O Bitcoin é uma criança com pouco mais de 9 anos de idade, e seus feitos são sim notáveis. De forma bem resumida, em 2009 a Criptomoeda era uma pirraça de programadores e Chypherpunks… em 2013 ele passou a ser a moeda predileta para negociar no mercado negro da internet, em 2017 ele foi promovida a uma nova classe de ativos e virou investimento de verdade. O que esperar pra frente?
Pois então, fácil palpitar, difícil acertar. A missão de hoje não é prever e sim passar um panorama do clima e dos avanços em relação ao mercado para que nossos leitores e clientes tenham um pouco de munição a respeito do assunto para então decidirem suas apostas.
O que podemos ver são dois sentimentos paralelos e antagonistas, ambos crescentes, um muito positivo e outro muito negativo.
A começar pelo sentimento negativo, é impossível ignorar a derrocada dos preços. Há duas semanas cheguei a comentar no escritório que pela primeira vez no ano de 2018 eu estava sentindo o clima mais ameno, as vozes do mundo das Criptomoedas pareciam finalmente virar para um discurso mais positivo.
Durou pouco, o preço que estava na faixa de USD 8,5 mil caiu para baixo de USD 7 mil e com ele os ânimos da comunidade. A espiral negativa de preços parece não ter fim e o mercado parou até mesmo de responder as noticiais positivas. Notícias negativas derrubam os preços instantaneamente, notícias positivas têm efeito nulo… efeito típico de mercados do urso, já documentados em diversos mercados (e no próprio Bitcoin).
Um dos analistas mais respeitados do mundo das Criptomoedas, Tuur Demeester publicou essa semana um artigo no qual ele defende que dificilmente veremos novos recordes de preço do Bitcoin em 2018. Entre seus argumentos estão o declínio do número de transações comerciais usando a Criptomoeda e principalmente, a pressão que o atual custo de mineração do Bitcoin faz sobre os preços (para baixo).
Vale a pena explicar esse último argumento. De forma resumida e pouco técnica, o boom dos preços de novembro trouxe uma enxurrada de novos participantes ao mercado de mineração de Bitcoin. O algoritmo do Bitcoin se ajusta para acomodar todo o poder computacional disponível na rede (fica mais difícil e consequentemente mais caro minerar a Criptomoeda).
Na prática, soma-se o pico de capacidade de processamento com o declínio de 70% do preço e temos a lucratividade dessa atividade em queda de mais de 90% em 7 meses. Aquele minerador que tem suas máquinas um pouco mais antigas (e menos eficientes) certamente está no prejuízo com sua atividade. E o que isso quer dizer?
Quer dizer que se em novembro um minerador precisava vender uma pequena parte de seus lucros em Bitcoin para pagar a conta de energia elétrica e os custos operacionais, hoje ele precisa vender tudo e um pouco de suas reservas (acumuladas no final do ano), ou seja, todo novo Bitcoin minerado acaba por ir ao mercado quase que instantaneamente, causando grande pressão sobre os preços.
E não precisamos de um Nobel de economia para entender o mecanismo: O minerador despeja Bitcoin no mercado, o público em geral está com baixo interesse porque o preço caiu, há excesso de oferta e queda na demanda… Preços caem…
A beleza é que o mercado tende a se ajustar naturalmente. Mais cedo ou mais tarde, ou o preço do Bitcoin sobe e alimenta todos os mineradores com uma receita justa pela sua atividade, ou essa turma vai desligar os aparelhos da tomada, reduzindo a dificuldade e pagando corretamente aos que persistiram no ramo da mineração. É um processo lento, mas não há muito o que temer, o ajuste virá de um modo ou de outro.
Na outra ponta do panorama está o lado positivo, aliás, extremamente positivo do mercado. A infraestrutura cresce a taxas nunca vistas e em breve veremos novos atores entrarem no mercado.
Essa semana a dona da NYSE (Bolsa de Nova York) anunciou sua entrada no mercado de Criptomoedas, com custódia e operações de futuros, liquidadas em Bitcoin (isso é gigantesco). Parceiros desse projeto são a Microsoft e a Starbucks.
Starbucks? Sim, um tremendo reforço na massificação da Criptomoeda. Pasme, mas a cafeteria da sereia de duas caudas é a Fintech de maior tração dos Estados Unidos. O app de pagamentos da Starbucks tem mais de 24 milhões de usuários ativos, colocando no bolso concorrentes como Apple Pay e Google Pay (sim, bastante atrás dos 218 milhões de usuários do PayPal, mas nada desprezível).
A Bakkt, nova empresa do grupo dono da NYSE deve começar a operar em Novembro desse ano.
Há duas semanas foi noticiado pela gigante das finanças, a BlackRock (gestora de mais de 7 Trilhões de dólares), que ela montou seu grupo de estudos em Criptomoedas. Uma fração desse dinheiro já seria uma virada de mão para as Criptomoedas.
Na semana passada a Boerse Stuttgart, segunda maior bolsa da Alemanha também anunciou uma série de ferramentas de varejo, entre elas negociação e custódia. É a infra que falta para o alemão, conservador e endinheirado, entrar no mercado.
Além disso, o primeiro banco de Criptomoedas do mundo, o Galaxy Digital do bilionário Michael Novogratz fez sua IPO (com preços em queda, graças a queda do Bitcoin), mas é um avanço tremendo para o ecossistema, um “Banco de Criptomoedas” com ações listadas em bolsa.
E paralelamente, sem muito alarde, a lista de bancos (sim, bancos tradicionais, incluindo nossos Itaú e Bradesco) que estão implementado a infraestrutura do Ripple já passa de 200. Oitenta dos quais figurando na lista dos maiores do mundo.
Até o Goldman Sachs, ferrenho crítico do Bitcoin anunciou que está estudando a possibilidade de ter um serviço de custódia de Criptomoedas, por pressão vinda dos clientes institucionais que querem lançar fundos de investimentos atrelados a Criptomoedas (a legislação americana exige que a custódia seja feita por um banco).
Enfim, eu poderia listar aqui mais umas 50 iniciativas no campo da infraestrutura, na Coreia do Sul, Japão, Malta, Suécia… Está pipocando infraestrutura para Criptomoeda em todo canto do planeta.
Creio que o mercado vai virar quando todas essas iniciativas mudarem de status de “em desenvolvimento” para “operacionais”, o que deve acontecer em conjunto com a questão regulatória, que imagino estar bem equacionada, já que essa turma da infra não costuma jogar dinheiro fora. Na minha visão, muito dificilmente veremos essa virada ainda esse ano, mas lembre-se que quando a canoa virar você dificilmente terá tempo de se posicionar se estiver fora do mercado.
Na esfera do “eu acho”, para 2018, provavelmente mais monotonia, preços em queda e mais desinteresse. Se a sua causa é fazer um extra no curto prazo, provavelmente as Criptomoedas não tem muito o que acrescentar daqui até dezembro (e me desculpe o analisa gráfico que foi no Infomoney falar que o Bitcoin vai a USD 100 mil porque ele viu na borra de café, ops… no gráfico do Bitcoin).
Para o investidor de longo prazo, uma grande oportunidade de compra. Uma analogia que eu gosto é que a indústria está construindo estradas e pontes para depois pensar em construir a frota de automóveis.
Esse processo é agonizante, muitos querem ver os carros agora… Mas da forma como está se desenhando a coisa toda é muito mais inteligente, e provavelmente não haverá no mercado retornos tão expressivos quanto os que eventualmente vamos experimentar com o mercado de Criptomoedas.