seu próprio banco” foi de slogan para uma advertência contra o roubo, se você não quer ser assaltado, é necessário que você esteja seguro como um banco. Muitos usuários do Bitcoin possuem gastos expressivos com segurança e correm para criar cold-wallets (carteira em papel ou hardware), o que essencialmente significa que o revolucionário dinheiro da internet somente está seguro se estiver fora da internet.
Eu poderia escrever um livro com todas as falhas do Bitcoin e porque ele nunca vai dar certo. Ele teve seus 15 minutos de fama e agora todos foram embora. A comunidade está encolhendo e crescem as tentativas desesperadas de mostrar que está tudo bem.
Moedas precisam de efeitos de rede para se sustentar, se ninguém usa não existem razões para você usar e por esse motivo o efeito de rede do Bitcoin está acabando os preços estão destinados a continuar sua marcha para baixo. Esse foi o último ano que o Bitcoin foi tratado com seriedade. Se o Bitcoin vai desaparecer com um estrondo ou com um gemido eu não sei, mas o fim está próximo.
(fim)
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Vamos ao meu comentário… A quem interessar possa, esse texto foi publicado em 5 de Fevereiro de 2015 após um 2014 muito difícil em que o Bitcoin caiu de mais de USD 1.200 para menos de USD 200 em 12 meses (se algo lhe parece familiar é porque é familiar).
Robert capitulou, desistiu do mercado para nunca mais voltar. Deixou na mesa ganhos entre 16 e 100x nos três anos seguintes. Não acreditou no médio prazo.
Da bolha pontocom surgiram Google, Facebook, Oracle e Amazon… Assim como foi na bolha da tecnologia é simplista dizer que tudo acabou para as Criptomoedas. Ao contrário do que o autor afirma nosso estilo de vida foi alterado sim pelo Google e Cia…
Da mineração vem uma das coisas mais belas do Bitcoin, capitalismo na essência. A dificuldade em se minerar um bloco se ajusta para mais e para menos equilibrando o sistema. Se uma parte dos mineradores desiste, a parte que sobra passa a ganhar mais, automaticamente, pelo mesmo serviço, estimulando a entrada de novos mineradores. Se tiver minerador demais, a dificuldade sobe e a concorrência resulta na busca de eficiência ou na desistência dos menos eficientes.
Os ciclos da Criptoeconomia tem se repetido e muito provavelmente se repetirão mais algumas vezes. Compre Criptomoeda hoje, e como me disse um grande amigo, daqui alguns anos vão dizer que você “teve sorte”.