Na última semana de Novembro a HashInvest esteve na Consensus Invest, o encontro anual dos investidores profissionais em Criptomoedas, num anti-climáx total, sobrou pouca gente para ver o que vai acontecer com esse mercado. Apesar do clima ruim, foi a melhor oportunidade do ano para conferir o que esperar do Bitcoin e das Criptomoedas para 2019.
Se em quantidade o evento foi um fracasso, talvez 1/3 do público da edição anterior (muitos sucumbiram ao urso e voltaram para suas atividades pré-criptomoedas) em qualidade foi um sucesso, pois os que restaram formam um grupo de excelente capacidade técnica.
Nesse ano, nada de promotores de ICOs interrompendo as rodas de conversa para promover a solução mágica de um problema que não existe usando o blockchain com IoT e inteligência artificial.
Não, não foi o Hardfork do Bitcoin Cash que implodiu o mercado…
Ninguém, absolutamente ninguém sabe porque as Criptomoedas derreteram. Estou falando de bilionários, investidores profissionais, gestores de Wall Street com 9 dígitos sob gestão, desenvolvedores do Bitcoin, ou seja, se aquele relatório pago está te contando “porque o Bitcoin caiu” e “qual será o próximo Bitcoin fora do radar” você já está avisado que se trata da forma mais primitiva de fraude.
Obviamente, o preço do Bitcoin deu o tom de velório da conferência, mas fora a questão do preço, excelentes painéis com grandes executivos e algumas das mais brilhantes mentes atuantes no mercado ocorreram nos palcos. A pauta desse ano foi focada em dois pilares: Regulação e investimento institucional.
Vamos começar com um peso pesado, Jeff Sprecher é fundador da Intercontinetal Exchange (ICE), nada menos que a dona da Bolsa de Nova Iorque. Ele dividiu o palco com Kelly Loeffler, escolhida por ele para ser CEO da Bakkt, que irá negociar futuros de Bitcoin a partir de 24 de Janeiro de 2019.
Em meio a essa crise que vivemos escutar Jeff falar alimenta os fiapos de esperança. De acordo com o veterano dos mercados, as Criptomoedas estão aqui para ficar, não vão morrer porque o preço hoje é 80% menor que seu pico e construir infraestrutura institucional leva tempo e dinheiro. A mensagem que ele passou é que, para as grandes instituições, hoje, pouco importa se o Bitcoin está cotado a 1 mil ou a 100 mil dólares, o que interessa é que existam trilhos para suportar o fluxo de entrada e saída de dinheiro.
Exatamente esse mesmo ponto sobre os preços foi levantado por Jan van Eck, dono da bilionária gestora que está tentando aprovar um ETF (fundo de investimento em índice listado em bolsa) de Bitcoin junto a SEC (regulador americano equivalente a nossa CVM). O trabalho de van Eck é ingrato porque o regulador é subjetivo e as demandas são fracionadas, ou seja, toda vez que o projeto bate na trave vem um novo pacotinho de solicitações que não haviam sido feitas antes. A estratégia é a de apanhar e continuar de pé, pega o pacotinho, volta pra casa e cumpre cada nova etapa solicitada.
A parte boa é que ao que parece nem mesmo a SEC parece estar tendo criatividade extra para criar muitas barreiras a mais e o ETF deve sair em 2019 ou mais tardar 2020. A gestora vanEck anunciou também que será parceira responsável pela operação da Nasdaq, que também vai listar Criptomoedas em 2019 – sim, você leu direito, a Nasdaq, a segunda maior bolsa americana vai listar Criptomoedas.
O chairman da SEC, Jay Clayton também esteve no palco da Consensus no painel mais concorrido do evento. Todos queriam ouvir da boca dele seus pensamentos a respeito do ETF, das ICOs, do Bitcoin e do XRP.
A notícia boa é que para Clayton (e consequentemente para a SEC) o Bitcoin não é valor mobiliário, e na visão do regulador é uma commodity. Aplausos interromperam o bate papo quando Jay Clayton afirmou que “não é porque o Bitcoin foi feito para substituir o dólar ou o euro que ele precisa necessariamente ter as mesmas características. Um substituto pode muito bem cumprir a mesma função tendo características diferentes e peculiares”. A galera foi ao delírio.
Para com as ICOs a história é bem diferente. Aos olhos da SEC as ICOs são emissões de valores mobiliários. Se alguém vende tokens para financiar um projeto com a promessa de lucro ou valorização do token, ele é valor mobiliário.
Nenhuma ilegalidade, desde que o emissor passe pela SEC para registrar sua emissão antes de vender suas moedas, e obviamente, cumpra com toda a carga regulatória exigida para tal atividade.
Quanto o XRP, ele elegantemente desconversou. Um regulador não pode falar sobre casos que estão tramitando na casa e o XRP é um deles. Resignou-se a dizer que é um caso muito particular que não se encaixa nos dois anteriores e que a turma do Ripple é bem-vinda para discutir com a SEC. Eu me reservo ao direito de especular que algo já deve estar muito bem encaminhado entre Ripple e SEC e será divulgado em breve.
Na discussão sobre os ETF a SEC foi contundente, se for provado que a descoberta de preço (isenta de manipulação) pode ser feita de forma profissional e transparente (leia-se depois que a Bakkt estiver operando, ela será a grande fornecedora de preços ao mercado) e a custódia for feita com segurança (o estado de Nova York já emitiu meia dúzia de licenças para custódia profissional) o ETF muito provavelmente será aprovado.
Outra turma que se prepara para entrar nas Criptomoedas em 2019 é a Fidelity Investments, o maior gestor de investimentos no varejo dos Estados Unidos. De acordo com o executivo da Fidelity, seus clientes não estão interessados nos atributos principais do Bitcoin como descentralização ou resistência a censura, o que os clientes deles querem é simplesmente diversificar em uma classe de investimento alternativa, e para isso querem contar com a Fidelity, ou seja, querem a empresa como intermediária no processo.
Não é pouca coisa, a Fidelity possui dezenas de milhões de clientes e Trilhões de dólares sob gestão e sozinha pode catapultar o mercado inteiro de Criptoativos.
Conclusões
Você quer saber se o preço do Bitcoin vai continuar a derreter? Eu também quero e não sei te responder. O Bitcoin vai a mil dólares? Pode ser que sim, mas muito provavelmente não, e não é esse o ponto principal da conversa, ou seja, tente tolerar a dor e ignorar um pouco os preços de curto prazo e vou repetir algumas coisas que comentei no twitter quando estava no evento.
Se você sobreviveu até agora e está pensando em desistir das Criptomoedas, não te culpo, mas agora é mais inteligente esperar ao menos seis meses de operação de Bakkt, Fidelity, VanEck e Nasdaq antes de colocar a viola no saco.
São centenas de bilhões de dólares em potencial que podem entrar nas Criptomoedas em um espaço relativamente curto de tempo que podem levar o nosso mercado a outro nível. Se essas iniciativas derem erradas ou não derem o resultado esperado, pouca diferença vai fazer para quem já viu seus investimentos derretem mais de 80% desde o pico de valorização, a tal assimetria de risco.
Outra coisa muito importante é você ter em mente e concordar que criar infraestrutura para milhões de clientes com centenas de bilhões de dólares é diferente de programar uma exchange na garagem de casa, as bases de tempo são outras, as exigências são grandes e a construção dessas fundações leva tempo. 2018 foi ano de construir e 2019 será o ano de começar a ligar as máquinas – começar a ligar não significa uma varinha mágica que vai mudar o mercado do dia para a noite.
Nunca invista em ativos de risco aquele dinheiro que você não pode se dar ao luxo de perder, mas se você tem um dinheiro mensal sobrando para investir, fazer um preço médio do HASH5 nos atuais níveis pode ser muito recompensador daqui alguns anos.
Como escreveu John Heywood, dramaturgo inglês que viveu nos anos 1500, “Roma não foi construída em um dia”.